A outra Igreja de Arturo Paoli



Foi publicado o livro La pazienza del nulla [A paciência do nada, Ed. Chiarelettere, 2012], assinado por Arturo Paoli, que completará 100 anos em novembro próximo. A reportagem é de Filippo Gentiloni, publicada no jornal Il Manifesto, 03-07-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto, da Unisinos.

Sacerdote, "justos entre as nações" por ter contribuído para salvar centenas de judeus durante a Segunda Guerra Mundial, dirigente da Juventude de Ação Católica, capelão dos navios dos imigrantes italianos à Argentina, Irmãozinho de Charles de Foucauld. Depois do noviciado no deserto argelino, foi enviado para a América do Sul, onde viveria por 45 anos. Uma testemunha de Deus, um mestre de vida.
Treze meses no deserto do Saara lhe ensinaram o valor do silêncio e do nada. Um valor que, além de Paoli, muitos autores reivindicam hoje. Entre os outros, é o caso de citar Giancarlo Vianello, autor de Colligite fragmenta. La questione del nulla [A questão do nada] (Ed. Rubbettino, 2011). Todos os autores se referem a Il nulla divino [O nada divino], de Mestre Eckhart (Ed. Mondadori, 1999), editado por Marco Vannini: "Só podemos nos alegrar com a redescoberta atual do valor do nada e render graças também àqueles anônimos que compuseram, compilaram, transmitiram esses textos".
Paoli, em seu livro, não traça uma autobiografia propriamente dita, mas se oferece com profundidade e sinceridade aos que quiserem ouvir uma história de vida gasta para encontrar e conhecer os outros e, mais ainda, o Outro que, pouco a pouco, se torna amigo. Na Argentina, Arturo Paoli denunciou aquela civilização ocidental que a Igreja argentina defendia apoiando os governos militares na ação de repressão da ameaça comunista e socialista que fazia tantas vítimas entre os jovens que eram identificados como a ala cristã da subversão.

Lá, Arturo Paoli fez amizade com os bispos mais inovadores – como Helder Câmara –, graças aos quais ele viu se realizar aquela Igreja povo de Deus que o Concílio Vaticano II havia anunciado e que a teologia da libertação, com as comunidades de base, havia traduzido em realidade.

Arturo Paoli, tendo voltado à Itália aos 93 anos, "encerrou o ciclo" na sua cidade de Lucca, cruzamento de amigos provenientes de todas as partes da Itália, crentes e não crentes, em busca do sentido da vida e de uma "casa" para sustentar inquietações e esperanças.

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