Preparação do
"Terceiro Congresso Missionário Nacional": Discipulado Missionário, do Brasil para o Mundo secularizado e pluricultural, à Luz do Vaticano II
Jaime Carlos Patias
da Revista Missões
O santo, o bispo e o teólogo |
Para o teólogo, o que caracteriza o discípulo é a permanente busca de conformidade com o Mestre. “O discipulado dos seguidores de Jesus vai além de aprendizes da ‘Torá’ ou do catecismo. O discípulo obedece ao chamado de Jesus imediatamente, sem ponderar condições ou exigir prazos para concluir obras piedosas”, argumentou.
Com base em citações bíblicas, Paulo Suess destacou traços da identidade de Jesus, tais como: “Eu sou o pão da vida, a luz do mundo, a porta, o bom pastor, a videira, o Caminho, a Verdade e a Vida, a ressurreição e a vida”, entre outros.
Ao retomar a Conferência de Aparecida (2007), o assessor sublinhou que no seu tema “Discípulos e missionários de Jesus Cristo para que Nele nossos povos tenham vida”, o discipulado foi lembrado “como qualificação de nossos povos e recebeu com grande ênfase a conotação da missionariedade com sua raiz trinitária – enviado no Espírito Santo por Jesus Cristo como ele foi enviado pelo Pai”. Para Paulo Suess “essa missionariedade configura seguimento histórico, despojamento radical e prontidão permanente dos discípulos e discípulas para anunciar o Reino de Deus”.
Na visão do missiólogo, segundo o Documento de Aparecida, para transformar o ser missionário dos membros eclesiais em agir de discípulos missionários precisa-se repensar a “missão nas novas circunstâncias latino-americanas e mundiais e revitalizar nosso modo de ser católico”. Somos “discípulos missionários sem fronteiras (DA 376) que recebem a sua formação na comunidade dos fieis (Igreja) e na realidade, que olhamos com sentido crítico e com gratidão”, complementou.
Paulo Suess, afirmou também que deveríamos assegurar, historicamente, as conquistas do Concílio Vaticano II. “Para trás não podemos voltar. O Vaticano II deu um impulso e temos que avançar além do Concílio”. Lembrou que como referencial para as igrejas locais, o Concílio tem várias interpretações. “Existem duas missiologias, duas eclesiologias e os que nem se quer aceitam o Concílio”, disse. Informou também que, o próprio encontro entre lideranças de várias religiões realizado em Assis, na Itália, é contestado por alguns setores, como a Fraternidade São Pio X “que mandou rezar 1.000 missas em reparação do que considera ‘o escândalo de Assis’”.
As estatísticas sobre o número dos cristãos foi outra questão levantada pelo teólogo. “Por ocasião do Dia Mundial das Missões e do nascimento do habitante que completou o número mágico das 7 bilhões no planeta, no dia 31 de outubro, se escutou lamentos da Congregação pela Evangelização dos Povos sobre os 5 bilhões de pessoas que ainda não conhecem Jesus Cristo”, observou. Esta preocupação com o número de cristãos, segundo o teólogo, “é utilizada como pretexto para reforçar uma ação missionária que por vezes se aproxima ao fundamentalismo, numa Igreja que mal consegue segurar os que já conhecem Jesus”.
A seguir, Paulo Suess elencou os ensinamentos essenciais do Vaticano II como ponto de partida para uma caminhada histórica: 1) a natureza missionária da Igreja; 2) a centralidade da Palavra de Deus; 3) a centralidade do Reino; 4) a Igreja como Povo de Deus; 5) a opção pelos pobres e outros; 6) inculturação e liberação; 7) a salvação Universal; 8) sinais de justiça e imagem de esperança; 9) a liberdade religiosa; e 10) o diálogo ecumênico, intercultural e interreligiosa.
Por fim, o assessor refletiu específicamente sobre a Missão “Do Brasil para o mundo”. O Vaticano II marca universalmente uma reestruturação da consciência eclesial. “Como configurar, a partir do Brasil, o dom da fé para o mundo dividido por desigualdades sociais e pelo não reconhecimento do outro?”, questionou, para em seguida afirmar: “Não é por causa de nossa grandeza e riqueza, que somos maiores que todos os outros, ou vamos ser uma graça para o mundo. Como discípulos missionários daquele que se fez tão pequeno que coube no presépio, a relevância do Brasil para o mundo não está na sua potencialidade assustadora, mas na sua pequenez e fraqueza: ‘quando sou fraco, então é que sou forte’” (2 Co 12,10).
“No mundo que está sob a ditadura da equação custo-benefício, afirmamos que o Reino de Deus, o núcleo essencial do nosso querigma, (anúncio) é um dom. A rigor, não somos seus construtores, apenas seus facilitadores”, concluiu.
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