O cacique Nísio Gomes teria sido
assassinado por membros de empresa de segurança e o corpo ocultado, segundo a
Polícia Federal.
A Polícia Federal de Ponta Porã/MS
concluiu nesta semana a segunda fase das investigações do inquérito policial que
foi instaurado para apurar os crimes decorrentes do ataque ao acampamento
indígena Guayviry, situado no município de Aral Moreira/MS, ocorrido no dia
18/11/2011, em que figurou como vítima o cacique Nízio Gomes, tendo o inquérito
policial sido novamente encaminhado ao Ministério Público Federal.
No total foram 23 pessoas
indiciadas, das quais 18 estão presas por mandados de prisão preventiva em
vista de seus indiciamentos pelos crimes de homicídio qualificado, ocultação de
cadáver, fraude processual e corrupção de testemunhas. Houve ainda o
indiciamento de um funcionário da FUNAI pelos crimes de quadrilha e coação no
curso do processo, haja vista ter tentado coagir uma importante testemunha a
mudar seu depoimento na polícia. Como o caso ainda tramita em segredo de
justiça, os nomes dos indiciados não serão divulgados pela Polícia Federal,
assim como detalhes específicos sobre as investigações.
Dentre os presos, 10 pessoas são
ligadas a uma empresa de segurança privada da cidade de Dourados/MS, incluindo
seu proprietário e gerentes e 06 são fazendeiros da região de Ponta Porã/MS e
Aral Moreira/MS. Um destes fazendeiros é presidente de um Sindicato Rural no
Estado de Mato Grosso do Sul, havendo também 01 advogado do Paraná dentre os
presos.
Como já divulgado anteriormente, as
novas provas colhidas pela Polícia Federal apontam que efetivamente o cacique
Nízio Gomes foi morto no acampamento e seu corpo teria sido levado do local em
uma caminhonete, sendo os executores do ataque as pessoas vinculadas à empresa
de segurança privada de Dourados/MS. Após isso, o corpo do cacique Nízio Gomes
teria sido ocultado pelos fazendeiros que atuaram como “mandantes” do ataque
aos índios.
O local onde está o corpo do cacique
ainda está sob investigação da Polícia Federal. Pelo que consta, alguns dos
fazendeiros presos sabem exatamente onde o corpo estaria escondido, no entanto
nenhum deles demonstrou interesse em colaborar com as investigações e informar
o local em que teriam ocultado o corpo.
Ao que parece, este seria um dos
principais motivos que justificariam o prolongamento das prisões, pois, se
mesmo estando presos a estratégia até agora utilizada pelos fazendeiros está
sendo a de negar qualquer envolvimento com os crimes (apesar de entrarem em
contradição com outras provas produzidas), estima-se que se postos em liberdade
o corpo dificilmente será encontrado dada a vastidão de áreas não habitadas
nesta região de fronteira com o Paraguai.
Após a morte do cacique Nízio e a
ocultação do seu corpo, alguns dos fazendeiros indiciados tentaram se utilizar
de técnicas escusas para dificultar o trabalho da polícia, chegando inclusive a
contratar um indígena de outra aldeia para fingir que estava ajudando nas
investigações, mas na verdade estava passando informações erradas.
Os fazendeiros e o advogado (preso)
orientaram referido indígena a dizer para a Polícia Federal que o cacique Nízio
estava vivo e morando com familiares em uma aldeia no Paraguai, pois na visão
deles a polícia nunca iria ter como checar estas informações e com isso iria sempre
perdurar a dúvida sobre sua morte.
Entretanto, após um intenso trabalho
de investigação, os policiais conseguiram provar ao indígena que ele estava
indicando pistas falsas, momento em que ele resolveu falar a verdade de que
Nísio Gomes estava morto e que ele havia sido contratado pelos fazendeiros para
tentar ludibriar a polícia. Em troca, os fazendeiros prometeram a ele uma
grande quantia em dinheiro (uma parte pequena foi efetivamente paga) além da
contratação de um advogado, caso fosse necessário, e ainda fizeram a promessa
de que iriam adotar as providências necessárias para elegê-lo vereador nestas
eleições.
Antes do ataque ao acampamento
Guayviry, este mesmo indígena tinha sido contratado pelos fazendeiros para
tentar negociar com o cacique Nísio Gomes a saída do seu grupo em troca do
pagamento de uma grande quantia em dinheiro, mas como o cacique não aceitou, os
fazendeiros resolveram contratar a empresa de segurança privada para realizar o
ataque ao acampamento.
As armas utilizadas no ataque ao
acampamento Guayviry foram fornecidas pelos fazendeiros e tratou-se de
espingardas calibre 12, com munições classificadas de “menos letal”,
entretanto vale ressaltar que se o
disparo for feito em curta distancia ou se for utilizada de maneira inadequada,
pode ser tão letal quanto uma munição comum.
Uma das pessoas presas que
participou da execução do ataque ao acampamento confessou em interrogatório que
o cacique Nízio foi atingido por um disparo na região subaxilar e que ele havia
participado da retirada do corpo do local do ataque, tendo inclusive verificado
o seu pulso e constatado a efetiva morte do índio. Este indiciado esclareceu,
inclusive, que houve pouco sangramento do cacique Nísio, o que se coaduna com o
que foi descrito no laudo pericial de que havia pouco sangue no local dos
fatos.
A Polícia Federal ainda está
promovendo diligências no intuito de encontrar o corpo de Nísio Gomes.
Durante todo o período de
investigações, a Delegacia de Polícia Federal de Ponta Porã/MS recebeu reforço
de policiais no contexto da Operação Sentinela para atuar no caso do ataque ao
acampamento Guayviry.
Os fazendeiros e o advogado
encontram-se presos na Delegacia de Polícia Federal de Ponta Porã/MS, havendo
previsão de suas remoções nesta sexta-feira (20/07/2012) para Estabelecimentos
Prisionais no Estado.
Acredita-se que o resultado das
investigações no caso da morte do Cacique Nísio Gomes tenha sido um marco no
que pertine à forma de resolução dos conflitos pela posse de terras entre
indígenas e fazendeiros, pois anteriormente nunca tantas pessoas tinham sido
indiciadas e presas no Estado de Mato Grosso do Sul por terem se utilizado da
violência para tentar expulsar indígenas da área de fazendas invadidas,
servindo como paradigma de que a melhor forma é sempre buscar os meios legais
existentes para qualquer resolução de conflitos.
Fonte: Assessoria Polícia Federal
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