O
Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) e representantes de sete entidades
que atuam na área da defesa dos direitos humanos e de agricultores se disseram
na segunda-feira (17) "indignados" e com "medo" por causa
de artigo do diretor-geral da FAO, o brasileiro José Graziano da Silva, em
parceria com Suma Chakrabarti, presidente do Banco Europeu para a Reconstrução
e o Desenvolvimento (Berd), no qual os dois afirmam que "o mundo precisa
de mais alimentos" na luta contra a fome e sustentam que "o setor privado
pode ser o principal motor de tal crescimento". O texto, que saiu no
último dia 6, na edição europeia do The Wall Street Journal, tem o título de
"Fome por Investimento".
Em
sua nota, o MST e seus aliados acusam a FAO e o Berd de pregarem um modelo de
agricultura que destrói a produção camponesa. "Indignação e medo foi o que
nos provocou o artigo com assinatura de José Graziano da Silva e Suma
Chakrabarti", afirmaram. E a nota prossegue: "Ainda que se refiram
especificamente à Europa Oriental e ao Norte de África, também fazem um chamado
a que os investimentos e a concentração de terras se generalizem em todo
mundo".
Graziano
foi ministro de Segurança Alimentar e Combate à Fome, no início do governo do
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, e a ele coube comandar o Programa Fome
Zero. Abandonado tempos depois, o programa foi substituído pelo bem-sucedido
Bolsa Família.
O
artigo dos dois economistas menciona um importante encontro realizado na semana
passada, na Turquia, por grandes empresas de agronegócio de vários países da
Europa Central. Destacam que "severos períodos de seca, aumento de preço
dos grãos e escassez de alimentos (...) constituem um urgente convite à
ação". E alinham, a seguir, as avaliações que deixaram os movimentos sociais
brasileiros indignados: "Dinâmicas, eficientes empresas privadas
transformaram países como Rússia, Ucrânia e Casaquistão, após o colapso de suas
fazendas coletivas, em gigantescos exportadores de grãos, em nossos dias".
Esses
três países, prosseguiram, "já garantem 15% das exportações mundiais de
grãos, e com políticas apropriadas poderão dobrar as suas colheitas". Por
fim, eles convidam essas empresas a ampliar seus investimentos em compra de
terras. Admitem, porém, que para conseguir mudar o cenário e fornecer mais
alimentos ao mundo, "um bocado de trabalho é necessário". E o setor
privado "precisa duplicar o investimento em terras, em equipamentos e em
sementes". Dizem os dois, por fim, que "o debate sobre o papel do
setor privado na segurança alimentar mundial precisa ser levado em conta não
apenas na Europa emergente, na Ásia e na África, mas também nos países
ocidentais".
Reação
Na
sua reação às sugestões da FAO e do Berd, a nota do MST e de seus aliados
destaca que "(os dois) chamam os governos a facilitar os grandes negócios
privados na agricultura". Além disso, trataram "o setor camponês e as
poucas políticas de proteção da agricultura que ainda existem como um fardo, um
peso que não permite avançar o desenvolvimento agrícola e que deve ser eliminado".
[18 de setembro de 2012 - JOÃO DOMINGOS - Agência
Estado]
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