A campanha “Eu Defendo a Causa
Indígena!”, resultado de uma aliança entre o Cimi e a Associação de Juízes para
a Democracia (AJD), foi lançada na quarta-feira, 13, no auditório Dom Helder
Câmara da CNBB.
O movimento disponibilizou um
manifesto na internet com o intuito de colher o maior número de assinaturas de
pessoas favoráveis à causa indígena para mobilizar os três poderes. Os
escritores e intelectuais Eduardo Galeano, Boaventura de Souza Santos e Frei
Betto, além de atores como Wagner Moura e Letícia Sabatella, disseram: “Eu
Apoio a Causa Indígena! E você?”
“A Associação dos Juízes para a
Democracia (AJD) é constituída por juízes que não se conformam com a lentidão
do Judiciário brasileiro. Tivemos a oportunidade junto com o Cimi de visitar os
Guarani Kaiowá, no Mato Grosso do Sul, e ficamos bastante sensibilizados.
Entendemos que como juízes precisávamos fazer alguma ação”, afirma Dora Martins,
integrante da AJD.
Eis o relatório emocionante de Dora
Martins depois de sua visita aos Guarani Kaiowá:
Do amor e
do ódio e do índio.
Foi uma experiência de amor; amor
que nos remete a nós mesmos, e que nos alimenta com a possível esperança de um
mundo de diferentes que se mirem sem medo ou ódio.
Voltamos, hoje, da viagem aos
diferentes e humanos Guaranis Kaiowá, em Mato Grosso do Sul. Viagem de fundo
amoroso, sem dúvida, em que pese o amor doer com a dor do outro e que isso nos
remeta à nossa humanidade, tão singela, tão impotente por vezes. O ódio aos
Guaranis está em todo canto por aquele Estado tão cheio de verde da cana e da
soja e do dinheiro. E, com o encanto dos que lutam junto dos Guaranis seguem a
ameaça, a interdição, o assombro. Emocionante ver os indígenas nos receberem
com rituais e danças e celebrações.
Que se espantem todos os espíritos do mal!
Dançamos, pisamos na terra deles, com eles. Ouvimos e fomos ouvidos. Foi emoção
enrolada em emoção. Fizemos um minuto de silêncio, em meio à mata verde, em
círculo, no centro o local onde o Nisio Gomes sangrou e sangrou. Crianças tão
pequenas e nada temerosas, com abraços e risos e danças também. Muitos líderes
falaram, e "porque a justiça não se concretiza se nós, indígenas,
aceitamos a lei do branco"? E nós, juízes, ali, "veneno e
antídoto" a engolir em seco lágrimas insuspeitas. Conseguimos, estou
certa, nos fazer ver além e através da toga. E foi bom. E o líder Jorge bradou
justiça com a Constituição na mão, e as mulheres fizeram, na história, sua
segunda ATY GUASU (assembleia) para discutir o medo de não terem terra,
alimento, saúde e identidade. Mulheres indígenas com voz. Homens indígenas que
querem voltar a ocupar seu território sagrado e tão vilipendiado. E as
atrocidades se repetem compassadamente. Nos agradeceram os companheiros
brancos, que lá nos receberam, e nos presentearam com a fala de que, com toda
certeza, nós, juízes brancos, ao irmos até lá "fizemos história na
história deles". Mais lágrimas e legítimas. E foi tocante saber que eles
acharam honroso e importante que juízas e um juiz que lá estiveram se fizeram
acompanhar por familiares, crianças e filhos.
E tudo ficou tão familiar, tão
igual, tão brasil profundo de brancos e índios... um alento, para todos, e em
especial para aqueles que lá, guerreiros bravios, lutam em prol da causa
Guarani; lá, em Mato Grosso do Sul, onde juízes decidem os processos de uma
perspectiva tão divorciada da terra e dos humanos valores indígenas, a ponto de
entenderem que quando a prova é apenas a "fala do índio", ainda que
sejam dezenas deles, alega-se "falta de prova" para por fim ao
caso... Afinal, para esse cego olhar da justiça de branco, palavra de índio não
vale!
Juíza da
Infância e Juventude.
Para apoiar o movimento “Eu apoio a causa indígenas”, acesse o site: http://www.causaindigena.org/
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