AGENDA

Congresso Continental de Teologia Latino-Americana
Unisinos, São Leopoldo, 7 a 11.10.2012
 
Material para a Oficina 12: Teologia e Capitalismo
 

Entrevista IHU: Teologia e capitalismo: incompatíveis?

Paulo Suess reconhece que o sistema capitalista, que impõe suas regras de cima para baixo, cria uma monocultura colonizadora e aposta nos indivíduos em detrimento das comunidades, tendo uma aversão estrutural ao pensamento indutivo que dá voz de intervenção à realidade concreta.

 Por: Graziela Wolfart e Luis Carlos Dalla Rosa

 De que maneira teologia e capitalismo se relacionam, principalmente no cenário atual em que o capitalismo estaria supostamente em crise? Na expectativa de estabelecer essa relação, o teólogo Paulo Suess argumenta que a “crise do capitalismo que emerge do fim do ciclo de crescimento não significa que estamos caminhando para uma estagnação mortal. Precisamos pensar e investir em desenvolvimento sem crescimento. Isso significa que a humanidade precisa aprender a cultivar novos valores em novos horizontes, como comunitarismo versus individualismo, partilha versus acumulação, ócio e tempo livre versus negócio e mercantilização total, participação democrática real versus elitismo autoritário. São valores que se podem inspirar no Evangelho, mas que provavelmente só vamos aprender acuados por um colapso civilizatório”. Na entrevista que concedeu por e-mail à IHU On-Line ele acrescenta que “o sistema capitalista cria suas próprias fissuras, que exigem uma nova relação com a natureza, tecnologias e energias renováveis, novas relações sociais e mudanças na vida cotidiana, compreensão criativa e recreativa do trabalho em um novo sistema de produção e mudanças políticas institucionais”. E conclui: “apesar de todas as amarras institucionais, a teologia pode ter um papel emancipatório e jogar a flecha incendiária de seu pensamento na direção dos castelos velhos de um pensamento caducado que já não serve, e que talvez nunca serviu, de abrigo aos pobres”.

Paulo Suess nasceu na Alemanha. É doutor em Teologia Fundamental com um trabalho sobre catolicismo popular no Brasil. Em 1987 fundou o curso de Pós-Graduação em Missiologia, na Pontifícia Faculdade Nossa Senhora da Assunção, em São Paulo, onde foi coordenador até o fim de 2001. Recebeu o título de Doutor honoris causa, das Universidades de Bamberg (Alemanha, 1993) e Frankfurt (2004). É assessor teológico do Conselho Indigenista Missionário – Cimi e professor no ciclo de pós-graduação em missiologia, no Instituto Teológico de São Paulo – Itesp. Entre suas publicações, destaca-se Dicionário de Aparecida. 40 palavras-chave para uma leitura pastoral do Documento de Aparecida (São Paulo: Paulus, 2007). Saiba mais sobre ele acessando seu blog http://paulosuess.blogspot.com. Suess irá participar do Congresso Continental de Teologia, nos próximos dias 8, 9 e 10 de outubro, das 14h30min às 16h30min, falando a partir do tema “Teologia e capitalismo”. Acesse a programação completa em http://bit.ly/NMoI2N.

Confira a entrevista.

IHU On-Line – No atual contexto, como o senhor situa a relação entre teologia e capitalismo? Quais as problemáticas e temáticas centrais que emergem?

Paulo Suess – Em primeiro lugar, precisamos esclarecer de que teologia estamos falando. Falamos de uma teologia genericamente latino-americana ou genericamente católica? Falamos da Teologia da Libertação ou da teologia da prosperidade? Falamos da teologia índia ou de uma teologia neoescolástica? Todas essas teologias estão sendo oferecidas nas faculdades de teologia; umas favorecidas e outras questionadas por alguma instância do magistério. Segundo os pressupostos teológicos de cada uma delas, muda a proximidade entre teologia e capitalismo. Olhemos para a teologia índia. Pela intervenção do cardeal Levada , então prefeito da Congregação da Fé, sua mera menção no “Documento de Aparecida” (2007) foi proibida. A teologia índia tem uma relação de incompatibilidade com o sistema capitalista e suas ramificações neocoloniais, já que nele a visão do mundo, as práticas sociais e o sustento econômico dos povos indígenas não têm lugar. A incompatibilidade da teologia índia com o sistema capitalista e a proibição de sua menção no Documento de Aparecida indica certa “afinidade” entre o pensamento subjacente à proibição e o sistema capitalista. Os críticos da teologia índia e da Teologia da Libertação encontram dificuldade em aceitar os pressupostos de uma teologia indutiva, pluricultural e comunitária. O sistema capitalista, que impõe suas regras de cima para baixo, cria uma monocultura colonizadora e aposta nos indivíduos em detrimento das comunidades, tem uma aversão estrutural ao pensamento indutivo que dá voz de intervenção à realidade concreta. Resumidamente podemos dizer que no pensamento dedutivo na esfera teológica como na esfera político-econômica trata-se sempre de uma transferência do “capital” popular e dos mecanismos de controle e participação para as elites. À carência material nas periferias das grandes cidades e no interior corresponde, muitas vezes, a uma carência espiritual do povo, sem ministros autorizados que celebrem com ele a Eucaristia.

Uma igreja pobre, despojada e missionária

O Vaticano II, com seu programa de aggiornamento ao mundo (sem ser do mundo) e com sua virada popular estrutural, que encontrou suas expressões na eclesiologia do Povo de Deus, na liturgia versus populum e na pastoral de serviço e encarnação visava não só uma igreja dos pobres, mas uma igreja pobre, despojada e missionária. Hoje, esta visão está sendo inibida por movimentos e sinais que apontam na direção contrária. Decisões eclesiais, que dizem respeito a todos os fiéis, são cada vez mais tomadas nas mesas de dicastérios, sem participação do povo a que se referem. Um exemplo gritante é a questão dos diáconos da diocese de San Cristóbal de Las Casas (Chiapas, México). Faz mais de dez anos que essa diocese sofre intervenções naquilo que se refere à construção de uma igreja autóctone. Em carta de 26 de outubro de 2006, dirigida ao bispo local, o cardeal Arinze qualificou o projeto de uma igreja autóctone de “projeto ideológico”. A Igreja de Chiapas recebeu e continua recebendo intervenções permanentes no que se refere à quantidade de diáconos convenientes, sua formação, sua ordenação e, ultimamente, ao “Diretório Diocesano para o Diaconato Permanente da Diocese de San Cristóbal de las Casas”, que já estava desde 1999 orientando a pastoral diocesana. A intervenção ao Diretório termina com o seguinte veredito: “Como avaliação geral de todas essas observações se pode justamente concluir que o Diretório para o Diaconato Indígena Permanente da Diocese de San Cristóbal de las Casas, no México, não cumpre bem suas funções e é necessário fazer correções de fundo. Ao confrontar com as propostas da Teologia da Libertação de tipo indigenista, se nota uma clara influência desta teologia, perniciosa para a formação e o ministério dos Diáconos Permanentes”. Se na economia capitaneada pelo capitalismo assistimos certo autoritarismo de uma suposta infalibilidade dos tecnocratas e uma transferência das riquezas do povo para os ricos cada vez mais ricos e para os bancos, também na Igreja podemos observar uma concentração das decisões em instâncias burocráticas, distantes do povo simples. Essas instâncias tratam tópicos que fazem parte do depósito da fé da Igreja Católica, como “opção preferencial dos pobres, Comunidades Eclesiais de Base, igreja autóctone e sacerdócio comum dos fiéis”, com muitas reservas.

Uma formalidade não inocente

As questões do pensamento indutivo ou dedutivo podem parecer questões meramente formais. Mas tal formalidade não é semanticamente inocente. O fato de que, tendencialmente, todos pensam a partir da cadeira onde estão sentados, aponta para a necessidade de um deslocamento de muitas cadeiras de teologia. Se a Igreja assume ser o que ela é: um sinal profético de contradição neste mundo, imediatamente se configura a relação entre teologia e capitalismo como uma relação de incompatibilidade. Como não só permitir mas também incentivar participação, descentralização, cooperação? Como transformar as estruturas comunitárias que existem nas igrejas, nos diferentes conselhos e no sínodo, por exemplo, de instâncias consultivas em instâncias deliberativas? Como transformar estruturas de supervisão em estruturas de participação e inculturação? As perguntas configuram projetos.

IHU On-Line – Como o senhor descreve o capitalismo vigente? Ele está em crise ou os movimentos atuais apenas reforçam sua potência?

Paulo Suess – O capitalismo é um sistema baseado em expansão, exclusão e crescimento que se tornaram, num planeta limitado, pedras de tropeço. O modelo hegemônico desse crescimento se baseia em grandes extensões de terras, no maquinário, nos insumos químicos, nas sementes geneticamente modificadas, nas commodities; produz para o supermercado e para o mercado exterior. O desenvolvimento em torno de grandes projetos, que são grandes negócios para poucos, incorpora cada vez mais recursos naturais (terra e água). Esse modelo despreza os saberes das comunidades locais, empobrece os solos, contamina as águas, desemprega as pessoas e as obriga a assistir a transformação da biodiversidade de sua região, de suas terras e de sua produção familiar de subsistência em território para a pecuária e a monocultura. Por que esse sistema funcionou até hoje? O último ciclo da expansão colonial é a globalização: ocupação dos últimos territórios disponíveis, acumulação de riquezas baseada na exploração da mão de obra e na homogeneização cultural. Assistimos a um processo de ocupação dos espaços limitados que ainda restam em cada país (Amazônia, terras indígenas, zonas subterrâneas de minérios), e cujo esgotamento é previsível. Os investimentos em propriedades (terra, acesso à água) e uma reprimarização (commodities, produtos não industrializados) em vez de produção industrial voltaram a ser hegemônicos. Pensar em industrialização versus reprimarização, no entanto, significa pensar também em esquemas sem futuro. Por um determinado tempo, tecnologias e mercados internos podem ainda garantir taxas razoáveis de crescimento, em torno de 3%, mas os mercados vinculados a esse crescimento estão viciados pelo capital fictício (mercados de ações, negócios financeiros, dívidas) e pela violação de princípios éticos e racionais básicos (desigualdade social crescente, corrupção, terceirização de serviços em condições escandalosas, destruição do meio ambiente, alinhamento da mídia e da estrutura democrática ao grande capital). A crise do capitalismo que emerge do fim do ciclo de crescimento não significa que estamos caminhando para uma estagnação mortal. Precisamos pensar e investir em desenvolvimento sem crescimento. Isso significa que a humanidade precisa aprender a cultivar novos valores em novos horizontes, como comunitarismo versus individualismo, partilha versus acumulação, ócio e tempo livre versus negócio e mercantilização total, participação democrática real versus elitismo autoritário. São valores que se podem inspirar no Evangelho, mas que provavelmente só vamos aprender acuados por um colapso civilizatório.

IHU On-Line – Diante de um capitalismo que se apresenta como pensamento único – o sistema econômico “vencedor” –, como a teologia pode ser uma fissura ou espaço de articulação de outros “mundos possíveis”?

Paulo Suess – Nenhuma ação acontece sem contradição. O suposto sistema econômico vencedor, por não ter derrotado seu sistema oposto, que o obrigou através de uma legislação laboral e de sindicatos a uma honestidade mínima, já incorpora todos os germes de um sistema “perdedor”. A migração mundial nos mostra que não existem mais ilhas de bem-estar social protegidas por fronteiras do Estado nacional. O sistema capitalista cria suas próprias fissuras, que exigem uma nova relação com a natureza, tecnologias e energias renováveis, novas relações sociais e mudanças na vida cotidiana, compreensão criativa e recreativa do trabalho em um novo sistema de produção e mudanças políticas institucionais. As disfuncionalidades sistêmicas desafiam a reflexão teológica e nos permitem meter a cunha de um pensamento alternativo nas veias de areia que perpassam a rocha do capitalismo.

A teologia pode indicar um horizonte de outros mundos possíveis, porém não será a sua construtora. Por sua conexão eclesial e institucional, a teologia encontra seu espaço no território que ela contesta. Vive, assim, o dilema de precisar cortar o galho da árvore onde está assentada. O outro mundo possível, que há de ser um mundo para todos, envolve o próprio mundo e as condições privilegiadas da produção teológica. Mas, apesar de todas as amarras institucionais, a teologia pode ter um papel emancipatório e jogar a flecha incendiária de seu pensamento na direção dos castelos velhos de um pensamento caducado que já não serve, e que talvez nunca serviu, de abrigo aos pobres. Ao contribuir para uma ruptura sistêmica, a teologia pode ser a memória viva do germe revolucionário de seu fundador que, “veio para lançar fogo sobre a terra” (Lc 12,49).

IHU On-Line – A seu ver, como a Igreja tem se posicionado em face das situações de exclusão, de injustiça, de morte, geradas pelo sistema capitalista? Como ela pode ser sinal de esperança e possibilidade de resposta aos desafios que nascem da ordem econômica vigente?

Paulo Suess – Por algum tempo, as instituições podem “suportar” profetas em seu seio, mas sem nunca serem proféticas. Tampouco a Igreja, como instituição, é profética. Para garantir a sua sobrevivência, a instituição eclesial está demasiado envolvida em estruturas políticas e no próprio sistema capitalista, o qual, por conseguinte, não consegue criticar fundamentalmente. Por outro lado e pelos seus próprios princípios, a Igreja institucional quer um mundo justo sem exclusão, sem violência e investe muito na cura das feridas dos excluídos e injustiçados, sem tocar, porém, nas causas sistêmicas. No interior das Igrejas, vivemos ainda certo fatalismo que acredita que à base da misericórdia microestrutural se pode mudar aquilo que o Evangelho exige. Em todos os tempos, a Igreja construiu “Casas de Misericórdia” e preferiu as atividades apolíticas e, ao mesmo tempo, heroicas de uma Madre Teresa aos sermões proféticos de um Oscar Romero. Seguindo o Evangelho de Jesus, descobriremos uma misericórdia política, uma profecia misericordiosa e uma compaixão com os crucificados na história. A compaixão eclesial com os pobres emana de seu campo próprio, que é o campo simbólico e imaginário. Ela não é construtora de um paraíso terrestre, mas emite, como Jesus, sinais concretos de abertura, justiça e transformação. Ela não substitui a luta por um mundo melhor por uma “cesta básica celeste”, que faria desnecessário o próprio esforço de ação e reflexão.

Sinais de esperança e de contradição

Sinais de esperança que nascem como respostas aos desafios impostos pela ordem econômica vigente são sinais de contradição (cf. Lc 2,34). “Por que vieste incomodar-nos?”, pergunta o cardeal-inquisidor de Dostoievski a Jesus: “Tu querias um povo em liberdade e abriste mão das três únicas forças que podem subjugar o povo: o milagre em benefício próprio, o mistério para confundir o outro e a autoridade para subjugar os pobres!”. “Por que vieste incomodar-nos?”, perguntaram a dom Luís Cappio , em dezembro de 2007, o pobre bispo franciscano da diocese de Barra-BA, que através de uma greve de fome queria impedir a transposição do rio São Francisco, que empobreceria ainda mais ribeirinhos e povos indígenas da região. “Por que vieste incomodar-nos”? Em tempo de Natal e fim de ano, época de mesas fartas, a greve de fome de dom Luís Cappio realmente incomodou o clima geral do consumismo. Os incomodados procuravam “saídas honrosas”. Quem começa uma greve de fome, que é um instrumento de luta da não violência, não sabe como vai terminar. O objetivo não é “ganhar” a luta. O objetivo é fazer avançar uma causa. Com a visibilidade de sua figura quase invisível, Frei Cappio fez avançar a causa dos ribeirinhos, dos povos indígenas e dos quilombolas do rio São Francisco. Ao partilhar simbolicamente a austeridade de sua vida e lutar por água para os sedentos, Luís Cappio se tornou ícone de esperança e sinal de justiça maior. Através do silêncio, da oração e do jejum na Igrejinha de São Francisco, em Sobradinho-BA, ele nos motivou novamente a acreditar na presença de um Deus que se despojou para caber ao lado dos pequenos. Vivemos de pobres sinais que reforçam nossas lutas: das romarias da Terra, do Grito dos Excluídos, do jejum e da oração, da mística nos assentamentos do MST, das celebrações dos nossos mártires, da Eucaristia. A luta continua porque os demônios continuam soltos. Por hora, a Cobra Grande, que se escondeu nos rios São Francisco, Araguaia, Xingu/Amazonas, encontrou em Luís Cappio, Pedro Casaldáliga e Erwin Kräutler guerreiros valentes, que nos convocam à construção de um mundo no qual não haverá mais necessidade de gestos heroicos, porque nesse mundo o desespero coincide com a esperança. A esperança, sinal profético de contradição e contestação sistêmica, nos foi dada por causa dos desesperados.

IHU On-Line – Olhando para o contexto latino-americano, em que medida a Teologia da Libertação continua atual, como uma teologia comprometida com os excluídos ou “sobrantes” da dinâmica do descartável, característica presente na sociedade de consumo capitalista? Quais as perspectivas que se apresentam?

Paulo Suess – A Teologia da Libertação se encontra num processo histórico permanente que a permitiu escapar de uma escolástica de libertação e de cristalizações teológicas fundacionais. Em grandes passos, o magistério latino-americano e a Teologia da Libertação andaram de braços dados, desde Medellín (1968), que enfatizou “libertação” e “opção pelos pobres”, passando por Puebla (1979), com as palavras-chave de “comunhão e participação”, e definindo a “assunção” da alteridade como pressuposto da redenção universal (Puebla, 400). Em Santo Domingo (1992), a inculturação ganhou certo destaque, e Aparecida (2007) resume a caminhada latino-americana assumindo com a natureza missionária dos batizados a responsabilidade de uma Igreja samaritana como advogada dos pobres. Através dessa historicidade assumida, a Teologia da Libertação continua atual em seu caráter antissistêmico e profético. Excluídos e sobrantes são produtos sistêmicos. Os povos indígenas são sistemicamente insustentáveis, porque rejeitam pressupostos básicos do capitalismo: competição, acumulação, monoculturalismo, elitismo e sobrevivência individual. Por conseguinte, a Teologia da Libertação é uma aliada natural de todos os movimentos de base que lutam pela redistribuição dos bens e pelo reconhecimento da alteridade. A perspectiva que a integração dos pobres e dos outros nas respectivas sociedades nacionais atreladas ao capitalismo oferece é a divisão numa sociedade de classes e a unificação obrigatória na monocultura do mercado globalizado. Ao acolher teológica e pastoralmente as lutas dos pobres e dos outros, a Teologia da Libertação coloca as reflexões pastorais novamente da cabeça aos pés e o chão concreto dos conflitos sociais.

IHU On-Line – Diante da realidade social vigente, o que significa ser “Igreja missionária”? O que significa “evangelizar”?

Paulo Suess – Para o teólogo, o significado da missão se esclarece na relação entre Deus e a humanidade. Essa relação, no interior de uma história de salvação, é uma história de aproximação, comunicação, convocação e solidariedade, mas que é sempre ameaçada pela ruptura do pecado: pelo distanciamento e pelo fechamento, pela dispersão e pelo egoísmo. Os autores bíblicos descrevem Deus como um Deus das Alianças em favor da vida. A história de salvação é uma história de libertação. Nos grandes mistérios dessa história, lembramos e celebramos um longo processo histórico, em que Deus realiza sua missão libertadora na aproximação ao seu povo, na costura das rupturas, na libertação da humanidade. Já as imagens da criação mostram essa libertação: a criação do mundo do caos, o discernimento entre trevas e luz, e a libertação do barro pelo espírito. A libertação é sempre um processo de criação, de discernimento e de assunção de um destino novo. No Verbo encarnado, o Deus criador se contextualiza como Emanuel, como “Deus Conosco”, prometido ao longo da história (Is 7,14; Mt 1,23; 28,20). O caminho que reconduz a humanidade ao Pai, desviando-a da dispersão, confusão e escuridão, passa pela encarnação do Filho. Nele se cumpriu o que foi dito pelo profeta Isaías: “O povo que jazia nas trevas viu uma grande luz” (Mt 4,16). Ele é o mediador de uma Nova Aliança (cf. Hb 9,15; 12,24) e de um caminho para uma nova humanidade (cf. Jo 14,6). A aproximação de Jesus-Emanuel (Deus salva/Deus conosco) culmina na doação redentora da vida “a fim de que aqueles que vivem não vivam mais para si, mas para aquele que morreu e ressuscitou por eles” (2Cor 5,15).

Ossos ressequidos

O seguimento de Jesus é, sobretudo, seguimento do Crucificado e Ressuscitado nos pobres, nos excluídos e em todos os sofredores. Eis a “natureza missionária” da Igreja. “Ela mesma se edifica como Igreja de Deus quando coloca no centro de suas preocupações não a si mesma, mas o Reino que ela anuncia como libertação de todos [...]” (DGAE/1995, n. 64). Ela tem a tarefa de “convocar e enviar servos e testemunhas do Reino”. Sob a senha do Reino, propõe um mundo sem periferia e sem centro. A Igreja é servidora do Reino. A missão é expressão da transitoriedade da Igreja, de sua caminhada histórica e peregrinação escatológica, com santos e pecadores. Suas realizações históricas são relativas em face do Reino. Necessitam, para não se tornarem “ossos ressequidos”, permanentemente da purificação, inspiração e animação do Espírito.

Para a América Latina cristianizada, Igreja missionária significa memória de um passado colonial ainda próximo e projeto de libertação em curso. A missão é de uma comunidade eclesial em defesa da vida. Diante da realidade social vigente, memória e projeto são constitutivos para a caminhada missionária. A memória rompe com a repetição obsessiva e a amnésia traumática. O projeto é a visão de outra sociedade que se inspira no sonho de sociedades alternativas nas quais prevalece a construção da pessoa sobre a produção de bens, o ócio sobre o negócio, a participação sobre a competição, a partilha sobre a acumulação, a liberdade sobre o controle. Nas sociedades indígenas existem vestígios desse sonho postos em realidade que mudam o conceito de pecado e de pobre. Pobre, para os Guarani, é aquele que não tem nada para dar. Pecador é aquele que não partilha o que tem. O enriquecimento através de especulações financeiras, que corrompem as pessoas, não faz sentido nessas sociedades.

A esperança contida na ressurreição de Jesus Cristo

A mensagem fundamental da missão é a esperança contida na ressurreição de Jesus Cristo como vitória da vida e da justiça. A esperança não deve ser imaginada como progresso quantitativo, numa sociedade em classes. No horizonte da esperança está uma sociedade que supera a divisão de classes sociais. Essa esperança não é nossa obra, mas nosso dom. Nós não construímos a esperança; nós a recebemos como dom, como energia que vai além de cálculos e benfeitorias humanas. O dom não dispensa o próprio esforço. Vivemos essa esperança na partilha dos bens e dos dons, nas causas do Reino que defendemos e na articulação dos poucos que somos. A missão é o permanente anúncio da vida como possibilidade num mundo de conflitos, de miséria, violência e mortes que não fazem sentido. Como afirmar na grande loja mundi de 24 horas, onde tudo tem o seu preço, que a Missão e o Evangelho são algo essencialmente diferente do marketing? Qual é a força do Evangelho junto àquela parcela da humanidade que vive desconectada do progresso e do bem-estar? Como cumprir essa missão de anunciar a vida e a esperança nesse mundo concreto, onde a miséria não é um acidente, mas um produto de sua organização social e de sua civilização? A partir da compreensão da missão como memória histórica, projeto de vida e seguimento de Jesus, e a partir do lugar dos pobres e dos outros na América Latina, o Evangelho da esperança pode mudar a visão dos peregrinos. A partilha da experiência entre peregrinos, que chegam dos vales de resistência da vida contra a morte, aponta para novas possibilidades. A partilha desarmada e atenta desmonta a leitura ideológica, heroica ou até depressiva da caminhada. Enfim, quem viu a morte face a face sabe que a vida pode vencer. Todos somos eternos peregrinos “mutantes”, herdeiros de Heráclito, de Jesus-Caminho e de nômades indígenas. Em sua contextualidade universal, a prática pastoral da Igreja missionária pode ser pensada como alternativa à colonização cultural e à exclusão social. A alternativa se baseia primeiramente no princípio fundamental do Evangelho: a prática do amor maior e o anúncio do Reino como “libertação do cativeiro da corrupção” (cf. LG 9); em segundo lugar, na compreensão da unidade global como articulação de múltiplos projetos de vida com horizontes diferentes, porém não eliminatórios, uns em face de outros; em terceiro lugar, na articulação da vida local e do projeto específico com a responsabilidade universal pelo conjunto da humanidade e do planeta Terra. Esse projeto da missão participativa, alternativa, libertadora e inserida no mundo nos aproxima do projeto do “bem viver” de Abya Yala. Abya Yala pode mudar nossa visão. Mudando a visão, transforma-se a realidade.

IHU On-Line – O senhor gostaria de comentar mais algum aspecto que não lhe foi perguntado?

Paulo Suess – A indignação é o ponto de partida da missão de esperança. Partilhamos essa indignação com o Povo de Seattle (1999), com os peregrinos do Fórum Social Mundial (2001), de Porto Alegre, com o Povo da Primavera Árabe, com Os Indignados, de Madri (2011; 15-M), com os que gritam Ocupa Wall Street (2011), nos Estados Unidos, com o Grito dos Excluídos e Excluídas e com o movimento Ficha Limpa, no Brasil. A novidade desses movimentos está na crítica radical da representação política. É um grito de jovens, em sua maioria, que não se deixaram anestesiar pelo consumismo e que querem participar no reordenamento de um novo projeto civilizatório. Os indignados são um dos sinais do tempo; hoje, sinal de justiça, imagem de esperança e sonhos de um mundo novo. Vieram para nos incomodar.

Leia mais...

>> Paulo Suess já concedeu outras entrevistas à IHU On-Line. Confira:

• “Missas e ministros midiáticos, alinhados a padrões de marketing, podem destruir o sagrado”. Edição 398 da revista IHU On-Line, de 13-08-2012, disponível em http://bit.ly/Nu4IyZ

• Desafio do “Bem Viver”. Horizonte político e imperativo profético. Notícias do Dia 04-11-2011, disponível em http://bit.ly/OaFv07;

• Medellín, Puebla, Aparecida e Santo Domingo: a luta pelos pobres e pela libertação. Edição 267 da revista IHU On-Line, de 04-08-2008, disponível em http://bit.ly/P9onYC;

• “Deus ocupa o espaço que nós lhe damos, Ele entra onde nós abrimos as portas”. Entrevista especial com Paulo Suess. Notícias do Dia 22-08-2008, disponível em http://bit.ly/MGxCzA;

• “Os pobres são contemporâneos de Aparecida”. Edição 217 da revista IHU On-Line, de 17-04-2007, disponível em http://bit.ly/NjLvCb

>> Ele também é autor dos Cadernos Teologia Pública n. 18, de 2005, intitulado “Do ter missões ao ser missionário. Contexto e texto do decreto Ad Gentes revisitado 40 anos depois do Vaticano II”, disponível em http://bit.ly/Nbw2Bj
 
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Segunda, 01 de outubro de 2012

“O capitalismo brasileiro – ornitorrinco – gera o Brasil invertebrado!” Entrevista especial com Reinaldo Gonçalves

Os 40 anos do livro A economia brasileira: crítica à razão dualista de Francisco de Oliveira é comentado pelo economista. "Penso que ele transcende o próprio esquema analítico marxista. Se Marx tivesse lido a Crítica da Razão Dualista teria aprendido a escapar de esquemas binários que aparecem em algumas de suas obras".

Em 1972, Francisco de Oliveira, sociólogo, lançava o livro A economia brasileira: crítica à razão dualista.
Trata-se de um livro fundamental para a análise da atual realidade brasileira, não somente pela questão do método como também das ideias-chave, afirma Reinaldo Gonçalves, economista, em entrevista concedida por e-mail à IHU On-Line.
Segundo ele, “no início do século XXI, o Brasil é a simbiose entre o moderno e o arcaico, é o capitalismo malformado-ornitorrinco marcado por ineficiência sistêmica, que depende cada vez mais do setor primário-exportador e que se sustenta com a hegemonia às avessas”.
O Modelo Liberal Periférico, no Brasil, se caracteriza, segundo o economista, na dimensão econômica, por “fraco desempenho; crescente vulnerabilidade externa estrutural; transformações estruturais que fragilizam e implicam volta ao passado; e ausência de mudanças ou de reformas que sejam eixos estruturantes do desenvolvimento de longo prazo”. E continua: “Nas dimensões social, ética, institucional e política desta trajetória observa-se: invertebramento da sociedade; deterioração do ethos; degradação das instituições e sistema político corrupto e clientelista. É o país do desenvolvimento às avessas”.


Confira a entrevista.

IHU On-Line – O que significa a “razão dualista” para Chico de Oliveira? No que consiste sua crítica a esse tipo de razão?

Reinaldo Gonçalves – A “razão dualista” é o confronto entre o moderno e o arcaico na discussão sobre desenvolvimento no Brasil e em outros países; é o vício metodológico de se reduzir processos, relações e estruturas ao modelo dual-estruturalista, ao esquema binário (zero ou um). A contribuição de Chico de Oliveira é a “crítica da razão dualista” que mostra a simbiose e a organicidade que existe na “unidade de contrários, em que o chamado ‘moderno’ cresce e se alimenta da existência do ‘atrasado’”. O moderno e o atrasado não são rivais distantes e, sim, irmãos xipófagos.

IHU On-Line – Podemos dizer que há uma nova forma de pensar a economia brasileira, com o livro Crítica à razão dualista, de Chico de Oliveira? Por quê?

Reinaldo Gonçalves – A importância do livro está na combinação rara de teses claras e importantes, criatividade, coragem intelectual (enfrentar autores e posições estabelecidos), rigor analítico e método. Por ser uma rara combinação, poucos foram os trabalhos posteriores que envolveram esta “nova forma de pensar”.

IHU On-Line – De que maneira Chico busca cruzar política, economia e sociedade brasileira e seus conflitos em sua obra Crítica à razão dualista?

Reinaldo Gonçalves – Penso que é na questão do método. E aqui está a grande contribuição de Chico de Oliveira ao longo de quatro décadas. Este método implica crítica ao economicismo, recurso à economia política (interação entre a busca de riqueza e poder), o rigor analítico (cartesiano, mesmo) e o exercício da dialética que joga com a unidade de contrários. O eixo estruturante do método são as conexões entre padrões de dominação, acumulação e distribuição em uma sociedade de classes.

IHU On-Line – Qual o principal objetivo dessa obra de Chico de Oliveira? Podemos dizer que ele busca fundar ou refundar uma leitura marxista da história do Brasil moderno? Por quê? Qual a tese central da obra?

Reinaldo Gonçalves – A tese central é a baseada na crítica do modelo dual-estruturalista cepalino que identifica contrastes e distanciamento entre o moderno e o atrasado. Chico demonstra o equívoco deste modelo. Insisto que a grande contribuição é metodológica: é a articulação rigorosa entre padrões de dominação, acumulação e distribuição. Penso que ele transcende o próprio esquema analítico marxista. Se Marx tivesse lido a Crítica da Razão Dualista teria aprendido a escapar de esquemas binários que aparecem em algumas de suas obras: classes sociais (capitalistas vs trabalhadores), causas de crises econômicas (tendência decrescente da taxa de lucro vs problema de realização), padrões de dominação (propriedade dos meios de produção vs não-propriedade) e atuação do Estado (comitê da classe capitalista-opressores vs oprimidos). E, naturalmente, Marx teria aprendido muito sobre capitalismo subdesenvolvido.

IHU On-Line – Qual a análise de Chico de Oliveira no que se refere ao desenvolvimento brasileiro?

Reinaldo Gonçalves – Além da tese principal (simbiose entre atrasado e moderno), nos seis capítulos do livro há outras teses e argumentos importantes. Por exemplo, ele destaca a relação entre padrão de dominação e padrão de acumulação, ou seja, a quem serve o capitalismo brasileiro. Ele trata ainda da tese sobre o “socialismo dos tolos” de esquerda e de direita que associam a maior intervenção estatal com a autonomia do Estado em relação a classes e grupos sociais. Chico destaca ainda os fundamentos da Economia Política Internacional em que os conflitos entre grupos e classes sociais têm predominância em relação às rivalidades interestatais. Chico identifica também traços de ascensão do capital financeiro na disputa pelo excedente econômico no início dos anos 1970. Estes são temas de grande atualidade.

IHU On-Line – De que maneira Chico avalia o moderno capitalismo brasileiro?

Reinaldo Gonçalves – O subdesenvolvimento brasileiro era e é uma “produção” do capitalismo. O “subdesenvolvimento é uma formação capitalista e não simplesmente histórica”. Como mostrou Chico de Oliveira, se, por um lado, é verdade que fatores endógenos sejam determinantes dos padrões de dominação, acumulação e distribuição (como ocorreu na Era desenvolvimentista, 1930-79), também é verdadeiro que o capitalismo brasileiro é subdesenvolvido, subordinado. Não é por outra razão que neste capitalismo o capital estrangeiro tem papel protagônico. O desenvolvimento brasileiro é caudatário. Por exemplo, nos últimos anos a desindustrialização e a reprimarização da economia brasileira refletem exatamente esta situação.

IHU On-Line – De que forma Chico define “O Ornitorrinco”? Em que sentido este conceito ajuda a qualificar a espécie de capitalismo que se gerou no Brasil?

Reinaldo Gonçalves – O capitalismo subdesenvolvido da Era desenvolvimentista gerou, em fase posterior do seu ciclo de vida, um capitalismo “malformado, a meio caminho”. É o que Luiz Filgueiras chama de Modelo Liberal Periférico. Este modelo caracteriza-se por: “liberalização, privatização e desregulação; subordinação e vulnerabilidade externa estrutural; e dominância do capital financeiro. O modelo é liberal porque é estruturado a partir da liberalização das relações econômicas internacionais nas esferas comercial, produtiva, tecnológica e monetário-financeira; da implementação de reformas no âmbito do Estado (em especial na área da previdência social) e da privatização de empresas estatais, que implicam a reconfiguração da intervenção estatal na economia e na sociedade; e de um processo de desregulação do mercado de trabalho, que reforça a exploração da força de trabalho. O modelo é periférico porque é uma forma específica de realização da doutrina neoliberal e da sua política econômica em um país que ocupa posição subalterna no sistema econômico internacional, ou seja, um país que não tem influência na arena internacional, ao mesmo tempo em que se caracteriza por significativa vulnerabilidade externa estrutural nas suas relações econômicas internacionais. E, por fim, o modelo tem o capital financeiro e a lógica financeira como dominantes em sua dinâmica macroeconômica”.

Com o Modelo Liberal Periférico, os países geram o capitalismo malformado-ornitorrinco que tem os vícios e defeitos do capitalismo liberal e os defeitos e vícios das estruturas econômicas, sociais, políticas e institucionais da periferia. O capitalismo brasileiro – ornitorrinco – gera o Brasil invertebrado!

IHU On-Line – No que consiste a nova classe social brasileira, para Chico?

Reinaldo Gonçalves – Outra importante contribuição de Chico de Oliveira é a ideia de hegemonia às avessas, que é fundamental para se compreender o Brasil invertebrado. Nos últimos anos, “parece que os dominados dominam, pois fornecem a ‘direção moral’ e, fisicamente até, estão à testa de organizações do Estado, direta ou indiretamente, e das grandes empresas estatais. Parece que eles são os próprios capitalistas, pois os grandes fundos de pensão das estatais são o coração do novo sistema financeiro brasileiro, e financiam pesadamente a dívida interna pública. Parece que os dominados comandam a política, pois dispõem de poderosas bancadas na Câmara dos Deputados e no Senado”. Nos governos Lula e Dilma, “enquanto as classes dominadas tomam a ‘direção moral’ da sociedade, a dominação burguesa se faz mais descarada”.

IHU On-Line – Em que medida as críticas de Chico de Oliveira ao desenvolvimentismo nos anos 1930-72 podem ser estendidas ao novo desenvolvimentismo no século XXI?

Reinaldo GonçalvesChico alertou sobre o desvio criado pelo pensamento desenvolvimentista: “a teoria do subdesenvolvimento sentou as bases do ‘desenvolvimentismo ’ que desviou a atenção teórica e a ação política do problema da luta de classes, justamente no período em que, com a transformação da economia de base agrária para industrial-urbana, as condições objetivas daquela se agravaram”. Nos últimos anos, o novo desenvolvimentismo está fazendo a mesma manobra desviacionista ao focar nos problemas macroeconômicos de curto prazo e negligenciar questões importantes para o desenvolvimento: mudanças na estrutura de propriedade; estrutura tributária e distribuição de riqueza; vulnerabilidade externa estrutural nas esferas comercial, produtiva e tecnológica; influência de setores dominantes (agronegócio, mineração e bancos); e viés no deslocamento da fronteira de produção na direção do setor primário. O novo desenvolvimentismo desconhece o conteúdo de classes e os interesses dos setores dominantes (bancos, agronegócio, empreiteiras e mineradoras) que configuram os padrões de dominação, acumulação e distribuição no Brasil no século XXI.

IHU On-Line – As contribuições de Chico de Oliveira são importantes para a análise da atual realidade brasileira?

Reinaldo Gonçalves – Elas são fundamentais, não somente pela questão do método como das ideias-chave. No início do século XXI, o Brasil é a simbiose entre o moderno e o arcaico, é o capitalismo malformado-ornitorrinco marcado por ineficiência sistêmica, que depende cada vez mais do setor primário-exportador e que se sustenta com a hegemonia às avessas. O Modelo Liberal Periférico no Brasil se caracteriza, na dimensão econômica, por: fraco desempenho; crescente vulnerabilidade externa estrutural; transformações estruturais que fragilizam e implicam volta ao passado; e ausência de mudanças ou de reformas que sejam eixos estruturantes do desenvolvimento de longo prazo. Nas dimensões social, ética, institucional e política desta trajetória observa-se: invertebramento da sociedade; deterioração do ethos; degradação das instituições e sistema político corrupto e clientelista. É o país do desenvolvimento às avessas.
 
Ficha de leitura.
OLIVEIRA, Francisco de. A economia brasileira: crítica à razão dualista. Petrópolis: Cebrap/Vozes, 1972. Nova edição: São Paulo: Editora Boitempo, 2003

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Um comentário:

  1. Olá Paulo, meu nome é Mariana Petroni e estou estudanto o doutorando em antropologia na Unicamp. Gostaria de conversar com vc sobre minha pesquisa, sobre o movimento indígena na déc. de 70. Será que vc poderia mandar seu e-mail para eu te contar mais sobre a pesquisa e a gente marcar uma conversa.
    Obrigada
    Mariana Petroni
    marianapetroni@hotmail.com

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