Esperamos
que o resultado seja a construção de uma unidade programática, em torno de
pontos comuns, para enfrentar os mesmos adversários.
Editorial
da edição 494 do Brasil de Fato
Entre os
dias 20 e 22 de agosto, no Parque da Cidade em Brasília (DF), se realiza um
encontro nacional de todos os movimentos sociais e entidades que atuam no meio
rural brasileiro. Lá estarão os representantes do movimento sindical como a
Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag), a Federação
Nacional dos Trabalhadores e Trabalhadoras na Agricultura Familiar (Fetraf),
dos movimentos sociais do campo vinculados a Via Campesina Brasil como o
Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), o Movimento de Mulheres Camponesas
(MMC), o Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA), o Movimento dos Atingidos
por Barragens (MAB).
Estarão
também os movimentos de pescadores e pescadoras artesanais do Brasil e
representantes das centenas de agrupamentos quilombolas esparramados pelo país.
A
Articulação dos Povos Indígenas do Brasil (APIB) e o Conselho Indigenista
Missionário (Cimi) também marcarão presença com a questão indígena. As
pastorais sociais que atuam no meio rural, como Comissão Pastoral da Terra
(CPT), Cáritas, Pastoral da Juventude etc, e também dezenas de outros
movimentos regionalizados ou de nível estadual se farão presentes.
Assim, será
portanto, um encontro unitário, plural e expressivo de todas as formas de
organização e representação que existem hoje no meio rural brasileiro,
abrangendo desde os assalariados rurais, camponeses, pequenos agricultores
familiares, posseiros, ribeirinhos, quilombolas, pescadores e povos indígenas.
Todos unidos, independente da corrente política ou ideológica a que se
identificam.
Esse
encontro será histórico, porque que na trajetória dos movimentos sociais do
campo essa unidade somente havia ocorrido uma vez, em novembro de 1961, quando
se realizou em Belo Horizonte (MG) o I Congresso Camponês do Brasil. Naquela
ocasião também se unificaram todos os movimentos, de todas as correntes
políticas-ideológicas, desde o PCB, PSB, esquerda cristã, PTB, brizolistas e
esquerda radical.
A unidade
foi necessária, apesar da diversidade, para cerrar fi leiras contra a direita e
dar força ao novo governo popular de João Goulart para assumir a bandeira da
reforma agrária e elaborar uma lei inédita de reforma agrária para o país. Daí
que o lema resultante dos debates e que iria orientar a ação prática dos
movimentos foi “Reforma agrária: na lei ou na marra!”
Passaram-se
50 anos para que, mais uma vez, todas as formas de organização da população que
vive no campo viessem a se reencontrar. E agora com uma representação ainda
maior, acrescida dos quilombolas, pescadores e povos indígenas, que na época nem
se reconheciam como formas organizativas de nosso povo.
E por que
foi possível realizar esse encontro? Por várias razões. Primeiro, porque o
capital está em ofensiva no campo. Sob a hegemonia do capital financeiro e das
empresas transnacionais está impondo um novo padrão de produção, exploração e
espoliação da natureza: o agronegócio. E o agronegócio construiu uma unidade,
uma aliança do capital, aglutinando o capital financeiro, as corporações
transnacionais, a mídia burguesa e os grandes proprietários de terra. E essa
aliança representa hoje os inimigos comuns para toda a população que vive no
meio rural, e que depende da agricultura, da natureza, da pesca, para
sobreviver.
Em segundo
lugar, porque estamos assistindo à subserviência do Estado brasileiro, em suas
várias articulações a esse projeto. O poder Judiciário, as leis e o Congresso
Nacional operam apenas em seu favor.
Em terceiro
lugar, estamos assistindo a um governo federal dividido. Um governo de
composição de forças, que mescla diversos interesses, mas que o agronegócio
possui maior influência, seja nos ministérios seja nos programas de governo.
Em quarto
lugar, percebeu-se que essa forma de exploração e de produção do agronegócio
está colocando em risco o meio ambiente, a natureza e a saúde da população, com
o uso intensivo de agrotóxicos, que matam. Matam a biodiversidade vegetal e
animal e matam indiretamente os seres humanos, com a proliferação de
enfermidades, em especial o câncer, como têm denunciado os cientistas da área
de saúde.
Em quinto
lugar, porque o país precisa de um projeto de desenvolvimento nacional, que
atenda aos interesses do povo brasileiro e não apenas do lucro das empresas.
Nesse projeto, a democratização da propriedade da terra e a forma como devemos
organizar a produção dos alimentos é fundamental.
Em sexto
lugar, é necessário que se reoriente as políticas públicas, de forma
prioritária para preservar o meio ambiente, produzir alimentos saudáveis com
garantia de mercado, e garantia de renda e emprego para toda a população que
mora no interior.
Em sétimo
lugar, é necessária colocar na pauta prioritária dos movimentos sociais do
campo a democratização do acesso à educação, em todos os níveis. Desde um
programa massivo de alfabetização, que tire da escuridão os 14 milhões de
adultos brasileiros que ainda não sabem ler e escrever, até garantir o acesso
ao ensino médio e superior aos mais de 3 milhões de jovens que vivem no meio
rural.
Tudo isso
será debatido durante os três dias do Encontro Nacional de Trabalhadores
Rurais.
Esperamos
que o resultado seja a construção de uma unidade programática, em torno de
pontos comuns, para enfrentar os mesmos inimigos, como também se possa avançar
para construir uma agenda de lutas e mobilização unitária para 2013.
Salve o II
encontro nacional de todos os trabalhadores e populações que vivem no interior
do Brasil
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