Entre os dias 12 e 15 de julho, Jornada Teológica do Cone Sul e Brasil em Santiago do Chile (1)

  Jornada de Santiago prepara  Congresso
de São Leopoldo, RS, em comemoração
da abertura do Vaticano II (1962) 


Entre os dias 12 e 15 de julho, Santiago do Chile receberá a Jornada Teológica do Cone Sul e Brasil. A Jornada é uma etapa preparatória e de mobilização para o Congresso Continental de Teologia (CCT), a ser realizado em São Leopoldo, RS, em 2012. O CCT tem como principal finalidade pensar os desafios e tarefas futuras da teologia da libertação na América Latina.

As Jornadas Teológicas serão ou já foram realizadas em quatro regiões: na Guatemala, para os países da América Central e Caribe, na Cidade do México, para mexicanos e hispanos dos Estados Unidos; e outra em Bogotá, para os países andinos.

Vou participar de dois momentos:
- da MESA DE TRABALHO 2: “Perguntas contemporâneas sobre Deus”
- do PAINEL “Teologia e prática libertadora”, no dia 15.7.

A seguir, um trecho da minha contribuição ao PAINEL:

Focos de ação

Se o nosso ponto de partida para a reflexão teológica é o sofrimento imputado ao pobre e ao outro numa sociedade de acumulação, opulência, consumo, fome e violência, o ponto de chegada visa a transformações profundas envolvendo a nossa responsabilidade política pelo “bem viver” de todos que se desdobra em lutas pela redistribuição dos bens (contra acumulação e pobreza), pelo reconhecimento do “outro” (contra todas as formas de desprezo à alteridade), por uma ética na administração da vida pública (contra corrupção e privilégios) e por uma ecologia socialmente orientada, enfim, pela paz contra todas as formas de violência.
Vulcão Chileno
Num mundo alienado pelas exigências do mercado, pela acumulação do capital, pela aceleração da produção de objetos supérfluos ou descartáveis e pelos meios de comunicação, também os pobres e os “outros” são infectados pelo vírus da alienação. Sobretudo, quando políticas públicas oferecem mitigações, compensações ou medidas paliativas para esconder estruturas e causas do sistema perverso de exploração, o vírus da alienação ameaça a identidade dos pobres e a subjetividade dos “outros”; ameaça sua autoestima e sua crença num mundo em que tudo pode ser diferente.


A análise da realidade e o recurso à revelação com o prefixo (pressuposto) da opção pelos pobres se inspiram na experiência do povo de Deus, povo santo e pecador, que foi e continua sendo ameaçado não só pelos impérios do Egito ou da Babilônia, mas também pelo império do templo de Jerusalém e pelo Império Romano cristianizado; é tentado não só pela abertura ou adaptação ao império, mas também pelo fechamento ou por um zelo exagerado pela identidade face ao mundo. Esse zelo, muitas vezes, está na raiz do fechamento e do fundamentalismo. Além disso, trigo e joio crescem não só nos campos do povo eleito, mas também no coração de cada indivíduo.

A opção pelos pobres e pelos “outros” nos dá a chave de leitura bíblica e a leitura bíblica nos lembra da ambivalência não só dos inimigos de Javé, mas também da ambivalência do próprio povo de Deus e de cada um dos eleitos. Entre opção pelos pobres, leitura bíblica e sempre nova prática libertadora da fé há um entrelaçamento circular como existe entre identidade, coerência e relevância, que sempre são parciais. A identidade não é natural. Ela é historica e culturalmente construída, a partir da nossa opção pelos pobres e pelos “outros”. Diante dela, a nossa leitura bíblica pode mostrar e aprofundar a sua relevância para a vida dos pobres. Essa relevância, que a Bíblia mostrou na história de Israel, atinge a nossa conduta e configura a profundidade e veracidade da nossa opção pelos pobres.

No seguimento de Jesus como prática teológica e social de uma Igreja samaritana se revela o grau de coerência da nossa conduta. Identidade de opção pelos pobres, relevância de leitura bíblica para com esses pobres pelos quais optamos e coerência com a nossa natureza (identidade) configuram a espiral hermenêutica que nos permite crescer e acrescentar, permanecendo o que somos e ser o que seremos: servos inúteis (cf. Lc 17,10) no canteiro de obras do mundo novo e cidadãos do Reino.

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