Um dos grandes defensores e estudiosos da causa indígena no
Mato Grosso do Sul, Antônio Jacó Brand, de 62 anos, faleceu na manhã desta
terça-feira (3.7.). Logo após cirurgia no Hospital do Coração, em Porto Alegre,
para acertar um problema na válvula mitral (coração), procedimento considerado
simples pelos médicos, Brand sofreu um infarto e, no decorrer de dois dias, veio a falecer. O sepultamento ocorrerá em Montenegro (RS), cidade natal de
Brand.
Quando encontrei Antônio Brand, pela última vez, em Campo Grande,
falamos de tudo um pouco: do casamento da filha, dos projetos na Universidade
Católica Dom Bosco (UCDB), de Campo Grande/MS, onde era professor de diferentes
Programas de Graduação e Pós-Graduação. Falamos do tempo que estivemos juntos
em Brasília (Brand era meu sucessor como secretário do Cimi), das lutas pela
Constituinte, que ele travou com a companheirada do Cimi e da sociedade civil.
Falamos de sua aposentadoria, que deveria ocorrer em alguns anos, e da volta
para Porto Alegre, que planejava e onde tinha suas raízes.
O Cimi dividiu a vida de Antônio num tempo antes e outro,
depois. Antes era um dos muitos filhos de uma família católica, de origem
alemã, de Montenegro/RS. Uma de suas irmãs tornou-se religiosa e, como Irmã
Agada, Coordenadora Geral da Congregação das Missionárias Servas do Espírito
Santo (MSSpS). Antônio chegou até as portas do noviciado dos Jesuítas, mas logo
foi arrastado, com outros jovens do Sul, pela causa indígena para a Amazônia. A
Operação Anchieta (Opan), na época muito ligada ao Cimi, foi uma primeira
etapa. Depois se ligou diretamente ao Cimi, coordenou o Regional Mato Grosso
Sul, que foi desmembrado do Cimi Sul. Em 1983, foi eleito secretário do Cimi
Nacional, de Brasília. Até 1991 serviu nesse cargo à entidade, com zelo e
competência. Foram anos difíceis: campanha de calúnias do jornal Estado de S.
Paulo contra o Cimi, lutas para garantir direitos básicos para os povos
indígenas na nova Constituição, primeiras articulações da bancada ruralista.
Brand saiu de cabeça erguida do Cimi. Partiu para Porto
Alegre, onde cursou História na Unisinos (Universidade do Vale do Rio dos
Sinos); depois fez Mestrado e Doutorado em História pela PUC-RS (Pontifícia
Universidade Católica). Já em Mato Grosso do Sul, Brand dedicou-se à causa indígena,
com pesquisas e projetos junto à população kaiowá e guarani. Com realismo e
amabilidade travou muitas lutas pelos índios mato-grossenses. A última palavra,
Antônio Brand deu sempre aos Guarani Kaiowá, como no final de sua tese de
doutorado:
“A complexidade sócio-cultural verificada dentro das
Reservas kaiowá/guarani exige, que as diversas iniciativas de apoio externo
estejam firmemente ancoradas em sua história e cosmovisão. Por tudo isso,
significativa parte dos informantes concorda, certamente, com a afirmação de
Alice Oliveira, ao dizer que hoje `um pai já não sabe mais o que vai deixar de
herança para seus filhos.´”
Três (ex-)secretários do Cimi: Egydio Schwade, Antônio Brand, Paulo Suess |
Antônio,
A
bandeira segue em frente,
para que
a justiça seja feita
e a
terra demarcada!
Tua
travessia será calma,
tua chegada uma festa,
tua chegada uma festa,
Guarani
e Kaiowá
te
abrirão sua morada.
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