Paul Singer sobre uma
iniciativa que veio do Himalaia
Desta maneira,
"ganha importância a iniciativa do Butão, um pequeno reino no Himalaia -
continua Singer - que no ano passado propôs à Assembleia Geral da ONU que a
contabilidade nacional adotada pelas nações substitua o PIB pelo FIB, a
Felicidade Interna Bruta, que o próprio Butão adota desde 2008."
Eis o artigo
O PIB é o grande
objeto de desejo das forças que governam nações. Ele é a somatória das
transações - compras e vendas - realizadas nos mercados de um país em um ano. [...]
Por isso, as nações se
esforçam pela expansão perene e intensa de seu PIB. Mas, apesar de seu
prestígio, o PIB, enquanto medidor indireto de bem-estar, tem lacunas.
A primeira é não
incorporar o desgaste de recursos naturais, porque ninguém precisa pagá-lo.
Evidentemente, se a terra sujeita a sucessivos plantios e colheitas perde a
fecundidade, alguém pagará no futuro. O mesmo vale para o esgotamento de
jazidas de petróleo, de minerais e da extinção de espécies de peixes e outras
prendas da natureza.
Essa lacuna do PIB se
torna mais grave quando a humanidade se defronta com os efeitos acumulados do
consumo de combustíveis fósseis, que agravam o efeito estufa, aquecendo o
planeta e trazendo calamidades. O PIB, além de não medir o custo da perda dos
recursos naturais, contabiliza como positivos os gastos das nações para lutar
contra desastres naturais como incêndios florestais, poluição de oceanos por
derramamentos de petróleo, terremotos e maremotos. Quanto mais desastres um
país sofre, mais o seu PIB aumenta, de modo que o seu crescimento às vezes não
representa o aumento do bem-estar do povo, mas a redução.
A outra lacuna do PIB
é que ele ignora a forma como os produtos são distribuídos entre a população.
Para medir a contribuição do PIB ao bem-estar popular, o seu valor é dividido
pelo número de habitantes do país - daí o PIB per capita, que pressupõe que
todos participam dele por igual, o que nunca ocorre.
No
capitalismo neoliberal hoje prevalecente, a desigualdade de renda está em
aumento: os pobres, em sua maioria, ficam mais pobres, e os ricos ficam ainda
mais ricos.
Por causa dessas
falhas do PIB, ganha importância a iniciativa do Butão, um pequeno reino no
Himalaia, que no ano passado propôs à Assembleia Geral da ONU que a
contabilidade nacional adotada pelas nações substitua o PIB pelo FIB, a
Felicidade Interna Bruta, que o próprio Butão adota desde 2008.
O FIB foi construído
para medir com exatidão a variação da felicidade da população. Após diversas
consultas à população, os cientistas concluíram que a felicidade pode ser
medida pelo grau de suficiência em nove áreas: bem-estar psíquico, saúde, uso
do tempo, educação, diversidade cultural, boa governança, vitalidade
comunitária, diversidade ecológica e padrões de vida.
O governo do Butão
chegou à seguinte compreensão de felicidade: "Sabemos que a felicidade
verdadeira, fiel a si mesma, não pode existir enquanto outros sofrem. Ela
provém apenas de servir aos outros, vivendo em harmonia com a natureza".
Em julho de 2011, o
reino do Butão apresentou à Assembleia Geral da ONU, com o apoio de 68 nações,
uma proposta de resolução sobre "Felicidade: por uma abordagem holística
ao desenvolvimento", que foi adotada por unanimidade pelos 193
países-membros da ONU.
Essa resolução urge
uma abordagem mais inclusiva, equitativa e equilibrada, que promova o
desenvolvimento sustentável, erradicação da pobreza, felicidade e bem-estar de
todos os povos.
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