Os sinos do Cururu |
O mutirão aconteceu de 02 a 15 de Maio. Participaram desse mutirão frades, verbitas, lazaristas, carmelitas, padres diocesanos, irmãs franciscanas e passionistas, leigos(as), e o bispo da Prelazia de Itaituba, D. Wilmar Santin, num total de 34 missionários e missionárias. Além da pluralidade de carismas, o grupo missionário foi rico também na pluralidade de sua procedência e país de origem: Alemanha, Polônia, Filipinas, Guiné-Papua, Argentina, Peru, México, além do Brasil, é claro. [...]
O
encontro dos missionários foi em Santarém, de onde também se deu o início da
viagem no dia 02 de maio. O primeiro trajeto foi de lancha, de Santarém a
Itaituba, sede da Diocese. Ali, o bispo e outros missionários integraram-se ao
grupo. Em Itaituba pernoitamos e no dia seguinte seguimos de ônibus, pela
Transamazônica, até Jacareacanga. [...] Em Jacareacanga tivemos um dia todo de
encontro dos missionários, de oração, estudo (uma análise sobre o projeto do
governo brasileiro de construção de barragens no Rio Tapajós), a formação das
equipes e, à noite, celebração nas comunidades.
Formando
equipes de dois em dois ou três em três, os missionários visitaram 53 aldeias,
celebraram uns 170 batismos, assistiram a uns 80 matrimônios, além das crismas.
Viajando em três canoas, lembrando o nome dos três primeiros missionários,
“Pain” (é assim que os Munduruku chamam aos freis, em sua língua) Luis Wandt,
Pain Plácido Tölle, Pain Hugo Mense, foram percorridos os rios Tapajós,
Kabitutu, Teles Pires, Caruru e o Rio das Trapas. [...]
Cada
visita a uma aldeia teve uma duração aproximada de dois dias (p.ex. chegada no
sábado e saída na segunda-feira). O roteiro padrão das visitas era basicamente
este: encontro com as lideranças, visitas às famílias, preparação da liturgia,
anotações dos batizados e matrimônios, confissões, a celebração e uma assembleia
para conversar sobre a vida da aldeia, principalmente a questão das
hidroelétricas. [...]
Voltamos
à sede da missão, no Rio Cururu, na sexta-feira, no dia 11 de maio. No sábado a
missão toda estava muito movimentada. Era véspera da festa e dia de chegada de
muitas visitas. [...] As celebrações de domingo começaram cedo, com alvorada
festiva às 05:30, com fogos, sinos e tambores. Às 06h00 foi a oração da manhã,
com dois momentos bem significativos. No primeiro, próximo à pista de pouso,
missionários(as) e Munduruku, cada um separadamente carregava uma parte da
cruz. Os missionários, carregando a haste vertical, simbolizando a união entre
o céu e a terra, e os indos, carregando a haste horizontal, simbolizando a
união entre todos os povos e a fraternidade universal. Ao encontrarem-se as
procissões a cruz foi formada e erguida como um marco do centenário, para dizer
que a missão foi, e continua sendo, a união entre os missionários e o povo
Munduruku. Logo em seguida, em frente a igreja, foi a memória dos
missionários(as) e lideranças, falecidos e vivos. Para cada nome lembrado soava
uma badalada do sino.
O
dia foi de muitas reuniões. Merece destaque a assembléia da tarde, com a
participação do povo, dos capitães, caciques, missionários e lideranças
políticas, para debater o problema das barragens e do mercado de carbono. Não
precisa nem dizer que a assembleia foi bilíngue. Mesmo os que falam português,
e a maioria dos homens falam fluentemente, fazem questão de primeiro falar em
Munduruku. Fiquei impressionado com o grau de informação que têm sobre as
usinas e as suas consequências. Há unanimidade que devem lutar contra as
barragens, até o fim.
À
noite teve lugar a missa de ordenação diaconal de Frei Ulisses Antônio Nunes
Calvo, com um forte apelo vocacional. Após a missa teve lugar o lançamento de
um selo alusivo ao centenário, pelos Correios, a Prefeitura de Jacareacanga, a
Diocese de Itaituba e a Custódia de São Benedito. A noite toda foi de festa. Às
07h00 do outro dia, os missionários todos estavam no porto, para a viagem de
regresso a Jacareacanga, Itaituba e Santarém.
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