Memória, Projeto, Seguimento: 100 anos de presença franciscana no Rio Cururu




 No dia 13 de maio de 2012 foi o encerramento do Ano Jubilar celebrativo da presença franciscana de 100 anos na missão São Francisco do Rio Cururu, afluente do Tapajós, junto ao Povo Mundurucu. A celebração foi na sede da missão, com alvorada festiva, oração da manhã em louvor ao centenário e ordenação diaconal à noite. Um mutirão missionário de visitas às aldeias Munduruku fez parte da celebração e de encerramento do ano jubilar. A Missão Franciscana do Rio Cururu é composta pela aliança francisclariana entre os Frades Menores da Província de São Benedito e as Irmãs Franciscanas Missionárias da Imaculada Conceição, ambos de Santarém-PA.

Os sinos do Cururu

O mutirão aconteceu de 02 a 15 de Maio. Participaram desse mutirão frades, verbitas, lazaristas, carmelitas, padres diocesanos, irmãs franciscanas e passionistas, leigos(as), e o bispo da Prelazia de Itaituba, D. Wilmar Santin, num total de 34 missionários e missionárias. Além da pluralidade de carismas, o grupo missionário foi rico também na pluralidade de sua procedência e país de origem: Alemanha, Polônia, Filipinas, Guiné-Papua, Argentina, Peru, México, além do Brasil, é claro. [...]

O encontro dos missionários foi em Santarém, de onde também se deu o início da viagem no dia 02 de maio. O primeiro trajeto foi de lancha, de Santarém a Itaituba, sede da Diocese. Ali, o bispo e outros missionários integraram-se ao grupo. Em Itaituba pernoitamos e no dia seguinte seguimos de ônibus, pela Transamazônica, até Jacareacanga. [...] Em Jacareacanga tivemos um dia todo de encontro dos missionários, de oração, estudo (uma análise sobre o projeto do governo brasileiro de construção de barragens no Rio Tapajós), a formação das equipes e, à noite, celebração nas comunidades.




Formando equipes de dois em dois ou três em três, os missionários visitaram 53 aldeias, celebraram uns 170 batismos, assistiram a uns 80 matrimônios, além das crismas. Viajando em três canoas, lembrando o nome dos três primeiros missionários, “Pain” (é assim que os Munduruku chamam aos freis, em sua língua) Luis Wandt, Pain Plácido Tölle, Pain Hugo Mense, foram percorridos os rios Tapajós, Kabitutu, Teles Pires, Caruru e o Rio das Trapas. [...]
Cada visita a uma aldeia teve uma duração aproximada de dois dias (p.ex. chegada no sábado e saída na segunda-feira). O roteiro padrão das visitas era basicamente este: encontro com as lideranças, visitas às famílias, preparação da liturgia, anotações dos batizados e matrimônios, confissões, a celebração e uma assembleia para conversar sobre a vida da aldeia, principalmente a questão das hidroelétricas. [...]

Voltamos à sede da missão, no Rio Cururu, na sexta-feira, no dia 11 de maio. No sábado a missão toda estava muito movimentada. Era véspera da festa e dia de chegada de muitas visitas. [...] As celebrações de domingo começaram cedo, com alvorada festiva às 05:30, com fogos, sinos e tambores. Às 06h00 foi a oração da manhã, com dois momentos bem significativos. No primeiro, próximo à pista de pouso, missionários(as) e Munduruku, cada um separadamente carregava uma parte da cruz. Os missionários, carregando a haste vertical, simbolizando a união entre o céu e a terra, e os indos, carregando a haste horizontal, simbolizando a união entre todos os povos e a fraternidade universal. Ao encontrarem-se as procissões a cruz foi formada e erguida como um marco do centenário, para dizer que a missão foi, e continua sendo, a união entre os missionários e o povo Munduruku. Logo em seguida, em frente a igreja, foi a memória dos missionários(as) e lideranças, falecidos e vivos. Para cada nome lembrado soava uma badalada do sino.

O dia foi de muitas reuniões. Merece destaque a assembléia da tarde, com a participação do povo, dos capitães, caciques, missionários e lideranças políticas, para debater o problema das barragens e do mercado de carbono. Não precisa nem dizer que a assembleia foi bilíngue. Mesmo os que falam português, e a maioria dos homens falam fluentemente, fazem questão de primeiro falar em Munduruku. Fiquei impressionado com o grau de informação que têm sobre as usinas e as suas consequências. Há unanimidade que devem lutar contra as barragens, até o fim.
À noite teve lugar a missa de ordenação diaconal de Frei Ulisses Antônio Nunes Calvo, com um forte apelo vocacional. Após a missa teve lugar o lançamento de um selo alusivo ao centenário, pelos Correios, a Prefeitura de Jacareacanga, a Diocese de Itaituba e a Custódia de São Benedito. A noite toda foi de festa. Às 07h00 do outro dia, os missionários todos estavam no porto, para a viagem de regresso a Jacareacanga, Itaituba e Santarém.

 Frei Atílio Battistuz, OFM; fratilio@yahoo.com.br

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