A “VIRADA POPULAR”
Discipulado
missionário do Brasil para o mundo secularizado e
pluricultural
à luz do Vaticano II e da caminhada latino-americana
Pe.
Paulo Suess
O Vaticano II iniciou uma “virada popular”, uma virada
ao povo simples e ao mundo, que atualmente parece inibida. Passaram-se 50 anos
desde o início daquela “virada popular” com o objetivo “continuar a obra do
próprio Cristo que veio ao mundo para dar
testemunho de verdade (cf. Jo 18,17), para salvar e não para condenar, para servir e não para ser servido” (cf. Jo 3,17; Mt 20,28; Mc 10,45). Quais
são os impulsos do Concílio que configuram essa “virada popular” e quais os
passos para desinibi-la, hoje?
1.
Aggiornamento como orientação
programática
Ainda antes de iniciar o Concílio, o papa João XXIII mostrou,
simbolicamente, que a Igreja Católica precisava abrir-se ao mundo, o que ele
chamou de “aggiornamento”. Para um
interlocutor, que o perguntou sobre este aggiornamento,
ele abriu as janelas de uma sala e deu para entender: a Igreja precisa deixar
sol e vento entrar para ver e ir longe, e respirar fundo. O sucessor de João
XXIII, Paulo VI, em sua Carta Encíclica Ecclesiam
suam (1964), menciona o “aggiornamento”
como “orientação programática” do Concílio (ES 27).
Aggiornamento,
portanto, significa abertura, deixar a realidade do mundo entrar e entrar na
realidade do mundo. E essa realidade tem várias dimensões: a dimensão
macrocultural da modernidade secularizada e a dimensão da convivência concreta
no mundo pluricultural. Aggiornamento
expressa a vontade de construir duas pontes de mão dupla: uma entre Igreja e a
dimensão universal das conquistas do mundo moderno, e outra, entre Igreja e o
mundo local e cultural, onde o povo vive, se encontra e comunica.
O Concílio nomeou essas tentativas de aproximação respeitosa
aos povos e ao mundo com algumas palavras balbuciantes, como “aggiornamento” e “adaptação” (SC 37s; GS
514), “autonomia da realidade terrestre” (GS 36; 56) e da cultura, “sinais do
tempo” (GS 4; 11), e “diálogo” (CD 13; UR 4), “encarnação” e “solidariedade”
(GS 32). Em nossa caminhada teológico-pastoral latino-americana traduzimos
essas palavras como “opção pelos pobres” e “libertação”, em Medellín (1968),
“participação”, “assunção” e “comunidades de base”, em Puebla (1979), como
“inserção” e “inculturação”, em Santo Domingo (1992) e como “missão”,
“testemunho” e “serviço” de uma Igreja samaritana e advogada da justiça e dos
pobres, em Aparecida (2007). Nenhuma dessas palavras descreve a totalidade do
projeto pastoral do Vaticano II, mas seu conjunto representa uma síntese
daquilo que o Vaticano II queria ser: um farol da luz de Cristo no meio dos
povos e do mundo.
(primeira parte da palestra de Paulo Suess, proferida em Palmas, dia 13 de julho).
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