O ex-mordomo do papa, a futura viagem do papa ao Líbano
diante da situação síria, e uma recente pesquisa sobre a religiosidade e a
ascensão do ateísmo em todo o mundo.
A reportagem é de John L. Allen Jr., publicada no jornal
National Catholic Reporter, 17-08-2012. A tradução é de Moisés Sbardelotto
(Unisinos).
1. Em primeiro lugar, o Vaticano, na última segunda-feira,
13, confirmou que o ex-mordomo papal Paolo Gabriele irá enfrentar o tribunal
nos próximos meses sob a acusação de ter sido a suposta "toupeira" no
centro do escândalo de vazamento vaticano, juntamente com um especialista em
tecnologia da informação que trabalhava na Secretaria de Estado e é acusado de
auxiliar e favorecer o crime.
2. Em segundo lugar, cinco países predominantemente sunitas,
na quinta-feira, 16 de agosto, aconselharam seus cidadãos a abandonar o Líbano por medo
da violência pró-Síria por parte da grande comunidade xiita do país. Na
quarta-feira, 15, um voo da Air France para Beirute foi desviado para o Chipre,
quando xiitas bloquearam brevemente a estrada para o aeroporto da capital
libanesa. Desde que a revolta eclodiu na Síria, houve diversos casos de
libaneses que foram sequestrados ou detidos na Síria pelas forças rebeldes sob
a acusação de apoiar Bashar Assad, o presidente da Síria, e de sírios que foram
pegos por clãs xiitas no Líbano por suspeitas de apoiar os rebeldes.
O Papa Bento XVI deve visitar o Líbano entre os dias 14 e 16
de setembro. Autoridades vaticanas disseram que as preocupações de segurança
não devem atrapalhar a viagem, mas, se a luta na Síria transbordar para o
Líbano de forma significativa, esse cálculo pode mudar.
3. Terceiro, a grupo de pesquisa internacional WIN-Gallup
International divulgou uma nova pesquisa global que mostra que o ateísmo está
em ascensão, mas 59% da população mundial ainda se descreve como
"religiosa".
Tomados em conjunto, os resultados parecem desbancar dois
mitos persistentes sobre a religião global:
O ateísmo é principalmente um fenômeno ocidental. Ao
contrário, a Ásia é de longe o continente mais ateu do mundo, sendo que a China
sozinha é o lar de dois terços dos cerca de 900 milhões de ateus do planeta.
O cristianismo está em declínio com relação a outras
religiões mundiais, especialmente o Islã. Ao invés, 9 dos 10 países mais
religiosos do mundo são majoritariamente cristãos, e as pessoas que se
autoidentificam como cristãs são mais propensas a se descrever como
"religiosas" do que os muçulmanos (81% contra 74%).
Os entrevistadores fizeram a mesma pergunta a pessoas de 57
nações: "Independentemente da sua assistência a um lugar de culto, você
diria que é uma pessoa religiosa, não religiosa ou um ateu convicto?".
Segundo a pesquisa, estas são as principais nações ateias do
mundo, medidos em termos de porcentagem da população:
Japão: 31
República Tcheca: 30%
França: 29%
Coreia do Sul: 31%
Alemanha: 15%
Holanda: 14%
Áustria: 10%
Islândia: 10%
Austrália: 10%
Irlanda: 10%
Em geral, a pesquisa do WIN-Gallup International conclui que
13% da população mundial é ateia, um aumento de 3% desde 2005. A estimativa de
2012 se traduz em 900 milhões de ateus em todo o mundo. Se 47% do 1,3 bilhão de
chineses pensam em si mesmos dessa forma, há 611 milhões de ateus na China
sozinha, dois terços do total.
A pesquisa do WIN-Gallup International descobriu que estas
são as nações mais religiosas, novamente medidas segundo a porcentagem de
população:
Gana: 96%
Nigéria: 93%
Armênia: 92%
Fiji: 92%
Romênia: 89%
Iraque: 88%
Quênia: 88%
Peru: 86%
Brasil: 85%
Todos, exceto o Iraque, são sociedades em que o cristianismo é a tradição religiosa dominante. Dois são nações tradicionalmente católicas (Peru e Brasil), três são tradicionalmente ortodoxas (Armênia, Macedônia e Romênia), e o restante é uma mistura entre uma variedade de confissões cristãs, embora o catolicismo seja uma presença significativa, como em Gana, na Nigéria e no Quênia.
Todos, exceto o Iraque, são sociedades em que o cristianismo é a tradição religiosa dominante. Dois são nações tradicionalmente católicas (Peru e Brasil), três são tradicionalmente ortodoxas (Armênia, Macedônia e Romênia), e o restante é uma mistura entre uma variedade de confissões cristãs, embora o catolicismo seja uma presença significativa, como em Gana, na Nigéria e no Quênia.
Como nota de rodapé, oito das 10 nações com as maiores
porcentagens de ateus também são tradicionalmente cristãs, mas apenas duas são
historicamente católicas (França e Irlanda) e nenhuma é ortodoxa. Em paralelo
com outras descobertas, os resultados poderiam sugerir que o catolicismo e a
ortodoxia têm resistido às tempestades da modernidade com um sucesso
ligeiramente maior do que as versões tradicionais do protestantismo.
A pesquisa também perguntou às pessoas se elas se
identificam com uma tradição religiosa, independentemente de serem pessoalmente
"religiosas". As porcentagens das principais tradições em termos de
pessoas que também disseram ser "religiosas" são as seguintes:
Cristãos: 81%
Muçulmanos: 74%
Judeus: 38%
Com relação aos Estados Unidos, a pesquisa do WIN-Gallup
International mostrou um significativo declínio na religiosidade desde 2005. A
porcentagem de norte-americanos que se descrevem como "religiosos",
de acordo com a pesquisa, caiu de 73% para 60%, enquanto a parcela que se
identifica como ateia passou de 1% para 5%.
Certamente, o momento e a forma como as questões são
formuladas podem distorcer os resultados da pesquisa, especialmente em uma
pesquisa transcultural. As pessoas também podem interpretar os resultados de
várias maneiras. Alguns especialistas dos Estados Unidos, por exemplo,
argumentam que o que a pesquisa capta não é uma verdadeira mudança na
religiosidade, mas sim o declínio do estigma social associado ao fato de chamar
a si mesmo de ateu, ou a admissão em voz alta de não ser religioso.
No entanto, em nível geral, esses resultados podem ajudar a
recompor as percepções da situação global – especialmente com relação à
situação dos ateus e do cristianismo.
[Terça, 21 de agosto de
2012]
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