“não havia lugar para eles“ (Lc 2,7)







 A foto é de Mário Sérgio Rainha Campos, tirada na Aldeia Kararaô, no Xingu. O Departamento de Direito Internacional da OEA promoveu em parceria com o Art Museum of the Americas um concurso de fotografia com o tema “OLHARES INDÍGENAS”. A fotografia de Mário Sérgio foi clássificada como vencedora e ele me pediu um comentário para ser apresentado na premiação que ocorreu em 9 de novembro de 2013 em Washington.

“A menina é filha de um povo ameaçado em sua sobrevivência cultural e física. A ambição, a ganância, a busca desenfreada de riquezas passam por cima de seres humanos, profanam sua sabedoria milenar e os consideram supérfluos e descartáveis. O mundo em que só vale quem produz ou consome os condena à morte.

O Xingu é a última fronteira indígena. Aqui se abrigam ainda povos de todos os troncos linguísticos da América do Sul. Belo Monte é o golpe fatal no coração da Amazônia, o réquiem para os povos indígenas. Belo Monte é a orquestração de dissonâncias e cacofonias que hoje se sobrepõe às vozes paradisíacas das selvas outrora eternas, que sufoca o silêncio das águas intermináveis e irá emudecer o estrondo das majestosas cataratas.


A menina não sabe que está sendo preparada para um rito que um apocalipse implacável engendrado por homens desalmados pretende destruir para sempre. Oxalá a foto se transforme num último ingente clamor de todos os indígenas a sacudir a humanidade, um brado de esperança para quem não quer morrer e acredita até hoje no "sumak kawsay" no "bem viver" para todos e sempre.“

Santo Natal e abençoado Ano Novo!
Que em nosso querido Brasil
haja lugar para os Povos Indígenas!

Erwin Kräutler, Bispo do Xingu

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