A educação não deve qualificar para
o mercado,
mas para a vida
mas para a vida
Professor pede calma a policiais na Assembleia Leislativa durante protesto (Limoeiro do Norte, 29.9.2011) |
No
dia 15 de outubro de 1827 (dia consagrado à Santa Teresa de Ávila), Pedro I,
Imperador do Brasil baixou um Decreto Imperial que criou o Ensino Elementar no
Brasil. Pelo decreto, "todas as cidades, vilas e lugarejos tivessem suas
escolas de primeiras letras". 120 anos após o referido decreto, em 1947, ocorreu
a primeira comemoração de um dia dedicado ao professor. Começou em São Paulo,
em uma pequena escola no número 1520 da Rua Augusta, onde existia o Ginásio
Caetano de Campos, conhecido como "Caetaninho".
Foi o professor
Salomão Becker que ficou famoso por proferir naquela primeira comemoração, dia
15 de outubro 1947, a frase de efeito: "Professor é profissão. Educador é
missão". Em muitos países latino-americanos se celebra o Dia do Professor
de acordo com acontecimentos de sua própria história.
Fragmentos do Prefácio de Emir Sader
para
"A Educação para além do Capital"
(de
István Mészáros)
O
objetivo central dos que lutam contra a sociedade mercantil, a alienação e a
intolerância é a emancipação humana. A educação, que poderia ser uma alavanca
essencial para a mudança, tornou-se instrumento daqueles estigmas da sociedade
capitalista: “fornecer os conhecimentos e o pessoal necessário à maquinaria
produtiva em expansão do sistema capitalista, mas também gerar e transmitir um
quadro de valores que legitima os interesses dominantes”. Em outras palavras,
tornou-se uma peça do processo de acumulação de capital e de estabelecimento de
um consenso que torna possível a reprodução do injusto sistema de classes.
Em
lugar de instrumento da emancipação humana, agora é mecanismo de perpetuação e
reprodução desse sistema. A natureza da educação – como tantas outras coisas
essenciais nas sociedades contemporâneas – está vinculada ao destino do
trabalho. Um sistema que se apóia na separação entre trabalho e capital, que
requer a disponibilidade de uma enorme massa de força de trabalho sem acesso a
meios para sua realização, necessita, ao mesmo tempo, socializar os valores que
permitem a sua reprodução. Se no pré-capitalismo a desigualdade era explícita e
assumida como tal, no capitalismo – a sociedade mais desigual de toda a
história –, para que se aceite que “todos são iguais diante da lei”, se faz
necessário um sistema ideológico que proclame e inculque cotidianamente esses
valores na mente das pessoas.
No
reino do capital, a educação é, ela mesma, uma mercadoria. Daí a crise do
sistema público de ensino, pressionado pelas demandas do capital e pelo
esmagamento dos cortes de recursos dos orçamentos públicos. Talvez nada
exemplifique melhor o universo instaurado pelo neoliberalismo, em que “tudo se
vende, tudo se compra”, “tudo tem preço”, do que a mercantilização da educação.
Uma sociedade que impede a emancipação só pode transformar os espaços
educacionais em shopping centers,
funcionais à sua lógica do consumo e do lucro.
O
enfraquecimento da educação pública, paralelo ao crescimento do sistema
privado, deu-se ao mesmo tempo em que a socialização se deslocou da escola para
a mídia, a publicidade e o consumo. Aprende-se a todo momento, mas o que se
aprende depende de onde e de como se faz esse aprendizado. García Márquez diz
que aos sete anos teve de parar sua educação para ir à escola. Saiu da vida
para entrar na escola – parodiando a citação de José Martí, utilizada neste
livro.
[...]
Vivemos o que alguns chamam de “novo analfabetismo” – porque é capaz de
explicar, mas não de entender –, típico dos discursos econômicos. Conta-se que
um presidente, descontente com a política econômica do seu governo, chamou seu
ministro de Economia e lhe disse que “queria entender” essa política. Ao que o
ministro disse que “ia lhe explicar”. O presidente respondeu: “Não, explicar eu
sei, o que eu quero é entender”.
A
diferença entre explicar e entender pode dar conta da diferença entre
acumulação de conhecimentos e compreensão do mundo. Explicar é reproduzir o
discurso midiático, entender é desalienar-se, é decifrar, antes de tudo, o
mistério da mercadoria, é ir para além do capital.
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