Morreu
o profeta fiel do semiárido
Depois
de 28 anos em Juazeiro, Bahia, D. José Rodrigues, "saiu com toda a mudança
que trouxe: uma mala que cabia uma muda de roupas – que ele lavava todas as
noites para vestir no dia seguinte – e seu livro de oração", testemunha
Roberto Malvezzi (Gogó), em depoimento publicado no sítio Racismo Ambiental,
09-09-2012.
Eis
o depoimento
D.
José Rodrigues foi o homem certo, no lugar certo, na hora certa. Quando chegou
a Juazeiro para ser bispo, a barragem de Sobradinho estava em construção.
Então, ele assumiu a sorte dos relocados, depois dos pobres em geral e nunca
mudou. Chegou em 1975.
Aqui
era área de segurança nacional, regime militar, ACM governador, prefeitos
nomeados pelo presidente da república. Não havia partidos, nem organizações
populares. Então, com poucos padres e religiosas, chamou leigos para apoiar os
72 mil relocados. Assim, a diocese foi durante muito tempo o abrigo para
cristãos, comunistas, ateus, qualquer um que movido pela justiça assumisse a
causa do povo.
Depois
enfrentou o período das longas secas. Criou pastorais populares. Fez o opção
radical pelos pobres e comunidades eclesiais de base. Usava as rádios e seu
poder de comunicação para defender os oprimidos pelo peso dos coronéis e do
regime militar.
Quando
um gerente do Banco do Brasil foi seqüestrado, ele aceitou ser trocado. Ficou
sob a mira dos revólveres por dias, começando sobre a ponte que liga Juazeiro a
Petrolina. Depois visitou seus seqüestradores na cadeia e ainda fez o casamento
de um deles.
Abrigou
na diocese toda convivência com o semiárido, muito lembrado nesses tempos de
estiagem. Por isso, quando a ASA fez um de seus encontros nacionais, quis
fazê-lo em Juazeiro para homenagear esse profeta do semiárido.
Costumava
contar que recebeu muitos presentes quando chegou e foi reverenciado pela
elite. No terceiro ano ganhou três camisas. No quinto ano ganhou de presente
uma única camisa dada por uma prostituta que freqüentava a escola Senhor do
Bonfim, trabalho feito junto às prostitutas da cidade.
Quando
foi embora saiu com toda a mudança que trouxe: uma mala que cabia uma muda de
roupas – que ele lavava todas as noites para vestir no dia seguinte – e seu
livro de oração.
Na
celebração de despedida afirmou na catedral: “nunca traí os pobres, nem em
época de eleição”.
D.
José faleceu nessa madrugada, dia 9 de Setembro, em Goiânia, comunidade
redentorista de Trindade, para onde foi depois de 28 anos em Juazeiro.
Hoje
(10 de set.), Seu corpo foi transladado para Juazeiro onde foi enterrado. Aqui,
sua memória jamais será esquecida por aqueles que com ele conviveram,
sobretudo, pelos em situação de pobreza, nos corações dos quais ele reside.
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