MISSÃO COLONIAL EM STAND BY: Os povos indígenas e a Igreja pós-conciliar

Este texto foi apresentado na Mesa Redonda: “Missões religiosas e povos indígenas no tempo presente” das “XIII Jornadas Internacionais sobre as Missões Jesuíticas. Fronteiras e identidades: povos indígenas e Missões religiosas”, organizadas pela Universidade Federal da Grande Dourados, Faculdade de Ciências Humanas, Programa de Pós-Graduação em História, Linha de Pesquisa História Indígena, no dia 2 de setembro 2010.
A colonização encontra nas instituições uma disponibilidade permanente para exercê-la, como colonização ativa que aliena o outro e como passiva, que permite às pessoas se deixarem colonizar. Hoje também é difícil resistir à disposição colonizadora no interior de sociedades e Igrejas globalizadas, aliciadas e mordidas por propaganda e mercadorias, por modernizações conservadoras e desejos de hegemonia que, em seu conjunto, induzem à violência. O espírito colonial, esse desejo de fazer prevalecer a força física ou simbólica sobre o outro, é uma forma de alienação embutida na sociedade burguesa. Essa sociedade transforma as relações humanas em relações de troca e relações de troca estabelecem equivalências. Mercadorias, valores e dinheiro se tornam conversíveis. Tudo o que não é conversível, tudo o que não tem preço, como a dignidade humana, sofre pressões de adaptação. Os povos indígenas sofrem essa pressão de adaptação, acomodação e integração. O que não é adaptável, portanto, o que não pode ser transformado em valor de troca, ou é eliminado ou transformado em folclore. A dupla violência do neocolonialismo está na tentativa de homogeneizar o mundo nos patamares de uma sociedade de classe. Trata-se, portanto, de uma igualdade cultural imposta em condições de subordinação e exploração social. A mentalidade colonizadora está sempre esperando a sua vez, à espreita nas suas tocas modernizadas, ou, com uma expressão do mundo já colonizado, está em stand by.
Autor: Paulo Suess

Encontro no Comina: Viver Bem - Sumak Kawsay – Reino de Deus

No encontro do Conselho Missionário Nacional (Comina), dia 16.08.2010, Brasília, foi apresentada uma reflexão sobre o "viver bem" como novo paradigma latino-americano e planetário:
No discurso público, o projeto de vida plena real para todos, desapareceu completamente. Vivemos não só num mundo pós-moderno, mas também num mundo pós-utópico. Exatamente neste momento pós-utópico emergiu em países latino-americanos muito pequenos e economicamente frágeis, a proposta de um projeto sócio-político alternativo.
Enquanto Brasil está competindo com os países com economias fortes, nas discussões constitucionais da Bolívia e do Equador irrompeu uma proposta que procura superar as políticas alinhadas com os projetos de hegemonia competitiva. Essa proposta, de origem kechwa, se articula em torno de um novo paradigma do “viver bem”, em kechwa, “sumak kawsay”. O “sumak kawsay” é uma utopia política não muito distante da nossa utopia do Reino. Ambos são precedidos ou representam um pachakuti, uma reviravolta em dimensões cósmicas. O pachakuti restabelece o equilíbrio perdido e abre o caminho para “viver em plenitude”.
Autor: Paulo Suess
Leia o texto integral:

Migração - imigração (Manu Chao - Clandestino)


Clandestino
Solo voy con mi pena. Sola va mi condena.Correr es mi destino.Para burlar la ley. Perdido en el corazón. De la grande Babylon. Me dicen el clandestino. Por no llevar papel. Pa' una ciudad del norte. Yo me fui a trabajar. Mi vida la dejé. Entre Ceuta y Gibraltar. Soy una raya en el mar. Fantasma en la ciudad. Mi vida va prohibida. Dice la autoridad. Solo voy con mi pena. Sola va mi condena. Correr es mi destino. Por no llevar papel.
Perdido en el corazón. De la grande Babylon. Me dicen el clandestino. Yo soy el quiebra ley. Mano Negra, clandestina. Peruano, clandestino. Africano, clandestino. Marijuana, ilegal.
Solo voy con mi pena. Sola va mi condena. Correr es mi destino. Para burlar la ley. Perdido en el corazón. De la grande Babylon. Me dicen el clandestino. Por no llevar papel.
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PAULO SUESS: "MIGRAÇÃO, IDENTIDADE, INTERCULTURAÇÃO: Teses e fragmentos para um discernimento teológico-pastoral"
A migração é atravessada por todas as questões cadentes da nossa civilização. Temas como territorialidade, urbanização, agronegócio, modelo de desenvolvimento, trabalho, sociedade de classe, identidade são como fios que formam um nó quase impossível de se desfazer. Para este texto, construído em forma de teses, foi proposto fazer um corte pela identidade e a interculturalidade, a partir do campo teológico-pastoral. Mesmo assim, no pedregulho da migração, todas as pás que procuram cavar fundo entortam. O resultado parece já estar pronto antes de se escrever a primeira linha, e aponta para duas opções: acabar com a migração ou acompanhá-la. O resultado, aparentemente impossível, questiona o sedentarismo eclesial e o estatuto sistêmico da prática pastoral.