Código Florestal e assassinato de ambientalistas

Pouca-vergonha!


Na noite de 24 de maio, a Câmara dos Deputados aprovou alterações do Código Florestal que significam não apenas uma derrota do governo (muito enfatizada pelos jornais), mas uma derrota do bom senso e da razão do “bem viver” do povo brasileiro. O texto da emenda permite atividades agrícolas em Áreas de Preservação Permanente (APP), autoriza a participação dos Estados na regularização ambiental e anistia os que se enriqueceram, ilegalmente, com o desmatamento até junho de 2008.
Não basta o governo derramar lágrimas de crocodilo e chamar a votação uma vergonha. Também Belo Monte e a transposição do Rio São Francisco são uma vergonha. Também o mensalão e a “Projeto”, superconsultoria milionária do ainda ministro da Casa Civil, Antonio Palocci, que reuniu empresas como Itaú Unibanco, Pão de Açúcar, Íbis, LG, Samsung, Claro-Embratel, TIM, Oi Hyundai Naval, Volkswagen, Gol, Toyota, Siemens, Amil e Santander, são uma vergonha. Há um concubinato vergonhoso entre governo e oposição. Vivemos um clima político de pouca-vergonha e muita violência.


Agrobanditismo
A imputação recíproca de vergonha se materializou, muito além da Câmara dos deputados, no sudeste do Pará. A coordenação nacional da CPT divulga Nota Pública sobre o assassinato do casal Maria do Espirito Santo da Silva e José Cláudio Ribeiro da Silva. O assassinato ocorreu na manhã do dia 24 de maio, no município de Nova Ipixuna (PA). A nota da CPT destaca que "Esta é mais uma das ações do agrobanditismo e mais uma das mortes anunciadas. O casal já vinha recebendo ameaças de morte. O nome deles constava da lista de ameaçados de morte registrada e divulgada pela CPT. [...] Esta lista, junto com a dos assassinatos no campo de 1985 a 2010 foi entregue ao Ministro da Justiça, no ano passado. Mas nenhuma providência foi tomada”.

Maria do Espírito Santo
e José Cláudio
José Cláudio e Maria do Espírito Santo se dirigiam de moto para a sede do município, localizada a 45 km, ao passarem por uma ponte, em péssimas condições de trafegabilidade, foram alvejados com vários tiros de escopeta e revólver calibre 38, disparados por dois pistoleiros que se encontravam de tocaia dentro do mato na cabeceira da ponte. Os dois ambientalistas morreram no local. “Os pistoleiros cortaram uma das orelhas de José Cláudio e a levaram como prova do crime”, comunicou a CPT de Marabá, que esteve no local do crime.
José Cláudio e Maria do Espírito Santo foram pioneiros na criação da reserva extrativista do Assentamento Praia Alta Piranheira no ano de 1997. Devido à riqueza em madeira, a reserva era constantemente invadida por madeireiros e pressionada por fazendeiros que pretendiam expandir a criação de gado no local.
“Mas nossa indignação aumentou com a notícia, veiculada pelo jornal Valor Econômico do dia de hoje, 25, de que o deputado José Sarney Filho ao ler, em plenário, a reportagem da morte dos dois lutadores do povo, foi vaiado por alguns deputados ruralistas e pessoas presentes nas galerias da Câmara Federal, que lá estavam para acompanhar a votação do novo Código Florestal”, diz a Nota da CPT.

Adelino Ramos
Dia 27 de maio, o líder do Movimento Camponês Corumbiara, Adelino Ramos, conhecido como Dinho, foi assassinado, em Vista Alegre do Abunã (RO). Segundo a assessoria da Secretaria de Produção do Amazonas, o agricultor morava em um assentamento do Incra localizado no sul de Lábrea, o município mais desmatado do Amazonas e onde se concentram grandes interesses de madeireiras.



Indignem-se!


Há uma conexão nefasta entre as alterações do Código Florestal, o assassinato do casal ambientalista e o líder do Movimento Camponês Corumbiara, Adelino Ramos. A Coordenação Nacional da CPT reafirma a responsabilidade do Estado por estes crimes. "A vida das pessoas e os bens da natureza nada valem se estes se interpuserem como obstáculo ao decantado `crescimento econômico´, defendido pelos sucessivos governos federais, pelos legisladores do Congresso Nacional que aprovam leis que promovem maior destruição do meio ambiente, e pelo judiciário sempre muito ágil em atender os reclamos da elite agrária, mas mais que lento para julgar os crimes contra os camponeses e camponesas e seus aliados. A certeza da impunidade alimenta a violência” (Coordenação Nacional da CPT, Goiânia, 25 de maio de 2011). A constatação da vergonha não basta. Precisamos mobilizar a indignação. Indignem-se!

Um comentário:

  1. Estou indignada com os assassinatos de pessoas que defendiam a natureza.Como diz o texto acima a constatação da vergonha não basta.Precisamos mobilizar a indignação.Isso não pode acontecer mais.Em menos de uma semana quatro ambientalistas foram brutalmente assassinados.Esse absurdo tem que parar.A minha indignação é total.

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