Depois do Congresso de Palmas
A travessia é um processo contínuo de desamarração da vida, sem pedir
licença, sem cartão de crédito, sem porto seguro indicado em cartas náuticas.
Somos universo em expansão ao espaço desconhecido; caos, que se recria e
auto-estrutura. Ampliar a tenda significa deixar a casa, o congresso, Palmas...
A travessia não é uma corrida com um ponto de partida e outro de chegada, mas
um estado de espírito e uma maneira de ser, despreocupado com algo que não pode
dar certo e sem ambição de que algo deve dar certo. A travessia enquanto
horizonte da caminhada missionária é o desdobramento da essência da vida na
luta histórica, no desapego que transforma o mundo, e no bem-querer do
universo.
Colaborar na construção de um mundo novo pressupõe um
doloroso e permanente processo de desarmar e desconstruir. Como perder o medo
da perda? A partilha é o exercício prático para perder o medo das perdas, que
está ligado ao privilégio e ao corporativismo, a hegemonias e à domesticação.
Sair, partir, re-partir. O "êxito" é a opção pelo "êxodo".
Ter "êxito" na vida depende da capacidade de um sempre novo
"êxodo": desatar os nós que nos amarram, partilhar os bens que enchem
nossa casa e novamente partir para a luta com a mochila do pobre, as sandálias
do pescador e o bastão do peregrino.
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