DEUS É GRANDE!
Missionário da Igreja do Evangelho Quadrangular, Ministério
Casa do Leão, Carlos, conhecido como Carlão, conta na frente do púlpito, na
noite de ontem, que conheceu Florisvaldo de Oliveira, antes conhecido como Cabo
Bruno, no Presídio de Tremembé.
Pouco mais de um mês depois de ser colocado em liberdade,
Florisvaldo de Oliveira assumiu ontem a função de pastor, substituindo do cargo
sua mulher, Dayse França, que comandou a igreja durante dois anos. A cerimônia
durou cerca de 2h30 e teve a presença de mais de dez pastores, uma comitiva de
quatro representantes da sede da igreja no Rio, carcereiros do presídio e
ex-detentos convertidos.
No começo do culto, seus três enteados, filhos de Dayse,
entoaram canções religiosas que levaram parte dos 50 presentes às lágrimas. Na
igreja, um antigo restaurante todo envidraçado, no topo de uma colina, os
presentes eram chamados para falar a respeito da transformação de Florisvaldo.
"O mundo todo e a sociedade podem olhar para você atravessado. Ele (Jesus)
olha reto", iniciou a pregação o pastor Airton, olhando para Florisvaldo,
que acompanhou os testemunhos de olhos fechados. Durante as músicas, dançava
discretamente e levantava a mão direita.
Recuperação. Há
exatos 30 anos, em 1982, quando ainda era soldado da Polícia Militar, Cabo
Bruno passou a matar os jovens dos bairros da periferia da zona sul da cidade,
suspeitos de serem criminosos. Bancado pelos comerciantes locais, se tornou um
dos justiceiros mais famosos e temidos de São Paulo. Matava por não acreditar
na recuperação dos "bandidos" que, para ele e para os demais
justiceiros e seus financiadores, deveriam ser exterminados. Em entrevistas, a
jornais dizia, orgulhoso, ter matado mais de 50 pessoas.
Na cerimônia de ontem, ele e os demais testemunhavam
justamente sobre as chances que devem ser dadas para que as pessoas possam
mudar. "Todos podem mudar. Essas mudanças são o maior milagre de
Deus", dizia o irmão Pedro Silvestre. "Não cabe a nenhum de nós
julgar o próximo, ainda que seus pecados sejam vermelhos como o escarlate, se
tornarão brancos como a neve", dizia o bispo Vladimir, da Igreja Refúgio
em Cristo, que veio do Rio especialmente para a cerimônia.
Almas resgatadas.
Depois de 21 anos preso, considerando as três fugas ao longo dos anos 1980,
Florisvaldo e outros pastores defendiam os prisioneiros e o trabalho
missionário nas cadeias. "Lá dentro tem homens e mulheres de Deus. Quem
não pecou que atire a primeira pedra. As almas deles precisam ser
resgatadas."
Desde que se converteu, segundo os depoimentos, Florisvaldo
se mostrou uma pessoa metódica e empenhada. Construiu uma igreja no Presídio de
Tremembé. Fez o púlpito com madeira, pintou de azul, lixou e pintou de novo.
"Se eu não ficasse tanto tempo, talvez não estivesse agora aqui",
disse.
As trágicas histórias que viveu não foram mencionadas
durante o culto, ao contrário do que costuma ocorrer nos testemunhos
evangélicos. "Queremos esquecer o passado", disse a mulher, Dayse.
"Somos hoje servos de Deus e queremos ter paz para viver."
A mulher, Dayse, pediu a todos que orassem pelo sucesso do novo pastor. Depois de assinar o documento de posse, Florisvaldo fez sua primeira fala como pastor. Disse que iria saquear o inferno, tomando as almas de Satanás e as entregando para um reino de luz. "Nunca fui de ficar parado", disse o evangélico, que agora diz continuar sua guerra de forma pacífica.
[BRUNO PAES MANSO , TAUBATÉ - O Estado de S.Paulo]
Pouco mais de um mês depois de deixar a cadeia, onde cumpriu pena por quase três décadas, o ex-policial militar conhecido como Cabo Bruno foi assassinado, nesta quarta-feira (26) à noite, no interior de São Paulo.Foram pelo menos dez tiros. Cabo Bruno voltava de um culto com a mulher e um parente quando foi alvejado.
Se é guerra, não é paz!!
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