Roberto
Malvezzi, Gogó
Equipe
CPP/CPT do São Francisco
O
cristianismo nasceu pobre, de um Deus feito gente pobre, difundido por
pescadores e outros homens e mulheres dos grupos marginais. Gente de pequenas
comunidades, que tinham uma extraordinária novidade para quem quisesse.
Depois,
tornou-se a religião do poder romano, como Igreja Católica, e essa metamorfose
tem até hoje consequências impagáveis.
A Igreja
Católica começou a perder poder religioso com a ruptura de Lutero e poder
mundano com o iluminismo. As revoluções burguesas derrubaram os privilégios da
nobreza e do clero.
No Brasil e
América Latina, o catolicismo chegou como a religião dos conquistadores. As
reduções indígenas no Brasil, a apropriação dos templos incas e astecas, o
batismo forçado dos negros desembarcados dos navios negreiros, cavaram um fosso
entre a religião oficial do clero e o cristianismo vivido pelas massas
subalternas. Aqui também houve uma metamorfose, e os pobres recriaram para si
um cristianismo, um catolicismo, conforme sua própria imagem e semelhança. A
proclamação da República começou subtrair o poder do clero no Brasil. A
liberdade religiosa só chegou com a Constituição de 1945 pelas mãos de um ateu,
Jorge Amado.
Hoje, o
triunfalismo religioso está com os evangélicos pentecostais. Fazem marchas
poderosas e ali também é difícil discernir o que é evangelho do que é mercado.
Entre eles já começa ter críticas para "voltar ao texto bíblico”. Certos
setores católicos achavam que, imitando de alguma forma os evangélicos
pentecostais, conteriam a sangria nominal religiosa. O resultado já está posto.
As últimas
pesquisas indicam que o catolicismo brasileiro, nominal, é da ordem de 64,6% da
nossa população. Como na Europa, a tendência é se estabilizar por volta de 40%.
Deve crescer o número dos indiferentes diante das igrejas. O fenômeno
pentecostal também não terá longo fôlego quando grande parte da população
superar sua consciência ingênua diante dos milagreiros da teologia da
prosperidade. Quem sabe os evangélicos históricos voltem mesmo ao texto
bíblico, a grande contribuição deles ao cristianismo.
O Brasil
mais católico continua no Piauí, Ceará, Paraíba, nordeste em geral. O Brasil
menos católico está em Rondônia e Rio de Janeiro, onde já é minoria, com cerca
de 45% do povo do Estado permanecendo católico.
A perda
constante de poder na história não demove certos setores da Igreja Católica que
acham ainda que a Igreja é poder. Muitos agem ainda como se vivessem na Idade
Média. É perda de tempo e de energia. Além do mais, falta-lhes senso de
realidade.
Só resta um
poder real aos cristãos, sejam eles de qualquer Igreja: do sal, do fermento, da
luz. E vale lembrar a terrível advertência de Jesus: "se o sal perder o
seu gosto não serve mais para nada, a não ser para ser lançado fora e pisado
pelos homens (Mateus, 5,13)”.
[Adital (6.07.12)]
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