Tudo como dantes no quartel de Abrantes?

A tentação pré-conciliar


No mês de agosto, a Igreja propõe a reflexão em torno do tema da vocação. Com certo constrangimento anunciei, no primeiro domingo desse mês vocacional, no dia 7 agosto, a ordem das comemorações e orações vocacionais semanais propostas para as celebrações eucarísticas do mês: sacerdócio, matrimônio, vida religiosa e, por último, os leigos. Como expressão de outra teologia, o Vaticano II (1962-1965), na “Constituição Dogmática Lumen Gentium sobre a Igreja”, em seu Capítulo II, optou por outra ordem. O sujeito da Igreja é a comunidade dos fieis, o povo de Deus (LG 9-17). Este povo de Deus tem por condição a dignidade e a liberdade dos filhos de Deus, por lei o mandamento novo e por meta o Reino de Deus (cf. LG 9b).


O mesmo Capítulo II da Lumen Gentium enfatiza o sacerdócio comum dos batizados (LG 10) e atribui a esse povo de Deus uma infalibilidade no ato de fé: “O conjunto dos fiéis, ungidos que são pela unção do Santo, não pode enganar-se no ato de fé” (LG 12). Os dons e vocações de cada um fazem parte do único povo de Deus, de sua natureza missionária coletiva e da vontade salvífica universal do Criador. Os capítulos seguintes tratam da constituição hierárquica da Igreja e do sacerdócio, dos leigos, da santidade e dos religiosos.

Num momento em que a proporção do conjunto de brasileiros que se dizem católicos, está diminuindo – de 2003 a 2009 caiu de 74% para 68% - a ênfase vocacional deveria antes de reforçar estruturas hierárquicas e clericais corroborar uma teologia do povo de Deus e dos leigos. Estes, sejam jovens ou adultos, necessitam antes de indulgências plenárias e soluções casuísticas o reconhecimento pleno de sua vocação na obra salvífica de Deus.
Paulo Suess

Nenhum comentário:

Postar um comentário