Assessores avaliam caminhada das CEBs na Igreja

Jaime C. Patias


O 13º Intereclesial das CEBs que acontece desde o dia 7, em Juazeiro do Norte (CE), reúne pessoas de todas as idades, algumas com longos anos de caminhada, outras apenas começando. São mais de 5 mil participantes, entre delegados, convidados e colaboradores. Todos querem contribuir nas reflexões, preocupados com o futuro das CEBs dentro da Igreja.

Irmã Tea Frigerio(foto à direita), assessora das CEBs e membro da equipe de reflexão do Centro de Estudos Bíblicos (CEBI), destaca a importância da realização do Intereclesial na terra do padre Cícero. “Aqui se encontram duas realidades fortemente significativas para a Igreja do Brasil: a religiosidade popular que sustenta a vida do povo nos seus sofrimentos e as CEBs, mandacarú que resiste como modo de ser Igreja”, destaca a religiosa. “Esses dois braços do povo brasileiro expressam duas maneira de viver a fé: a Romaria de padre Cícero dá voz à fé do povo pobre e excluído e as CEBs que fazem memória de um jeito diferente de ser Igreja. Estes dois braços se encontraram para se fortalecer e se enriquecer reciprocamente”, afirma.


Uma das referências na reflexão teológica da América Latina, Frei Betto, lembra que “as CEBs, quando estavam muito vivas e apoiadas pela hierarquia da Igreja, nos anos 70 e 80, provocaram o crescimento de fiéis católicos. Depois que houve a vaticanização da Igreja na América Latina, com João Paulo II, as CEBs se fragilizaram, a Igreja começou a se encher de movimentos e os fiéis começaram a migrar para as igrejas evangélicas”, argumenta. “Está provado historicamente que quanto mais CEBs, mais fiéis e quanto menos CEBs, menos fiéis”, complementa.


Sobre a dimensão ecumênica das CEBs, frei Betto observa que hoje, aparentemente, essa dimensão aparece menos. Contudo, o teólogo ressalta que nas CEBs que ele conhece tem gente do candonblé e até gente que não tem fé, mas gosta de frequentar a comunidade. “As CEBs são muito mais interreligiosas do que ecumênicas. Agora, é verdade que há uma dificuldade com os evangélicos que não se ligam às CEBs, a não ser os das igrejas históricas. Tem muitos fiéis das igrejas protestantes históricas que estão muito próximos das CEBs, nos centros de estudos bíblicos, no Movimento Fé e Política e no próprio Intereclesial”, ressalta frei Betto.


Sobre a realização do Intereclesial na terra do padre Cícero, frei Betto diz que a sua figura significa “sinal de uma Igreja de profunda espiritualidade popular. A Igreja está num processo de resgate do padre Cícero. Isso é muito importante em um encontro que reúne o maior número de participantes da história dos Intereclesiais”, conclui.


O assessor das pastorais sociais do Regional Noroeste da CNBB, padre Luiz Ceppi, avalia que após a 12ª edição do Intereclesial realizada em Porto Velho em 2009, as CEBs conseguiram uma plena comunhão com a Igreja. Até um documento oficial da Igreja sobre as CEBs saiu. Este é um dos resultados.


Para ele que foi coordenador do 12º Intereclesial, o desafio hoje é a convivência entre a experiência das CEBs e as novas comunidades que surgem. “Não se trata de ver quem é melhor, mas qual é o sentido. Para nós, CEBs é uma célula viva da Igreja através da escuta da Palavra, da comunhão com os bispos, da comunhão com a Igreja e sobretudo, dessa ligação profunda entre fé e vida. As Novas Comunidades são experiências de carismas, mas não de uma nova Igreja. Por isso essa confusão. Todo mundo se acha comunidade e se esquece da capacidade de unir fé e vida”, explica.


A CNBB propôs um estudo sobre “Comunidade de comunidades: uma nova paróquia”, mas segundo padre Cheppi, “no começo também trataram tudo como comunidade, inclusive os carismas. Carisma é um jeito de viver na comunidade, mas não é a comunidade”, opina. “O papa Francisco não se apaga às estruturas, mas à mensagem do Evangelho e por isso ele está desarrumando todas as estruturas”. Padre Cheppi recorda que recentemente, por ocasião dos 25 anos da morte de Chico Mendes houve um encontro com o papa e percebe-se que ele não foge do problema. “Há dois anos perdemos o cardeal Martini. Ele disse que nós, às vezes, fazemos análises perfeitas da realidade social e eclesial, mas depois temos medo de mudar e continuamos como antes. A partir disso, as CEBs têm que resgatar sua identidade, sobretudo na realidade urbana onde vive a maioria da população hoje”, considera.




Irmã Anette Dumoulin, religiosa belga que se dedica a acolher os romeiros em Juazeiro do Norte, defende uma nova formação dos seminaristas e padres. Segundo ela, “se o padre não aceita partilhar como pastor no meio do seu povo, as CEBs vão continuar sofrendo muito. Nós precisamos transformar a formação dos seminaristas para ter novos tipos de padres, que saibam lavar os pés de suas ovelhas como Jesus fez. Se os seminários continuam a formar padres que são chefes, donos, nós não vamos conseguir que as CEBs vivam a realidade do novo céu e de uma nova terra”, argumenta. “O padre tem que escutar mais o povo. O Espírito Santo fala pelos pobres. Jesus falou isso: ‘Eu te agradeço Pai, por que revelastes essas coisas aos pequenos e escondestes aos ricos e poderosos’. Então nós religiosas, padres, bispos, papa temos que nos converter sempre para ouvir o que Espírito Santo fala aos pequenos e pobres”, afirma Irmã Anette.

2 comentários:

  1. Gostei muito dessa reportagem. Seria interessante saber mais sobre o 13º Intereclesial, através de depoimentos das pessoas que estiveram presentes no grandioso evento. Não canso de ler as postagens, em diversos veículos, sobre o abençoado Encontro, que deve ter produzido muitos frutos, especialmente para os que puderam participar.

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  2. Fiquei feliz pela partilha de tantos irmãos e irmas de caminhada Os desafios são grandes , mas a esperança é maior ainda. As Cebs estão vivas!

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