Shiva é física, ecofeminista, ativista ambiental da Índia e autora de
inúmeros livros [The Violence of the Green Revolution (1992), Biopirataria: a
pilhagem da natureza e do conhecimento, Vozes, 2001; Monoculturas da mente,
Global, 2004; Guerras por água, Radical Livros, 2006]. Na década de 1970,
participou do Movimento das Mulheres de Chipko, formado em sua maioria por
mulheres que adotaram a tática de se amarrar às árvores para impedir sua
derrubada e o despejo de lixo atômico na região.
Em entrevista à Carta Maior, Vandana Shiva fala com Ana Paula
Salviatti sobre suas expectativas em relação a Rio+20.
Infelizmente
seu livro "The Violence of Green Revolution" não foi traduzido para o
português até hoje. Você poderia trazer ao nosso leitor uma exposição dá época
em que ele foi escrito juntamente de uma análise dos desdobramentos que se
deram dos anos 80 prá cá em relação as perdas da agricultura, não só na Índia
como nos outros países.
Comecei a fazer a pesquisa sobre a violência da Revolução Verde em
1984, ano da violência no Punjab, onde a Revolução Verde foi implementada pela
primeira vez em 1965. A Revolução Verde teve um Prêmio Nobel da Paz, mas em
1984, Punjab era uma terra de guerra. 30.000 pessoas foram mortas pela
violência em Punjab, que é um número 6 vezes maior do que os mortos na tragédia
do 11/9. O ano de 1984 foi também o ano do desastre de Bhopal, onde uma fábrica
de pesticidas, da ‘Union Carbide’ (hoje Dow), vazou e matou 3.000 pessoas.
Desde então, 30.000 pessoas morreram.. Hoje a Índia é a capital da fome e dos
suicídios de agricultores. Desde 1997, 250.000 agricultores foram presos por
dívidas e tiraram suas vidas.
A senhora
traçaria um paralelo entre o modo de produção voltado ao abastecimento e
especulação do mercado, as reservas naturais e as condições que se encontram a
mão de obra trabalhadora no seu país? Outras regiões do mundo trariam condições
semelhantes?
O modelo econômico dominante desperdiça recursos e pessoas. Apesar
destes resíduos serem chamados de "eficiente" e
"produtivo". Ele substituiu a produção com a especulação do capital
financeiro, e do consumismo para as pessoas. Este modelo é: destruir a natureza
e a sociedade em si.
Reformas ou
Revolução? O que e o porquê a senhora acredita ser necessário para impedir o
avanço da situação de degradação das condições tanto humanas quanto naturais
contemporâneas?
Duas coisas são necessárias para acabar com essa deterioração. Em
primeiro lugar, uma mudança de paradigma e visão de mundo. Em segundo lugar, as
pessoas levantarem-se coletivamente e dizer "Basta". Chega.
A senhora terá a oportunidade
de participar da Rio+20 e da Cúpula dos Povos. Quais seriam na sua opinião, as
limitações e as contribuições que cada uma delas poderão nos trazer?
A Rio+20 será limitada em firmar compromissos em função da influência
das grandes corporações. Essas contribuições podem ser significativas, se
reconhecerem a necessidade de restabelecer a harmonia com a natureza - objeto
de uma sessão da Assembleia Geral das Nações Unidas no ano passado - e se
reconhecerem que a agricultura ecológica é o caminho para a proteção do planeta
e da Segurança Alimentar. A Cúpula dos Povos, os Direitos da Mãe Terra, e o
compromisso para uma transformação serão vitais.
Não haveria
uma lógica comum entre os mecanismos financeiros criados em torno da questão
ambiental e ativos financeiros comuns? Esta mesma lógica é capaz de lidar com
problemas ambientais, criados muitas vezes por ela própria? O que a senhora
poderia falar sobre este assunto?
Há um provérbio africano que diz: "Você não pode colocar um
bezerro dentro de uma vaca bezuntando-o com lama". A financeirização da
economia e a consequente redução da economia a um casino, e os recursos do
planeta e processos em mercadorias privatizadas, são a a raiz das crises
ecológicas e econômicas. Estas crises não podem ser resolvidas por mais
financeirização e mercantilização.
Nenhum comentário:
Postar um comentário