Quinta-feira, dia 11 de outubro, faleceu em Cochabamba, Bolívia,
o padre Gregorio Iriarte aos 87 anos. Iriarte, natural de Navarra (Espanha),
era sacerdote da Congregação dos Oblatos de Maria Imaculada e assessor teológico
do grupo Ameríndio regional. Na Bolívia chegou em 1964, um ano antes de
terminar o Vaticano II (1962-1965). Sua primeira responsabilidade foi a de ser
Diretor da Radio Pio XII, no distrito mineiro, no Norte de Potosí. Na época, os
mineiros tiveram muita desconfiança face à Igreja Católica e sua pastoral. Gregorio,
na frente da radio Pio XII e seguindo as intenções do Concílio, conseguiu desfazer
essa desconfiança, transformando a Radio num instrumento de educação,
comunicação e defesa popular.
Em maio de 1967, o governo diminuiu os salários dos mineiros
e tentou reabilitar a "Corporación Minera de Bolivia" (COMIBOL) com a
participação dos Estados Unidos através do Banco Interamericano de Desarrollo
(BID). Segue uma perseguição dos dirigentes mineiros. Durante a ditadura do
General René Barrientos Ortuño, Federico Escóbar, um dos principais dirigentes do
Sindicato de Trabalhadores Mineiros, consegue refugiar-se no Chile com ajuda audaz
do padre Gregorio (cf. o vídeo!). Em plena ditadura militar de Hugo Banzer, num
tempo de repressão, tortura e exílio, Gregorio participa da fundação da
Assembleia Permanente de Direitos Humanos de Bolívia, ajuda a organizar
cooperativas e apoia a organização da histórica “greve de fome” das mulheres
mineiras, que pediram a restituição da democracia, da liberdade dos presos, o
retorno dos exilados e a convocação de eleições presidenciais.
Marcelo Quiroga Santa Cruz |
Em 1981, quando Marcelo Quiroga Santa Cruz, dirigente do
partido socialista, era ameaçado pela cúpula militar a mando do general Luís
García Meza, Gregorio foi para a casa de Marcelo e lhe ofereceu refúgio na casa
dos padres Oblatos, onde conviveram durante três meses no mesmo quarto. No dia
17 de julho de 1981, dia do golpe militar de Luís García Meza, Marcelo Quiroga
foi assassinado.
Na vida de Gregorio Iriarti se revela uma evangélica
articulação entre teoria e práxis. Na Universidade Católica Boliviana, Gregorio
administrou durante 25 anos a matéria de “Análise crítica da realidade”, “Moral
social” e “Formação da consciência crítica”. Recentemente, Iriarte foi premiado
com a medalha "Ana María Romero de Campero" por seu trabalho em
Defesa da Liberdade de Expressão e dos Direitos Humanos e recebeu o título de
Doutor Honoris Causa pela “Universidad Mayor de San Simón”, num justo reconhecimento
de seu trabalho científico-pastoral que lhe permitiu ajudar na transformação da
realidade boliviana. Em sua última viagem a Espanha, procurou logo os “indignados”
e mostrou seu estranhamento sobre a ausência da Igreja Católica nesse
movimento. Com jovialidade e modéstia, Gregorio Iriarte fez de sua vocação
sacerdotal um exercício de aproximação aos pequenos e de serviço a todos que
vivem sob a ditadura de um “consenso democrático” fictício.
“Levántate y mírate las manospara crecer estéchala a tu hermano,juntos iremos unidos en la sangre,ahora y en la hora de nuetra muerte.Hoy es el tempo que puede ser mañana.”
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