A Igreja não
deve fechar as portas a ninguém, nem mesmo a uma mãe solteira que pede o
batismo para o filho. O pontífice, na homilia em Santa Marta, lança um apelo à
Igreja para que não se transforme em uma espécie de "alfândega
pastoral", com controladores da fé em vez de pastores prontos para acolher
aqueles que batem à porta.
Bergoglio dá
um exemplo concreto: "Pensem em uma mãe solteira que vai à igreja, à
paróquia e ao secretário: 'Quero batizar meu filho'. E depois esse cristão,
essa cristã lhe diz: 'Não, você não pode porque você não é casada!'. Mas, veja,
essa jovem teve a coragem de levar adiante a sua gravidez e não devolver o seu
filho ao remetente, e o que ela encontra? Uma porta fechada! Esse não é um bom
zelo! Afasta do Senhor! Não abre as portas! E assim, quando nós estamos nesse
caminho, nessa atitude, nós não fazemos bem às pessoas, ao povo, ao povo de
Deus. Mas Jesus instituiu sete Sacramentos, e nós, com essa atitude,
instituímos o oitavo: o sacramento da alfândega pastoral!". (Clique aqui
para ver o video).
Sistema
econômico
Novo
posicionamento do Papa Francisco contra as distorções do sistema econômico
mundial, na audiência à fundação Centesimus Annus Pro Pontifice. O
"desemprego" se espalha "como mancha de óleo em amplas zonas do
Ocidente" e estende "de modo preocupante os limites da pobreza".
É a "pior forma de pobreza material", denuncia o papa. "Não diz
respeito apenas ao Sul do mundo, mas a todo o planeta". É preciso dar
novamente uma "cidadania social" à solidariedade, que "não é uma
atitude a mais ou uma esmola social, é um valor social".
Se no recente
discurso a um grupo de embaixadores o Papa Francisco tinha acentuado a crítica
à absolutização das finanças, ele afirmou nesse sábado o primado do ser humano
sobre a economia e o mercado. Na missa em Santa Marta, o pontífice olhou para
os problemas da Igreja, que, segundo ele, "não é uma alfândega", deve
ter "portas abertas", acolher os simples e aqueles que erram, e não
ser representada por "controladores da fé".
A fundação
Centesimus Annus está envolvida no congresso internacional "Repensando a
solidariedade pelo emprego". Partindo desse tema e da doutrina social dos
papas – particularmente de Bento XVI, com a sua defesa da superioridade da
pessoa sobre o mercado –, Bergoglio denunciou que "não há pior pobreza
material – gostaria de salientar – do que a que não permite que se ganhe o pão
e que priva da dignidade do trabalho. Agora esse 'algo que não funciona' –
acrescentou – não diz respeito mais apenas ao Sul do mundo, mas a todo o
planeta. Eis, então, a exigência de 'repensar a solidariedade' não mais como simples
assistência com relação aos mais pobres, mas como repensamento global de todo o
sistema, como busca de caminhos para reformá-lo e corrigi-lo de modo coerente
com os direitos fundamentais do ser humano, de todos os seres humanos".
O papa
latino-americano explicou que a "essa palavra, 'solidariedade', não bem
vista pelo mundo econômico, como se fosse um palavrão, é preciso dar-lhe
novamente a sua merecida cidadania social. A solidariedade não é uma atitude a
mais, não é uma esmola social, mas é um valor social".
O papa quis
lembrar o ensinamento de Bento XVI sobre a "crise ética e
antropológica" e as implicações desta sobre a economia. Ele citou o
antecessor, tanto na encíclica Caritas in Veritate, quanto nos seus
"discursos memoráveis". "Esquecemo-nos e ainda nos esquecemos –
disse o papa latino-americano – que, acima dos negócios, da lógica e dos
parâmetros de mercado, há o ser humano e há algo que é devido ao ser humano
como ser humano, em virtude da sua profunda dignidade: oferecer-lhe a possibilidade
de viver com dignidade e de participar ativamente no bem comum".
"Devemos
voltar à centralidade do ser humano – concluiu Francisco depois de citar a
Caritas in Veritate de Ratzinger – a uma visão mais ética das atividades e das
relações humanas, sem o temor de perder alguma coisa".
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