Nello Ruffaldi - o ressuscitado




 No dia 16 de abril, Nello volta ao Brasil
Deus seja louvado!

Num texto testemunhal, Nello Ruffaldi reflete sua Páscoa, sua passagem pelo sofrimento do CA, a quimioterapia, a operação em Roma, a presença de gente amiga e o milagre de sua cura. Dia 16 de abril ele está de volta ao Brasil. A seguir seguem alguns trechos, testemunho de fé e esperança.

“Sou Padre Nello Ruffaldi, missionário do PIME. Desde 1971, trabalho com os Povos Indígenas. Comecei na região de Oiapoque. Faço parte do Cimi desde sua fundação. [...]
2011 era, para mim, o ano de férias na Itália. Já tinha comprado a passagem de ida e volta [...]. Uma manhã aparece um pouco de sangue no escarro. A doutora Sônia mandou fazer alguns exames. No dia 13 de junho veio o resultado: Presença de uma massa de 13 cm x 8cm no lóbulo superior do pulmão esquerdo. Seguiu tomografia computadorizada. No final, o resultado: carcinoma espinocelular invasivo. E agora José? Não foi um momento fácil. A minha cabeça rodava. Recusava entregar-me ao desespero. Repetia as palavras do salmo 23: `Senhor tu és meu pastor. Mesmo que passe por um vale obscuro nada temerei. [...].´
Foi como uma passagem, um confronto com Deus, um mergulhar nele de improviso. Com certeza foi uma grande graça que recebi. Senti uma grande paz mesmo na insegurança.
Daí para frente, a vida se desenrolou como num filme em que percebes que tem um diretor que conduz a trama. Olhando para trás percebo como Deus tem dirigido a minha vida e tem me falado com múltiplos sinais que agora quero partilhar com vocês.
Os primeiros atores deste filme foram os amigos.
No começo Rebeca, Sonia, Ana Maria, Ângelo, Carlo, Vilson, Artur, Zica, a minha família na Itália. Foi celebrar nas comunidades e pedi orações. Desde o começo me senti rodeado, acompanhado. Os amigos e suas manifestações foram crescendo a cada dia, de todo canto: amigos de cada dia e amigos esquecidos, amigos perdidos há dezenas de anos, amigos que não sabia serem amigos, amigos do Cimi e do PIME e tantos outros novos. A comunicação começou no Brasil, mas continuou em Roma, na minha aldeia, na minha diocese, na Itália. Os amigos transmitiam solidariedade, abraços, coragem, esperança, amizade, amor, carinho, orações, fé.
O mundo da amizade e solidariedade foi um mundo novo que se abriu em concomitância com a doença. Ficava comovido, alegre, chorando, agradecendo, me maravilhando. Era um mundo conhecido, mas em boa parte novo, não sonhado. Esta experiência foi tão forte que disse a Deus: `Senhor, não gosto da doença, mas em contrapartida é tão gratificante!´
O segundo ator sou eu.
No momento que descobri de ter um tumor maligno no pulmão senti também que Deus tomava conta de mim e conduzia a minha vida. Eu me entreguei a Ele e Deus me inspirou três atitudes que até agora me acompanham:
• Me entregar por completo nas mãos de Deus com abandono e confiança sem limites.
• De minha parte lutar com tudo em favor da vida e da saúde independentemente do resultado
• Dar um passo depois do outro, com serenidade, segurança descobrindo, o que Deus estava escrevendo em minha vida.
Escolhi duas orações. A primeira foi de padre Carlos de Foucauld:

Meu Pai, amigo Jesus,
Eu me abandono em Ti,
Faz de mim o que quiseres.
O que fizeres de mim eu te agradeço,
Eu nada mais quero.
Senhor! Nas tuas mãos entrego a minha vida,
Eu me entrego a Ti por completo
Porque ti amo e me sinto amado.
Em ti tenho completa confiança
Porque és meu amigo, meu Pai
E meu Salvador.

• A segunda, eu fiz:
Dom Luciano,
Valioso presente de Deus para a igreja, para os Povos Indígenas e para mim. Como em Jesus, a tua grandeza como homem cresceu na medida da tua proximidade com as pessoas e com a causa dos mais humildes. Homem de Puebla e da opção referencial pelos pobres. Luciano, cada vez que te procurei, recebi de ti Proteção, coragem e confiança. Eu me entrego corpo e alma ao meu Deus e Salvador. Eu te escolho como meu padrinho. Acompanha-me neste momento! Confio no meu Deus e em você.
Esta atitude nunca me abandonou durantes estes meses. Não pedia um milagre, mas repetia:`Meu Deus a minha pessoa e a minha vida te pertencem; faz de mim o que tu queres.´
Esta doença esta tendo um epilogo inesperado. O que estava no meu pulmão era um tumor maligno, “carcinoma espinocelular invasivo” e agora não tem mais sinais da sua presença. E’ um caso que acontece muito raramente. Eu penso que é uma graça de Deus. Penso que Dom Luciano e os amigos bem próximos a Deus tiveram trabalho. Eu experimentei que Ele armou a sua tenda em minha vida e me acompanhou e acompanha.
Os terceiros atores são os que apareceram 
no decorrer da doença
Na Itália encontrei todas as portas abertas e profissionais competentes, atenciosos e interessados. Num hospital com 1600 doentes me chamaram para a visita com cada um dos especialista e para fazer os exames num tempo curto. Pensem que cheguei no dia 20 de julho e no dia 1 de agosto já iniciava a primeira quimio. Cada médico que me acompanhou me parecia o melhor, assim como os cirurgiões que tiraram o meu pulmão. A todos o meu muito obrigado e o pedido a Deus que os abençoe e acompanhe sempre. Me senti recebido e acompanhado na casa do PIME que senti como minha; gostei dos meus irmãos missionários entre eles Padre Gianluca Galimberti foi disponível o tempo todo.
O quarto protagonista é o Brasil
O Brasil esteve sempre presente, em cada momento da doença; alias, durante a doença tornaram-se mais claras a nova missão em Moçambique e principalmente a missão nas fronteiras: Brasil, Guiana Francesa e Suriname. Espero mesmo que as duas se tornem realidade durante o 2012. Pensei bastante na missão Belém com os rapazes e as mulheres de rua pelos quais sinto um carinho especial e aos quais queria dedicar parte do meu tempo. Enfim, olhando atrás, a fé no Deus que me ama e conduz a minha vida aumentou. Eu me sinto pequeno e muito amado.” 

"Tantas veces me mataron,
tantas veces me morí,
sin embargo estoy aquí 
resucitando.
Gracias doy a la desgracia
y a la mano con puñal,
porque me mató tan mal,
y seguí cantando."


3 comentários:

  1. Saudoso Paulo,
    Valioso presente de Deus para a igreja, para os Povos Indígenas e para mim. Como em Jesus, a tua grandeza como homem cresceu na medida da tua proximidade com as pessoas e com a causa dos mais humildes. Homem de Puebla e da opção referencial pelos pobres. Paulo, cada vez que procurei a tuas palavras de aliento no encontro de Dourados e no teu Blog eu as encontrei, recebi de ti orientação, animos,coragem e confiança. Eu me entrego de corpo e alma ao meu Deus e Salvador. Eu te escolho como meu padrinho. Acompanha-me neste momento simplesmente com tua luta de amor pelos nossos povos originários! Confio no meu Deus e em teu testemunho de perseverança e fé.
    Espero que esta atitude nunca me abandone durantes estes meses que deverei enfrentar no meu tratamento de carcinose tumoral degenerativa. Não quero pedir um milagre, mas quero repetir assim como você:Meu Deus a minha pessoa e a minha vida te pertencem; faz de mim o que tu queres.obrigado por tua existência em nossas vidas e exemplo de missionário para todos nós! Alicia Viviana Mendez de Rosales-Corumbá-MS-Pantanal

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    1. Querida Alícia Viviana,
      só hoje encontrei seu comentário do dia 15 de abril no meu blog. Te respondo com um verso do hino das Laudes de hoje:
      "Por sob a pedra posto
      por guardas vigiado,
      sepulta a própria morte
      Jesus ressuscitado".
      Na amizade universal do Ressuscitado,
      Paulo Suess

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