“Como entramos de
maneira pacífica, decidimos sair de maneira pacífica”, disse grupo de indígenas
ao desocupar o canteiro de Belo Monte.
De Vitória do Xingu
(PA)
Com um prazo de 24
horas dado pela desembargadora Selene de Almeida, do TRF-1, Brasília (DF), os
cerca de 180 indígenas de nove povos dos rios Teles Pires, Tapajós e Xingu,
afetados por projetos hidrelétricos, decidiram se retirar do principal canteiro
de obras da UHE Belo Monte, às margens da Transamazônica, no Pará, no início da
noite desta quinta-feira, 9.
“Como entramos de
maneira pacífica, decidimos sair de maneira pacífica. Mostramos que não somos
bandidos e respeitamos a decisão da Justiça. Esperamos que a nossa atitude
mostre que isso é estar aberto ao diálogo”, explicou Valdenir Munduruku em
entrevista coletiva aos jornalistas às portas do canteiro.
Ao redor da liderança
indígena, a mais de uma centena de indígenas, que durante uma semana ocuparam o
canteiro, num dos mais contundentes protestos contra a usina, pediam pela
consulta às comunidades afetadas pelas usinas hidrelétricas que o governo
federal pretende construir na Amazônia – parte da pauta que motivou a ocupação.
Contrariando a Convenção 169 da OIT e a Constituição Federal, o governo Lula e
Dilma passaram a executar grandes obras sem consultar as comunidades
afetadas.
“Não estamos saindo
por conta de nenhum acordo. Nós vamos sair daqui porque desde quando chegamos o
ministro não veio conversar conosco. (Ao contrário) Escreveu muita mentira na
internet sobre a gente”, afirmou Cândido Munduruku, presidente da Associação
Pusuru. Os indígenas deixaram claro que não vão abandonar a agenda de luta
contra as hidrelétricas na Amazônia e pela consulta prévia.
Valdenir e Cândido
ressaltaram que o grupo sai “revoltado com o governo federal”, que ao invés de
enviar o ministro Gilberto Carvalho para dialogar mandou a Força Nacional e a
Polícia Federal. Os indígenas foram cerceados e impedidos de fazer contato com
seus advogados, com a imprensa; agentes da Força Nacional chegaram a impedir a
entrada de comida.
No final da noite de
ontem, quarta, 8, a desembargadora Selene deferiu pedido de reintegração de
posse feito por dez advogados da Norte Energia S A. Hoje, o Ministério Público
Federal (MPF) do Pará pediu a suspensão da reintegração. Selene manteve a
reintegração, mas reconheceu o movimento como pacífico e despachou um prazo de
24 horas para os indígenas abandonarem a ocupação.
Militarização e
relações perigosas
Entre 80 e 100
policias da Força Nacional estiveram presentes no canteiro ocupado pelos
indígenas. No final da tarde desta quinta, a procuradora Federal Thais Santi
chegou ao canteiro e constatou que só ocorreria violência no local caso a
reintegração ocorresse.
De acordo com
relatório feito pela chefe da Polícia Federal em Altamira (PA), os indígenas
estariam ameaçando cerca de 3 mil trabalhadores, o que justificaria a
reintegração. Porém, em contradição, a imprensa noticiou atos de solidariedade
dos funcionários da usina com o movimento dos indígenas.
Em nota, o MPF/PA
mostrou preocupação com a condução da operação de reintegração de posse, “já
que a chefe da PF em Altamira, responsável pelo relatório feito à Justiça, é
casada com o advogado da Norte Energia S.A Felipe Callegaro Pereira Fortes,
autor do pedido de reintegração de posse. No agravo feito ao TRF1, o advogado
chega a citar o relatório da PF, assinado pela sua esposa”, diz a nota.
[Fonte da notícia: Assessoria
de Comunicação - Cimi]
Caro Paulo,
ResponderExcluirAcompanho o que vem ocorrendo aos indígenas do Brasil e, junto, observo a extrema omissão e a mais desavergonhada conivência de muitos que anda pra lá e prá cá ostentando discursos progressistas, mas que sequer gastam um segundo de compaixão com esses nossos irmãos. Hoje, muitos de esquerda (ou alternativos) são mais afinados com Eike Batista e com Maluf que com todos que no Brasil sofrem de verdade.
Gosto do seu blog, pois aqui encontro uma palavra sensata!
Abraços!