
MISSÃO COLONIAL EM STAND BY: Os povos indígenas e a Igreja pós-conciliar

Encontro no Comina: Viver Bem - Sumak Kawsay – Reino de Deus

Enquanto Brasil está competindo com os países com economias fortes, nas discussões constitucionais da Bolívia e do Equador irrompeu uma proposta que procura superar as políticas alinhadas com os projetos de hegemonia competitiva. Essa proposta, de origem kechwa, se articula em torno de um novo paradigma do “viver bem”, em kechwa, “sumak kawsay”. O “sumak kawsay” é uma utopia política não muito distante da nossa utopia do Reino. Ambos são precedidos ou representam um pachakuti, uma reviravolta em dimensões cósmicas. O pachakuti restabelece o equilíbrio perdido e abre o caminho para “viver em plenitude”.
Migração - imigração (Manu Chao - Clandestino)
Clandestino
Solo voy con mi pena. Sola va mi condena.Correr es mi destino.Para burlar la ley. Perdido en el corazón. De la grande Babylon. Me dicen el clandestino. Por no llevar papel. Pa' una ciudad del norte. Yo me fui a trabajar. Mi vida la dejé. Entre Ceuta y Gibraltar. Soy una raya en el mar. Fantasma en la ciudad. Mi vida va prohibida. Dice la autoridad. Solo voy con mi pena. Sola va mi condena. Correr es mi destino. Por no llevar papel.
Solo voy con mi pena. Sola va mi condena. Correr es mi destino. Para burlar la ley. Perdido en el corazón. De la grande Babylon. Me dicen el clandestino. Por no llevar papel.
X Assembléia Continental de Ameríndia

Ameríndia pretende manter e renovar a tradição teológica e pastoral latino-americana e caribenha, e atualizar a teologia da libertação. Juntamente com outras pessoas e grupos, pretende criar alternativas econômicas, políticas, sociais e culturais ao modelo neoliberal de globalização. Hoje, Ameríndia é uma rede de teólogos, comunicadores, educadores, cientistas sociais, religiosos/as e leigos/as comprometidos na Igreja e em movimentos sociais (cf. http://www.amerindiaenlared.org/).
O objetivo dessa X Assembléia era projetar a missão da entidade para os próximos três anos. Para essa finalidade, e a partir da análise social (Manuel Hidalgo) e eclesial (Virgilio Uchoa, Gabriele Cipriani), Paulo Suess foi convidado para oferecer ao grupo de aproximadamente 45 pessoas um discernimento que permita assumir os novos desafios como tarefas teológico-pastorais. Em seu texto “Prospectivas e tarefas desde um olhar crítico sobre os desafios da realidade em vista do “buen vivir” (sumak kawsay) de todos“, Paulo Suess teceu em cinco círculos concêntricos “Elementos para um discernimento teológico”:
- O enfoque dos desafios estruturais e conjunturais da realidade nos permite fazer primeiros discernimentos (1).
- O contexto político-cultural-eclesial dificulta hoje assumir o conflito social como ponto de partida para a reflexão teológica. A “ação afirmativa” substituiu ação e reflexão crítica na sociedade e nas Igrejas. Precisamos, portanto, recuperar o espírito crítico e, profeticamente, desafinar o coro dos contentes e coniventes (2).
- Para dar um fundamento sólido à crítica profética do nosso agir teológico devemos recorrer à revelação no plural (bíblia, sabedoria dos povos, sinais do tempo) e aos ensinamentos inovadores do Vaticano II e seus desdobramentos no magistério latino-americano (3).
- A interpretação teológica e prático-pastoral do Concílio nos envolve numa disputa sobre as diferentes leituras possíveis, leituras em chave de continuidade e continuísmo, e de ruptura ou prosseguimento criativo (4).

- Um destes núcleos éticos de uma nova civilização, é o desprendimento. Esse desprendimento em sua forma individual pode ser compreendido como conversão e ascese, em sua forma comunitária ou sociopolítica,

Depois da Assembléia, alguns dos participantes tiveram ainda a graça de visitar a “Capela do Homem”, obra de Oswaldo Guayasamin. Trouxemos dois retratos que podem ser considerados como lembretes e imperativos da nossa solidariedade teológica: “Ternura” e “Lágrimas de Sangue”.
O povo Tupinambá que sofre da violência
TRISTE TITULO
“No contexto político e econômico brasileiro e, em particular do Estado do Mato Grosso do Sul, pode-se dizer que o foco é fazer viver os grande proprietários, o grande capital e deixar morrer os povos indígenas” (Relatório de Violência contra os Povos Indígenas 2009, pg17). “Mato Grosso do Sul, campeão de violências contra os povos indígenas. Até Quando?” Assim, há quatro anos atrás, anunciava uma faixa num debate promovido pela CNBB regional, sobre a violência contra os povos indígenas deste estado. De lá para cá todos os anos a faixa continua sendo ostentada , ano após ano, o triste título. Neste ano, uma vez mais, a faixa vai ser desfraldada para dizer ao Brasil e ao mundo que o Mato Grosso do Sul continua sendo o campeão disparado de violências contra os povos indígnas.
Autor: Egon Heck, Campanha-movimento Povo Guarani Grande Povo, Brasília, 9 de julho de 2010
http://www.missiologia.org.br/cms/UserFiles/cms_artigos_pdf_81.pdf
ATEUS E PÓS-SECULARES: dois interlocutores da missão ad gentes
“Estou convencido de que há de se seguir dizendo não,
ainda que se trate de uma voz predicando no deserto”.
(José Saramago)
“Marx diz que as revoluções são a locomotiva da história,
mas talvez seja tudo muito diferente, e as revoluções representem
tentativas da humanidade (...) de puxar o freio de emergência”.
(Walter Benjamin)
O diretor do Secretariado Nacional da Pastoral da Cultura da Conferência Episcopal Portuguesa, o padre José Tolentino, declarou que com a morte de José Saramago, dia 18 de junho p. p., Prêmio Nobel de Literatura de 1998 e ateu confesso, “a Igreja perde um crítico com o qual soube dialogar constantemente”. Nas categorias do censo do CERIS, de 2004, com enfoque na migração religiosa, Saramago pertence ao pequeno grupo de 7,8% dos que se declaravam “sem religião”. Na pesquisa do CERIS, os “sem religião” são compostos por cinco categorias diferentes. “Sem religião” pode significar, “possuir uma religiosidade própria sem vínculo com igrejas” (41,4%); pode significar também “não frequentar nenhuma igreja e não possuir crenças religiosas” (29,4%), “não acreditar nas religiões” (15,1%), “não ter tempo para frequentar a igreja” (23,2%), e “não acreditar em Deus” (0,5%). Portanto, dos 7,8% “sem religião”, só meio porcento se declara ateus.
Autor: Paulo Suess
Leia mais: http://www.missiologia.org.br/cms/UserFiles/cms_artigos_pdf_80.pdf
"A Triste Partida" - Dia dos Migrantes - 20.6.2010
Visita a Babau e Givaldo na Penitenciária Federal de Segurança Máxima
Brasília, junho de 2010.
Depois de audiência com Lula, PF prende irmã de Babau com filho de dois meses

No dia seguinte, quando tentava retornar para sua aldeia, Glicéria – tendo ao colo o seu bebê de dois meses – foi detida ao descer do avião, ainda na pista de pouso do aeroporto de Ilhéus (BA). Após ser interrogada durante toda a tarde na sede da Polícia Federal em Ilhéus, Glicéria recebeu voz de prisão da delega Denise ao deixar as dependências do órgão. Segundo informações ainda não confirmadas, a prisão foi decretada pelo juiz Antonio Hygino, da Comarca de Buerarema (BA), sob a alegação de Glicéria ter participado no sequestro de um veículo de uma empresa que presta serviço de energia na região. Mãe e filho foram transferidos para um presídio na cidade de Jequié, distante cerca de 200 km de sua aldeia. A seguir, trechos do relato de uma visita do assessor do Cimi, Saulo Ferreira Feitosa, aos irmãos de Glicéria, Babau e Givaldo, na prisão de segurança máxima no sertão do Rio Grande do Norte.
Criminalização de lideranças indígenas Babau na prisão de segurança máxima

Desde que a FUNAI iniciou o processo de demarcação da Terra Tupinambá as fazendas invasoras daquele território passaram a contratar pistoleiros e iniciaram campanhas difamatórias nas rádios e jornais locais, incitando a população regional contra os índios. Como consequência da disputa pela posse da terra os Tupinambá respondem a uma série de inquéritos e processos criminais patrocinados pela Polícia Federal, numa estratégia clara de criminalização de sua luta legítima em defesa de seu território tradicional. Em decorrência dessa ofensiva de criminalização já estão presos os indígenas Rosivaldo e seu irmão Givaldo e sua irmã Glicéria, além do bebê Erúthawâ, filho de Gicéria, com apenas dois meses de idade. Estranhamente nenhum fazendeiro ou pistoleiro foram processados pelas violências cometidas.
Saudade de Pedro Yamaguchi Ferreira
missionário, testemunha,
maracá do Reino,
veleiro do Rio Negro
onde paz e tempestade
te abraçaram.
Sinal de solidariedade,
memória do cárcere,
dos injustiçados, furacão,
sino de esperança;
desde o mundo indígena
badalando indignação.
Pequeno irmão dos pobres,
apareceste entre os humanos
em tempo de vacas magras;
sonhaste vinho para todos
e pão consagrado, repartido -
como tua vida.
Posseiro do tempo,
romeiro sem lar;
trocaste a carreira de advogado
pela caminhada do peregrino,
o grito pela canção -
Quixote e Macunaíma.
Pedro, pedra preciosa,
raiz com asas;
na luta pela justiça
te fizestes pedra-caminho,
agitação divina,
dom, presente, Eucaristia.
Autor: Paulo Suess
PEDRO, ADVOGADO E MISSIONÁRIO (*11.03.1983 São Paulo +01.06.2010)
Pedro Fukuyei Yamaguchi Ferreira, 27 anos, filho de Paulo Teixeira Ferreira, deputado federal pelo PT-SP e da advogada Alice Yamaguchi Ferreira, chegou em São Gabriel da Cachoeira no dia 2 de março. [...] Veio trabalhar como assessor jurídico da diocese e servir aos Povos Indígenas que representam mais de 95% da população. No dia 1 de junho, perto do meio dia, Pedro foi banhar-se no Rio Negro e foi arrastado pela correnteza. Seu corpo foi encontrado 48hs depois em Tapereira, a mais de 40 quilômetros de São Gabriel. Morte trágica, inesperada, prematura. [...]
Quem era o Pedro? Recebeu o nome em homenagem a Dom Pedro Casaldáliga. Seus pais são membros da Fraternidade Secular de Charles de Foucuald, militantes nos movimentos sociais. Formou-se em direito pela PUC de São Paulo. Estagiou em grandes escritórios de advocacia, mas encontrou-se realmente durante os três anos em que atuou como assessor jurídico da Pastoral Carcerária.
Pedro era baixo. Os olhinhos japoneses, herança da mãe, o tornavam parecido com os Povos Indígenas. Como os índios das vinte e três etnias do Rio Negro se consideram parentes, Pedro já tinha sido adotado como parente deles. [...] No dia em que chegou em São Gabriel, no fim da tarde, viu um jogo de futebol atrás da escola, ao lado da casa do bispo. Vestiu sua roupa de esporte e dirigiu-se para lá. Logo foi convidado para entrar no jogo. Como perceberam que jogava bem o contrataram para jogar no time da Vila Boa Esperança.
No dia seguinte acompanhei-o na visita à cadeia. Passou a tarde conversando com cada presidiário. À noite relatou-me suas preocupações. Encontrou chefes de família retidos há muito tempo e o último júri popular havia acontecido há mais de cinco anos. Além disso, havia jovens envolvidos em pequenos delitos e uso de drogas. Não demorou para encontrar uma solução. Em comum acordo com a juíza sugeriu que cinco deles fossem contratados para trabalhar na reforma da cúria, iniciada há poucos dias. A proposta foi aceita. E dos cinco jovens, apenas um desistiu. Pedro foi a sua procura até encontrá-lo e motivá-lo para ingressar na Fazenda da Esperança.
Ele mesmo, em carta dirigida aos amigos, descreve o seu dia a dia: “[...] Tenho feito semanalmente visita ao presídio. Isso tem me possibilitado estender as visitas aos familiares e assim conheço a realidade da vida deles, um pouco da cultura e também a miséria que atinge a cidade, sobretudo aqueles que vêm das comunidades do interior [...]”.
Bastam estas palavras para perceber as lutas e os sonhos do Pedro. Ele ficava indignado quando ficava sabendo que advogados cobravam verdadeiras fortunas para defender pequenas causas. E as famílias pobres deviam desfazer-se da casa, do terreno, e outros bens indispensáveis para sobreviver [...].
A mãe Alice, após a Missa na Catedral de S. Paulo, ainda arrancou forças para dar este testemunho: “Quando soube que o Pedro tinha desaparecido no Rio Negro tive a sensação de que não resistiria diante de tamanha dor. Mas, na medida em que fui recebendo visitas, telefonemas, abraços de tantas pessoas amigas foi me reanimando e consolando. Percebi que meu filho era amado e tinha ajudado a muitas pessoas. Além disso, quem sou eu para me revoltar contra Deus? [...] Meu filho morreu feliz no meio do rio, da floresta, entre os Povos Indígenas.” [...]
Passei o dia 6 de junho com a família do Pedro em sua residência. Paulo e Alice, Caio, Ana, Manuela, Laís e Júlia. Entre lágrimas e risos, olhamos fotos, vimos imagens, escutamos canções que recordavam o Pedro, Pedrinho, Pedrão. Fizemos a memória da passagem meteórica do Pedro que soube amar e servir as pessoas e as grandes causas precursoras de “um novo céu e uma nova terra” (Ap 21). [...]
Pedro testemunhou que a vida não é um capital para ser acumulado, mas um dom de Deus para ser partilhado. [...]
Despejo de comunidade Terena
A Bandeira do Divino

p´ra bandeira do menino ser bem-vinda, ser louvada.
Deus nos salve esse devoto pela esmola em vosso nome
dando água a quem tem sede, dando pão a quem tem fome.
A bandeira acredita que a semente seja tanta,
que essa mesa seja farta, que essa casa seja santa.
Que o perdão seja sagrado que a fé seja infinita,

que o homem seja livre, que a justiça sobreviva.
a Bandeira segue em frente atrás de melhores dias.
No estandarte vai escrito que ele voltará de novo,
que o rei será bendito - ele nascerá do povo.
(V. Martins/I. Lins)
Sejamos testemunhas vivas de esperança pascal neste mundo de egoísmo

A questão da terra e a Igreja Católica no Brasil

A memória não prescreve: na PUC-SP, lideranças Guarani Kaiowá denunciam violência (assista: "Terra negada violencia ampliada")


Valdelice Veron, filha do cacique assassinado, perguntou a plateia num depoimento comovente naquela noite no pátio do Museu da Cultura da PUC-SP: “Que história vou contar para meus filhos? Meu bisavô e meu avô foram assassinados pela “Matte Laranjeira”, meu pai foi assassinado pelos jagunços do latifúndio. Rolindo e Genivaldo, meus colegas professores, foram assassinados este ano. Tudo permanece impune até a prescrição do processo. Isso não é normal. Meu coração sangra muito. Pra quem a gente vai clamar? De nós esperam que deixemos de ser índios. Mas nós não vamos deixar de ser índios. Onde um cai, outro se levanta!”
Semelhanças, diferenças, alianças: Religião na Europa e América Latina a partir de um plebiscito suíço sobre a construção de minaretes


MIGRAÇÃO, IDENTIDADE, INTERCULTURAÇÃO: Teses e fragmentos para um discernimento teológico-pastoral
AMERÍNDIA EM APARECIDA: A PARTICIPAÇÃO DOS TEÓLOGOS DA LIBERTAÇÃO

"Nascer já é caminhar!": Aparecida confirma a caminhada da pastoral indígena

Do Brasil de batizados ao Brasil de discípulos missionários

Leia mais:
Para um novo paradigma da Missão no atual contexto de América Latina e Caribe: com Aparecida além de Aparecida

Leia mais: http://www.missiologia.org.br/cms/UserFiles/cms_artigos_pdf_59.pdf