A terceira Revolução
Copernicana
"Tudo indica que
ao menos nossa etapa cósmica surgiu mesmo de um evento inicial (Big Bang)",
escreve Marcelo Gleiser em artigo publicado no jornal Folha de S. Paulo,
30-09-2012. "Mas", pergunta Gleiser,"e se nosso Universo não for
único, mas parte de um multiverso, esse sim eterno?" Segundo ele,
"modelos atuais pressupõem que seja esse o caso, que o multiverso existe
eternamente e que o nosso existe entre incontáveis outros. Seria a terceira
Revolução Copernicana, agora removendo a centralidade do Universo".
Eis o artigo.
Quando, em 1917,
Einstein propôs o primeiro modelo cosmológico da era moderna, não havia
qualquer razão para supor que o Universo teria um começo. Tudo indicava que o
Universo era estático e infinitamente velho, sem um início. Tudo indicava também
que a Via Láctea era tudo o que existia. Outras "nebulosas", vistas
com telescópios, eram supostamente parte dela. Para além da Via Láctea, o Cosmo
se estendia pela escura vastidão infinita do espaço vazio.
Em menos de uma
década, porém, tudo iria mudar. Para o horror da maioria dos cientistas, o
Cosmo ganhou uma história, que, ao menos qualitativamente, lembrava o
"Faça-se a Luz!" bíblico. Numa sucessão de
observações sensacionais, graças a um telescópio de cem polegadas e uma
metodologia impecável, o astrônomo americano Edwin Hubble e seu assistente
Milton Humason determinaram, em 1924, que a Via Láctea era apenas uma entre
"centenas de milhares" de outras galáxias.
Hoje, sabemos que
existem centenas de bilhões de galáxias. Após Hubble, a imagem da distribuição
da matéria pelo espaço mudou completamente: não havia mais um
"centro", a Via Láctea, mas um enorme número de núcleos. De certa
forma, a descoberta foi uma versão moderna da Revolução Copernicana, visto que
foi nela que a Terra perdeu sua centralidade.
Como se isso não
bastasse, em 1929, Hubble e Humason demonstraram que as galáxias se afastavam
umas das outras. A conclusão, ainda mais chocante, inclusive para Einstein, era
a de que o Universo não era estático, mas estava em expansão. Com isso, o Cosmo
ganhou uma história: voltando no tempo, haveria um momento no qual as galáxias
estavam amontoadas, o momento da "criação".
Se Hubble estivesse
certo, a cosmologia se tornava mítica, colocando-a próxima das questões
religiosas: se o Universo tem uma história, como ela começou? "Quem"
a começou? Por que ela começou?
A situação tornou-se
ainda mais interessante quando, em 1927, o padre-cosmólogo belga Georges
Lemaître propôs que o Universo surgiu da desintegração espontânea de um
gigantesco átomo primordial.
Mas e se nosso
Universo não for único, mas parte de um multiverso, esse sim eterno? Modelos
atuais pressupõem que seja esse o caso, que o multiverso existe eternamente e
que o nosso existe entre incontáveis outros. Seria a terceira Revolução
Copernicana, agora removendo a centralidade do Universo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário