Exposição de presépios no Centro de São Paulo

O presépio como representação do nascimento de Cristo tem tudo a ver com os franciscanos. Foi São Francisco de Assis, em 1223, na cidade italiana de Greccio, quem pela primeira vez na história celebrou a noite de Natal com uma encenação plástica do nascimento de Jesus, tendo pessoas representando os personagens bíblicos e animais reais na manjedoura. Com isso, ao longo dos séculos, tornou-se uma tradição entre os franciscanos marcar a passagem do Natal sempre de forma artística, e não apenas litúrgica, com a montagem de presépios com seres vivos ou esculturas.
No Centro de São Paulo, há mais de 20 anos essa tradição é ininterruptamente mantida pelo Convento São Francisco de Assis, no Largo São Francisco, São Paulo.
“A arte na religião católica é uma força que evangeliza, ajudando tanto na catequese como na aproximação do homem com o que é belo”, explica frei Roger. “Quando fazemos aqui os 21 anos dessa mostra de presépios, procuramos oferecer uma forma diferente de celebrar o Natal e, ao mesmo tempo, resgatamos uma tradição cristã.”
Entre os presépios expostos este ano 20 são inéditos. E entre estes há exemplares do Oriente Médio, Peru, Rússia, Filipinas, Argentina, Bélgica, Egito, Angola e Alemanha. Os materiais utilizados são os mais diversos: chumbo, madeira, marfim, fibra de bananeira, bambu pintado, argila e impressão. Um deles foi feito pelo artesão Adelino, de Guarulhos, que fez questão de expor com os franciscanos de São Paulo e trabalha com materiais reciclados. “Acolhemos com carinho, porque tem tudo a ver com o espírito franciscano, que é ecológico”, diz frei Roger.
Hoje os franciscanos têm no Estado de São Paulo uma coleção de cerca de 400 presépios, iniciada com aquela de Ottenbreit, a maioria doada. Ela fica no Seminário Frei Galvão, em Guaratinguetá, cidade onde há uma exposição permanente de presépios.´
[Ana Maria Ciccacio, texto abreviado].
Fotos: Presépios - Renato Leary, presépios vindo do Oriente Médio, exemplar esculpido em madeira e com destaque sobre banquetes rústicos.

Eden Magalhães e Antônia de Mello
com D. Erwin Kräutler
 Alegria e Pólvora
Em Estocolmo, no Parlamento da Suecia, realizou-se, no dia 6 de dezembro 2010, a 31ª entrega do Prêmio Nobel Alternativo (31st Right Livelihood Award Ceremony). Na cerimônia, deputados desse Parlamento apresentaram os candidatos ao público e se manifestaram simpáticos para causa dos premiados. Em seus discursos, os homenageados (ver postagens anteriores) pronunciaram mensagens muito idênticas em torno das grandes causas do mundo e do sofrimento dos seus povos:
- Ruchama Marton, de Israel, declarou que não é suficiente combater o machismo. Precisa mudar o mundo para mudar a discriminação das mulheres.
- Shree Krishna Upadhaya, de Nepal, ao finalizar a sua fala, citou Nelson Mandela: “A superação da pobreza não é um ato de caridade, mas um ato de justiça”.
- O Nigeriano Nnimmo Bassey se apresentou: “Eu estou diante de vocês não por uma causa individual, mas como um representante do povo sofrido nos campos de petróleo da Nigéria [...]. É claro, que para os níveis atuais da extração de petróleo, da acumulação e do consumo, a ética deve ser revisada e a impunidade deve ser destronada. [...] É a coragem das comunidades sofridas e dos povos resistentes contra a extração destrutiva que sustentam a nossa luta”.

Paulo Suess e D. Anders Arborelius
 - D. Erwin Kräutler, presidente do Cimi e bispo do Xingu, lembrou em seu discurso os assassinatos da Ir. Dorothy Stang (2005) e de Ademir Alfeu Federicci, o Dema, ambos vítimas de uma ocupação fraudulenta das terras da Amazônia; ambos voz de pequenos agricultores sem voz. D. Erwin denunciou a impunidade dos crimes, apontou para os prejuízos apocalípticos de Belo Monte, lembrou o tráfego de menores, chamou à atenção para a situação insustentável dos Guarani-Kaiowá, do MS, e para a destruição da Amazônia.
Leia o discurso de Dom Erwin Kräutler, proferido no dia 6 de dezembro de 2010, pela ocasião da entrega do Prêmio Right Livelihood 2010, em Estocolmo, Suécia:
(Foto acima: No Metrô, conversando com o arcebispo de Estocolmo sobre a situação dos Sámi)


Protesto dos Sámi na Finlândia

Família Sámi

No dia 7 de dezembro participamos (Eden e eu) de uma pequena recepção na Embaixada da Áustria, em Estocolmo. Ao meu lado, o único bispo católico da Suécia, o carmelita Anders Arborelius, responsável pela imensa diáspora de um país. Perguntado sobre eventuais conflitos étnicos em seu país, ele me fala dos conflitos com os Sámi (Samit, Samek). Os Sámi são uma minoria indígena transnacional de umas 40 mil pessoas. Vivem na Finlândia, Noruega e Suécia. Sofrem pela redução dos seus territórios, pela exploração de suas águas e minérios.

Bandeira Sámi

Desde 1956 existe um Conselho Sámi Nórdico que articula reações coletivas contra os três estados nacionais que ocupam hoje seus territórios. Suécia não assinou a Convenção 169, da ONU. Nenhum partido os defende, nem a simpática Rainha os afaga. Contradições de um país, no qual agradecemos o Prêmio Nobel da Paz ao inventor da pólvora.
[P.S., 8.12.2010]
Calendário do Advento:
o profeta Pedro, a sábia Genoveva, o confessor Erwin
Um calendário do Advento tem 24 janelinhas que conduzem crianças e adultos ao presépio. Nosso calendário tem apenas três janelas. Assim podemo-nos debruçar oito dias sobre cada uma dessas figuras que, através da janelinha, olhem para nós: o profeta Pedro, a sábia Genoveva e o confessor Erwin.
Primeira janela: Dom Pedro
Faz poucos dias que visitei com companheiros do Cimi o profeta Pedro, o grande e frágil D. Pedro Casaldáliga, bispo emérito de São Felix do Araguaia, entre 1971 e 2005. Para o dia de sua ordenação episcopal escreveu uma carta pastoral que marca o início da pastoral social no Brasil: “Uma igreja da Amazônia em conflito com o latifúndio e a marginalização social”, segundo José de Souza Martins, um dos mais importantes documentos sociais da história contemporânea do Brasil. Homens como Pedro, que era um dos pais-fundadores do Cimi e da CPT, nascem só uma vez em cada século. A ele pertence a primeira janelinha do nosso calendário.
No dia da nossa visita (27.11.), Pedro estava em Goiânia, onde se recuperou de uma cirurgia. Magrinho e lúcido, como sempre, quase levitando. Falamos das eleições de Haití, da Agenda Latino-americana, da Romaría dos Mártires (16/17.07.2011) e do “bem viver”, do mundo andino. Estávamos chegando de um Seminário Nacional do Cimi sobre o mesmo tema.

Segunda janela: irmã Genoveva
Na mesma tarde visitamos ainda a Ir. Genoveva, das Irmãzinhas de Charles de Foucauld. Ela vive desde 1952 com os Tapirapé, um povo, que na época era reduzido a 50 indivíduos. „Depois do roubo de suas terras, os índios trabalhavam nas fazendas da região de São Felix. Pela presença de Ir. Genoveva e de suas companheiras, o povo reconstruiu seu habitat e recuperou a esperança em seu próprio futuro. O Cimi, que nasceu só vinte anos mais tarde, agradece muito às irmãzinhas dos Tapirapé. Sua missão não era supervisão ou conversão de pagãos, mas inculturação e diálogo de vida. Numa entrevista de 1984, Genoveva respondeu à pergunta sobre seu aprendizado com os índios: “Aprendi a vida prática. Aprendi a viver em comum, partilhar. A vida comunitária na tribo era mais radical que na Congregação. [...] Nossa preocupação é viver sem criar muitas coisas diferentes. O normal é viver até morrer com eles. Minha atividade na aldeia é a roça.” Quem olha no rosto de Genoveva e de Pedro, ambos com mais de 80 anos de vida, encontra sulcos profundos, nos quais a semente do evangelho está brotando. não vai substituir”. Wenn Du schon korrigierst, dann vielleicht auch, bei Genoveva ersetzen

Terceira janela: Dom Erwin
Escrevo essa postagem a caminho de Estocolmo, capital da Suecia, onde Dom Erwin Kraeutler, no dia 6 de dezembro, vai receber o Prémio Nobel Alternativo. D. Erwin é presidente do Cimi. Toda a sua vida lutou pelos pequenos, pelos índios, pelos menores abusados muito além de sua Prelazia de Xingu, PA. Seu caminho para Estocolmo é marcado por muito sofrimento. Em 1983, por causa de sua participação numa ação solidária com cortadores de cana-de-açúcar apanhou duramente da polícia militar; em 1987, D. Erwin sobrevive uma tentativa de mata-lo com um carro blindado; em 1995, um irmão de sua congregação, Hubert Mattle, é assassinado na sede da prelazia, em Altamira, e em 2005 mataram uma de suas agentes pastorais mais autênticas, a irmã Dorothy Stang. Por causa de ameaças concretas de assassinato, D. Erwin vive alguns anos, dia e noite, protegido por dois policiais. O Prêmio Nobel Alternativo não vai substituir o colete à prova de bala, que ele é obrigado a vestir, mas, quem sabe, pode se tornar uma capa de proteção da opinião pública, que agora zela mais vigilante por suas e nossas causas.