28º Encontro da Pastoral Indigenista do Alto Uruguai - Epiau




Dívidas e dúvidas da Pastoral Indigenista

Nos dias 21, 22 e 23 de maio está acontecendo, em Passo Fundo, o 28º Encontro da Pastoral Indigenista do Alto Uruguai – Epiau. O Evento reune diversos agentes da Pastoral Indigenista das dioceses de Passo Fundo, Vacaria, Erechim, Frederico Westphalen, Chapecó (SC) e Guarapuava (PR). Tem como objetivo revisar e avaliar a ação missionária realizada e projetar nova presença da Igreja Católica entre os povos Kaingang e Guarani da região. O Epiau foi realizado pela primeira vez em 1983 e tem se tornado um espaço importante de reflexão, planejamento e efetivação da Pastoral Indigenista.

Presença indígena na Arquidiocese de Passo Fundo

A presença indígena na Arquidiocese é muito antiga. Antes da conquista violenta realizada pelos invasores europeus, aqui e em todo o continente latino-americano, já habitavam inúmeros povos indígenas, cada qual com sua língua, cultura e religião.
O povo Guarani
No caso da região de Passo Fundo, no século XVII tornou-se célebre a Redução de Santa Tereza, formada por indígenas Guarani. Foi fundada pelo jesuíta padre Francisco Jiménez, em 1632. Chegou a reunir cerca de 4 mil indígenas, liderados pelo cacique Guaraé. Em 1637, às vésperas do Natal, a Redução de Santa Tereza foi atacada e destruída pelos bandeirantes paulistas. Levaram como escravos um grande número de indígenas para o trabalho nas lavouras paulistas. Os que resistiram foram assassinados barbaramente. Os que conseguiram fugir transferiram-se para a atual região das Missões onde, anos mais tarde, constituíram-se os Sete Povos das Missões, que também foram completamente destruídos na década de 1750, quando Sepé Tiaraju tombou mártir, junto com milhares de indígenas Guarani.
O povo Kaingang
O povo Kaingang ocupa a tradicional região compreendida pelos estados de São Paulo, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul e os contatos sistemáticos com as frentes de expansão colonizadoras foram posteriores, na década de 1840. No RS, em 1848 teve início o processo de catequese e civilização, patrocinado pelo Governo Provincial e conduzido pelos missionários jesuítas. Dentre os aldeamentos constituídos, um localizava-se na região de Passo Fundo, o Aldeamento de Campo do Meio, nas proximidades da atual localidade que leva o mesmo nome. Foi fundado pelos padres Pedro Laderra e Miguel Cabeza.

O povo Kaingang teve um enfrentamento muito violento com as novas frentes de expansão colonizadoras. Com a constituição do Império do Brasil em 1822, a estratégia era a ocupação dos territórios e ampliação das atividades produtivas, de modo especial, a agricultura e a pecuária. As autoridades não consideravam a presença das populações indígenas e autorizavam o loteamento dos territórios em colônias, que eram vendidas aos imigrantes. Para vencer a resistência dos Kaingang foi desenvolvida a política de aldeamentos, que se tornaram uma espécie de campo de concentração. Os indígenas que resistiam eram caçados e assassinados por equipes paramilitares chamadas de bugreiros, que recebiam seu soldo pela quantidade de indígenas aprisionados ou assassinados.

Uma história de violência e submissão



A presença indígena na região da Diocese de Passo Fundo precisa ser analisada a partir da história e da trajetória destes dois povos indígenas: Guarani e Kaingang. O historiador Ney d’Avila assim descreve a presença indígena em Passo Fundo: desde o primeiro momento da fixação do elemento luso-brasileiro em terras passo-fundenses o indígena foi hostilizado como inimigo número um a ser expulso ou abatido. Esta hostilidade não visava apenas a ‘segurança’ dos campos e das trilhas tropeiras, mas também, a possibilidade do homem ‘branco’ incursionar pelos matos. Na disputa pelos campos, mas especialmente pelas matas passo-fundenses, os índios foram os grandes perdedores. A maioria foi fisicamente eliminada ou banida para outras terras onde melhor sorte não lhes esperava. Uma minoria sobreviveu aculturada, adaptada aos ‘civilizados’, destribalizada ou confinada a ‘reservas’ de diferentes tipos.
Os Kaingang foram os únicos indígenas que sobreviveram na região da Diocese de Passo Fundo. Vivem hoje em três terras indígenas (TI): TI Ligeiro - Charrua, TI Carreteiro - Água Santa e TI Serrinha - Ronda Alta. Também estão presentes em três acampamentos: Carazinho, Mato Castelhano e Campo do Meio, que foram criados em vista da retomada de territórios tradicionais, dos quais foram expulsos no passado.

A Pastoral Indigenista

Este é o nome dado à ação missionária desenvolvida pela Igreja Católica junto às comunidades indígenas. Nos primórdios da evangelização no Brasil, a postura da Igreja em relação aos povos indígenas nem sempre foi evangélica, tornando-se aliada e colaboradora no processo de submissão e subordinação às ordens governamentais, que dizimaram inúmeros povos. Foi muito mais catequização e cristianização que evangelização. A partir do momento em que a Igreja Católica se dispôs a uma revisão de sua ação missionária, uma das áreas que passou por um processo de mudanças foi a Pastoral Indigenista. O desafio que passou a ser colocado desde o primeiro dia do encontro foi de uma evangelização inculturada, que prime pelo respeito às manifestações religiosas e culturais, pelo diálogo e que permita aos povos indígenas tornarem-se sujeitos do processo de evangelização. No levantamento da realidade deste 28 Epiau percebeu-se uma grande inconstância e ausência da Igreja Católica. Os Kaingang e os Guarani pedem a presença de missionários e missionárias. Muitas vezes, esse pedido é atendido por Igrejas evangélicas que proliferam em número e diversidade.
Renato Biasi

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