Choro, alegria, solidariedade. Dezenas de pessoas – entre amigos, fieis e militantes dos direitos humanos que aguardavam o padre italiano Vito Miracapillo – não contiveram a emoção quando o religioso apareceu no saguão do Aeroporto Internacional dos Guararapes, ontem à noite (3.1.2012), vindo da Itália, para dar entrada na revalidação de seu visto permanente no Brasil.
Vito Miracapillo foi expulso do País em outubro de 1980, em plena ditadura militar, por ter se recusado a celebrar uma missa em homenagem ao Dia da Independência, na cidade de Ribeirão (Mata Sul), onde era pároco.
Foi com esta carta, encaminhada aos Poderes Executivo e Legislativo de Ribeirão, que o padre Vito Miracapillo foi expulso do Brasil.
O pedido, na época, foi apresentado pelo então deputado estadual de Pernambuco, Severino Cavalcanti, do PDS, posteriormente despejado da presidência da Câmara por extorquir mensalinhos de 10.000 Reais do empresário Sebastião Augusto Buani, que explorava duas lanchonetes no prédio da Câmara.
O pedido, na época, foi apresentado pelo então deputado estadual de Pernambuco, Severino Cavalcanti, do PDS, posteriormente despejado da presidência da Câmara por extorquir mensalinhos de 10.000 Reais do empresário Sebastião Augusto Buani, que explorava duas lanchonetes no prédio da Câmara.
“À distinta Câmara Municipal
Tendo recebido o convite para as solenidades da “Semana da Pátria”, faço cientes aos Excelentíssimos Senhores de que não será celebrada a Missa de Ação e Graças no dia 07 e no dia 11, na forma e no horário anunciados. Isto por vários motivos, entre os quais a `não efetiva independência do povo´, reduzido à condição de pedinte e desamparado em seus direitos.
Atenciosamente,
Pe. Vito Miracapillo”
Em novembro passado, 31 anos depois, o Ministério da Justiça concedeu novamente o direito do religioso de, caso queira, permanecer definitivamente no Brasil.
Sorridente, feliz com a recepção, o padre italiano afirmou que agora, após revalidar seu visto, ficará na expectativa acerca de seu destino. “É uma felicidade voltar. Agora, temos que ver com os bispos como vai se dar a volta. É claro que o bispo da Itália também tem que decidir me mandar. Eu sempre me senti em casa no Brasil, mesmo depois da expulsão”, disse Miracapillo, que em sua agenda de hoje irá conceder entrevista coletiva e, no fim da tarde, será recebido pelo governador Eduardo Campos (PSB) no Palácio do Campos das Princesas.
Ao desembarcar, Miracapillo reencontrou muitos dos amigos que cultivou nos cinco anos vividos em Ribeirão, antes da expulsão. Incluindo o casal Norma Sueli e Oscar Tavares de Melo, cujo matrimônio foi celebrado justamente pelo religioso no mesmo ano em que ele foi expulso do País. “Não gosto nem de lembrar da expulsão dele, para nós foi a morte”, afirma Norma, que também estava com o neto Vitor Gabriel, cujo nome foi uma homenagem ao padre.
Presente no aeroporto, o vereador de Olinda e membro do Comitê Memória, Verdade e Justiça de Pernambuco, Marcelo Santa Cruz (PT), acredita que foi feita “a reparação de uma injustiça grande”. [Fonte: Jornal do Comércio, 4.1.2012]
Caro Paulo Suess,
ResponderExcluirParabéns pelo blog. Excelente! "Surrupiei" a imagem da paz pluricultural [rsrsr] e trecho da carta do Pe. Vito, com os devidos créditos.
Grande abraço!