Conceito de humildade: divergências conceituais entre os padres cantores Marcelo Rossi e Zezinho

Conselho de irmão


A revista VEJA escreveu e o Google deu: “Marcelo Rossi – Confissões de um padre”. A manchete permite rastrear uma entrevista cedida a VEJA, edição do dia 18.04.2011. Reproduzimos fragmentos dessa entrevista e da resposta do padre Zezinho que ironiza certo conceito de “humildade”.
 O senhor despontou no fim dos anos 90 como um fenômeno religioso que atraía multidões. Nos últimos anos, porém, tem feito poucas missas grandiosas. O que aconteceu?
Em meados de 2007 decidi reduzir as evangelizações em massa. Meu último grande espetáculo de fé, vamos chamar assim, ocorreu em 2008, para a gravação do meu DVD, Paz Sim, Violência Não, que reuniu 3 milhões de pessoas no Autódromo de Interlagos, em São Paulo. Cheguei a fazer três desse tipo por ano. Mas chega uma hora em que precisamos descansar. Em 2007, às vésperas de completar 40 anos, concluí que deveria cuidar da saúde. [...] Eu estava esgotado, mas não foi só isso que me levou a mudar minha rotina. No início de 2007, passei por um tremendo baque durante a visita de Bento XVI ao Brasil. Eu tinha um sonho na vida: cantar para o papa na minha terra. Nunca escondi isso de ninguém. Mas me colocaram para fazer um espetáculo às 5h40 da manhã, no dia da cerimônia de canonização de Frei Galvão, no Campo de Marte, em São Paulo. Ou seja, em um horário em que não havia quase ninguém – muito menos o papa. Fui vítima de boicote. Com o padre Jonas Abib (fundador da Comunidade Canção Nova) também ocorreu coisa semelhante.

Quem boicotou?
Integrantes da Arquidiocese de São Paulo. Alguns organizadores da visita do papa ao Brasil. Eles capricharam na humilhação. Além de nos colocarem para cantar de madrugada, eu e o padre Jonas fomos barrados. Na entrada, fomos informados por um agente da Polícia Federal de que, com o nosso tipo de crachá, não teríamos acesso ao palco, mas apenas à plateia, apesar de escalados para fazer uma apresentação. Ficamos lá, esperando num frio danado, de madrugada, com a garganta doendo, até sermos liberados. Mas, durante todo o tempo, agi humildemente. [...] Se eu fosse arrogante, faria um escândalo. Um amigo me disse que eu não deveria nem ter me apresentado. Um padre, contudo, tem de agir com humildade. [...] Mas ser impedido de me aproximar do papa, de pedir sua bênção, me magoou profundamente. Faço tanto pela Igreja e fui jogado de lado.
 
Mas, no ano passado, o senhor ganhou um prêmio das mãos do papa, o Van Thuân, que condecora os “evangelizadores modernos”.

Esse prêmio foi muito especial. A confirmação como um cala-boca na Arquidiocese de São Paulo. Jamais esquecerei as palavras do papa ao me entregar o prêmio: “Continue assim”. Sabe quantos padres me ligaram para me cumprimentar pela decoração? Um. A Conferência Nacional dos Bispos do Brasil até agora não me procurou. E olhe que havia muito tempo que um padre brasileiro não recebia essa condecoração.
 
Qual seria o motivo desse desdém?
No fundo, no fundo? (Ele faz o gesto que indica dor de cotovelo.) Mas aprendi, com o sofrimento, a não remoer mágoas. Minha missão é buscar ovelhas, não é agradar a padres.
 O senhor chegou a ter depressão por causa desses episódios?

Não sei se posso chamar de depressão. Mas, em 2010, passei por um período de tristeza profunda. Hoje, percebo que o gatilho para esse estado foi o fato de ter sido impedido de ver o papa em 2007. No dia 29 de abril do ano passado, enquanto corria na esteira ergométrica, perdi o passo e me estatelei no chão. Foi feio: distendi três tendões e tive uma fissura em um osso do pé esquerdo. No momento da queda, o boicote veio à minha mente. Três dias antes, eu havia sido avisado de que, em outubro, receberia o Van Thuân das mãos do papa. Fiquei apavorado com a possibilidade de ser impedido de ver o papa mais uma vez. [...] Não dividi minha angústia com ninguém, além do meu bispo. Nem para minha mãe contei como estava mal. Sou um padre, e minha missão é ouvir. Não é falar de mim. [...]
 
Ao contrário de outros padres que também cantam, o senhor sempre aparece de batina. Por quê?
A batina é a maior identidade sacerdotal. Acho um perigo não usá-la. A batina impõe respeito, é uma proteção – inclusive contra o assédio das mulheres. Você não imagina a quantidade de besteiras que eu ouço.

O senhor não tem nenhuma vaidade?
Só tomo remédio finasterida, para não ficar careca. Um amigo me avisou que só tinha uma problema: o medicamento aumenta o risco de impotência. Para um padre que observa fielmente o celibato, não se trata de um problema.

O que o senhor faz com os rendimentos do livro, dos CDs e dos DVDs?
Doo a comunidades carentes, mas, hoje em dia, a maior parte é destinada ao novo santuário que estou ajudando a erguer desde 2002. O projeto é primoroso, tem a assinatura do arquiteto Ruy Ohtake. O empreendimento terá 6 000 metros quadrados de área interna e 25 000 de externa. O vão tem 120 metros de comprimento e não haverá uma só coluna na parte de dentro – para que os fiéis possam ver o altar de qualquer ponto da Igreja, sem empecilhos. Graças ao que ganhei com meu livro, o santuário tem finalmente data de inauguração: 1º de dezembro.

Então o senhor pretende voltar a pregar as multidões?
Eu sempre estarei ligado às multidões. Mesmo se quisesse, jamais conseguiria celebrar uma missa para quarenta pessoas. Minha missa, às quintas-feiras, atraí 20 000 fiéis. Em apenas uma noite de autógrafos do meu novo livro, costumo reunir 10 000 pessoas. Muitas chegam a ficar dez horas esperando por uma dedicatória minha. Por vezes, minha mão incha tanto que tenho de parar e propor uma bênção em vez de autógrafo.


A era das pequenas eminências.
Trechos do comentário do padre Zezinho (Pe. José Fernandes de Oliveira, S.C.J.) sobre a entrevista do padre Marcelo Rossi
Excelente é mais do que bom. Alguém é excelente quando sua atividade, seus talentos e suas qualidades estão acima da média. Na Igreja Católica dá-se o título de “Excelência” aos bispos. “Eminência” é título dado a dignitários eclesiásticos que se distinguiram em alguma liderança e foram nomeados cardeais. São estes irmãos chamados cardeais que, por exemplo, elegem o Papa. [...]
Nos últimos 30 anos no Brasil, com o crescer da mídia tenho observado outro tipo de eminências. São até excelentes e acima do comum no que fazem, e certamente mereceriam reverências e vênias, porque, por seu trabalho na mídia estenderam o púlpito da Igreja. Só por isso já mereceriam aplausos. Quem atua na mídia sabe que não é simples [...]. E as piores ciladas começam dentro do pregador que acha que é o que não é, e que insiste em chamar os holofotes para a sua pessoa. [...]
Quem leu a revista “Veja” de 17 de abril de 2011 teve ali um triste exemplo de imaturidade e do que significa sentir-se mais eminente do que se é. É o tipo de entrevistas que deveria ser lida e analisada em todos os seminários e movimentos católicos para os futuros pregadores aprenderem como não ser nem fazer quando tiverem nas mãos um microfone. Chega a ser patética...
O ainda jovem, mas ultra-famoso sacerdote que vendeu milhões de discos e livros, vai a público e confessa sua mágoa e indignação, passados quatro anos, contra a diocese e alguns líderes da mesma que, segundo ele, o humilharam e boicotaram, não lhe permitindo o destaque que ele achou que merecia quando o Papa esteve entre nós no Brasil.
Foram palavras dele na entrevista até agora não desautorizada por ele. Culpa aqueles líderes por sua quase depressão, porque negaram-lhe a realização do sonho de estar diante do Papa. Acabaram escolhendo outro e relegando-o a uma atuação secundária, ao amanhecer, em lugar onde havia poucas pessoas. Acusou-os de dor de cotovelo. Por que outros e não ele que fez tanto pela Igreja?
Mesmo depois de, mais tarde, haver recebido em Roma um prêmio de excelente evangelizador não se aplacou. Pela segunda vez diante da grande mídia, ainda magoado disse que interpretava aquele prêmio como “um cala boca” à diocese que não lhe dera o devido destaque na vinda do Papa quatro anos antes, ao Brasil. Em dado momento reclama que dos padres do Brasil apenas um ligou para cumprimentá-lo pelo prêmio. E dá a entender que não precisa do apoio deles... E declara que ainda espera uma manifestação da CNBB por sua conquista... Psicólogos dariam um nome para esse tipo de atitude...

Tudo, dito com realces de que é humilde, não é arrogante, é padre e usa batina; e com ataques pesados aos padres que não usam batina, deixando claro que a batina protege o padre contra o assédio das mulheres... Chega ao ponto de dizer que a batina é a “maior identidade sacerdotal”. Ora, padres e leigos sabem muito bem que o hábito não faz o monge. Confunde uniforme com identidade e identificação com identidade... Vão por aí as diatribes e o desfile de suas mágoas contra o boicote sofrido... [...]
Está tudo claro e sem rodeios nas entrevistas tipo lavanderia!  Na era das eminências que mais do que auto-estima vivem um clima de altíssima estima de si mesmos, um pouco de ascese não faria mal aos futuros comunicadores da fé. Se não forem reconhecidos, com o sem batina ou colarinho, mostrem que realmente têm fé e seguem os evangelhos. Perdoem e recolham-se à sua significância que nunca será insignificância, mas que também não pode ser supra-relevância.

Ficar deprimido porque não foi valorizado na vinda do Papa? Um pregador da fé? Não teria sido muito mais cristão manter a boca fechada, solicitar audiência, ir ao líder da diocese e ali derramar suas mágoas? Tinha que ir às páginas amarelas de uma revista que sabidamente não prima em elogiar a Igreja que o ordenou pregador?... Francamente! Institua-se urgentemente nos seminários desde o primeiro ano um curso de Prática e Crítica de Comunicação. É que algumas atuações têm andado abaixo da crítica!

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