Nos
meados de julho, nosso companheiro Joel, ex-aluno do pós da Missiologia de
São Paulo, foi sequestrado e ficou nove dias nas mãos dos narcotraficantes.
Joel é pároco na Taraumara no Norte do México. No dia do sequestro estava
visitando uma filial de sua paróquia. Para os cartéis de droga, a vida humana
vale pouco. Pelo menos vinte e oito mil mexicanos morreram, nos últimos quatro
anos, por causa da violência desatada pelo controle do tráfico de drogas.
Quais
os principais cartéis de drogas no México?
a)
O Cartel de Sinaloa é um dos mais perigosos e fortemente armados do país e é
hoje o principal responsável pela distribuição de cocaína no mundo,
transportando a droga desde os campos de cultivo até as ruas das grandes
cidades dos EUA.
b)
Los Zetas: grupo paramilitar, originalmente formado para trabalhar para o
Cartel del Golfo em uma ação "antiguerrilha" contra os zapatistas na
década de 1990, ao lado dos EUA e de Israel. Hoje atuam de forma
independente, promovendo operações complexas de narcotráfico que demandam
armamentos sofisticados. Seus integrantes traficam armas, promovem sequestros,
recolhem os resgates e cometem assassinatos. Suspeita-se que eles sejam
financiados por grandes empresas mexicanas.
c)
O Cartel del Golfo existe desde a década de 1940, entrou para o narcotráfico
nos anos 1970 e começou a controlar todas as atividades desse tipo no nordeste
do México. Entre 2005 e 2007, seus integrantes enfrentaram o Cartel de Sinaloa
pelo controle da cidade de Nuevo Laredo, na fronteira com o Texas. Quem comanda
as ações do Cartel del Golfo é Heriberto Lazcano. Seu verdadeiro líder, Osiel
Cárdenas, está preso desde 2003.
d)
La Família Michoacana é um grupo que surgiu pequeno, mas está entre os quatro
cartéis mais fortes do México. No momento, seus integrantes estão em confronto
com os grupos Los Zetas e Beltrán Levya, reagindo aos roubos e sequestros
provocados por estes.
e)
O Cartel de Tijuana ficou bastante enfraquecido depois das prisões de seus
líderes e do combate do governo ao tráfico. A organização, retratada no filme
do diretor Steven Soderbergh Traffic (vencedor de 4 Oscar em 2001), controla o
corredor Tijuana (México)-San Diego (EUA).
f)
O grupo Beltrán Levya fazia parte do Cartel de Sinaloa e se tornou
independente. Trabalha em conjunto com outros cartéis, como Los Zetas, contra
as forças do Cartel de Sinaloa.
g)
O Cartel de Juárez já foi responsável por cerca de 50% das substâncias ilegais
que entram nos EUA pelo México e considerado o responsável pelo crescimento das
vendas de heroína mexicana no Texas. Também está em confronto direto com grupo
de Sinaloa.
Pequeno
histórico
O
México já servia de passagem para a droga produzida na Colômbia, principalmente
depois que a repressão se intensificou no Caribe e no sul da Flórida, nos anos
1980. Com o aumento da repressão na própria Colômbia, os cartéis mais famosos
foram destruídos, como os de Medellín e Cali, o que abriu oportunidades para os
mexicanos. Hoje, o país domina a distribuição e o comércio de cocaína nos
estados das regiões oeste e central dos EUA, enquanto os colombianos controlam
parte do tráfico no leste do país. A produção da cocaína permanece basicamente nas
mãos dos sul-americanos. A maconha consumida pelos americanos é quase toda
cultivada no México. 90% das armas usadas pela polícia mexicana vêm dos Estados
Unidos, o que facilita a chegada também às mãos dos vários cartéis por meio de
agentes corruptos. Mas o trânsito ilegal também é forte na fronteira. Cerca de
2.000 armas são contrabandeadas dos EUA para o México diariamente.
Pra
o inglês ver, prisões sofisticadas
Recentemente,
o governo do México inaugurou uma sofisticada prisão de segurança máxima para onde
pretende enviar os líderes dos grandes cartéis do tráfico de drogas. A nova
prisão fica no noroeste do país e tem capacidade para mais de 3,5 mil
prisioneiros. As autoridades afirmam que esta fortaleza conta com a última
tecnologia em segurança e vigilância. A guerra ao tráfico de drogas no México
já se estende por cinco anos e alguns dos mais importantes chefões de cartéis
do tráfico, como Joaquín "El Chapo" Guzmán, que está na lista dos
mais procurados do FBI, já conseguiram escapar de prisões mexicanas. O envolvimento
de políticos, polícias, militares e consumidores poderosos no comércio da droga
impossibilita uma solução do problema. O
sacerdote Alejandro Solalinde denuncia que nesta crise humanitária “há
cumplicidade de autoridades, há corrupção e há colusão”.
Solalinde assegura que
nas cinquenta e duas Casas do Emigrante que há ao longo do país, registram-se
casos de sequestros diariamente. Pablo Martínez, porta-voz da ONG Sin
Fronteras, destaca: “Não há uma política de atendimento às vítimas de
sequestro, não há prevenção do delito, não há absolutamente nada mais que
palavras por parte do Estado mexicano”.
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