Novos paradigmas de industrialização
exigem novos conceitos de justiça
Na fábrica moderna, quase
tudo é automatizado e digital, graças à convergência de poderosas tecnologias,
de software inteligente, novos materiais, milhares de computadores, robôs
habilidosos, impressoras 3D, processos de realidade virtual e até simuladores
de voo. É claro que, vez ou outra, podemos encontrar, como espécies em
extinção, máquinas e ferramentas típicas da segunda revolução industrial, como
furadeiras, prensas, lixadeiras, tornos e fresas convencionais. Para quem não
tenha visitado fábricas modernas nos últimos anos, a visão de uma dessas
indústrias do século XXI produz verdadeiro choque, em particular, na indústria
automotiva e na aeronáutica.
Muitas fábricas modernas se
assemelham a laboratórios de informática, pois a maioria dos operadores
senta-se diante de telas de computadores. Um exemplo desse avanço são as
impressoras 3D, máquinas que produzem não só joias, sapatos e fones de ouvido, mas
também reproduzem peças de alta complexidade, controlado por computador.
Novos paradigmas
Novas técnicas permitem que a
indústria produza objetos minúsculos com muito maior precisão e segurança. A
nanotecnologia começa a participar do dia a dia da produção dos dispositivos
mais avançados. Os novos materiais são mais leves, mais fortes e mais duráveis
do que os antigos. A fibra de carbono está substituindo o aço e o alumínio numa
gama de produtos que vai do avião às mountain bikes. [...]
Para onde vão os empregos eliminados
nesse processo? Vão para as áreas de serviços, começando pelos mais
sofisticados, como os de educação, pesquisa, projetos, controle de qualidade,
saúde, entretenimento, artes, comunicações e os de cuidados pessoais.
Relembremos que a primeira revolução
industrial começou na Inglaterra poucos anos depois da invenção da máquina a
vapor, por James Watt, em 1760, com a mecanização da indústria têxtil e das
bombas que retiravam água das minas de carvão. Já a segunda revolução
industrial, no começo do século XX, foi marcada pela produção em massa, como na
linha móvel de montagem de Henry Ford. [Ethevaldo Siqueira, O Estado de S.
Paulo, 29-04-2012.]
As duas primeiras revoluções
industriais tinham por objetivo usar a tecnologia para produzir produtos
baratos e em grandes quantidades. A substituição do trabalho braçal, na
primeira, e o desenvolvimento de sofisticadas estratégias gerenciais, na
segunda, não visavam substituir trabalhadores por máquinas, uma vez que os
trabalhadores desempenhavam papel central e indispensável no processo
produtivo.
Revolução tecno-científica e biotecnológica
A Terceira Revolução Industrial ou
Revolução Tecno-científica permitiu o desenvolvimento de atividades na
indústria que aplicam tecnologias de ponta em todas as etapas produtivas. O
impacto das novas tecnologias não se restringe apenas às indústrias, mas afeta
as empresas comerciais, as prestadoras de serviços e, até mesmo, o cotidiano
das pessoas comuns. A Terceira Revolução Industrial não se restringe a alguns
países europeus, aos EUA e ao Japão, mas se espalha pelo mundo todo. É causa e,
ao mesmo tempo, consequência da globalização.
Na fase contemporânea da Terceira Revolução
Industrial, busca-se combinar as vantagens das produções artesanal e
industrial, evitando o alto custo da primeira e a inflexibilidade da última.
Com a aplicação das novas descobertas científicas no processo produtivo, ocorre
a ascensão de atividades que empregam alta tecnologia. Como exemplos, temos a
informática, que produz computadores e softwares; a microeletrônica, que
fabrica chips, transistores e produtos eletrônicos; a robótica, que cria robôs
para uso industrial; as telecomunicações, que viabilizam as transmissões de
rádio e televisão, a telefonia fixa e móvel e a Internet; a indústria
aeroespacial, que fabrica satélites artificiais e aviões; e a biotecnologia,
que produz medicamentos, plantas e animais manipulados geneticamente.
Vale lembrar que, atualmente, o
mundo ruma na direção da Quarta Revolução Industrial. Estamos ingressando numa
revolução que mobiliza as ciências da vida, sob a forma da biotecnologia, assim
como várias áreas das ciências exatas e de outros ramos do conhecimento, e que
responde pelo nome de nanociência ou nanotecnologia [Ronaldo Decicino].
Dessolidarização
No mundo capitalista, a inserção de
tecnologias promove uma dinamização produtiva, intensifica o trabalho, cria
produtos e mercadorias de maior qualidade e, para concorrer em um mercado cada
vez mais competitivo, gera diminuição de custos. Esse processo desencadeia uma
enorme acumulação de capitais pelos donos dos meios de produção que
posteriormente serão usados para realizar investimentos no desenvolvimento de
novos produtos e na geração de inéditas tecnologias de ponta, sempre a serviço
da indústria e da produção lucrativa. Flexibilização e terceirização como novas
formas de gestão e organização do trabalho, inspiradas no toyotismo, muitas
vezes, burlam a legislação trabalhista. Mas flexibilização e terceirização
criaram também novas formas de dessolidarização “legal”, enriquecimento exorbitante
de setores sociais privilegiados e exploração descontrolada de outros setores
pela aceleração e precarização de determinados processos de produção. A solidariedade não dá conta da acumulação do capital. Exige justiça!
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