Hoje (17.5.2013), completam-se doze dias da greve
geral iniciada pela Central Operária Boliviana (COB) em prol de uma lei de
pensões que permita que recebam uma aposentadoria equivalente a 70% do salário
recebido nos últimos meses trabalhados.
A reportagem é de Sebastián Ochoa, publicada
no
jornal Página/12, 17-05-2013. Tradução: Cepat.
Professores, mineiros, usineiros, trabalhadores da
saúde, entre outros grupos, mantêm 35 bloqueios de estradas e pontos de
interrupção em toda a Bolívia, segundo o que informou o governo nacional.
Grevistas e funcionários dos ministérios do Trabalho e Economia mantêm reuniões
cotidianas, que terminam sem a possibilidade de haver algum acordo. Para maior
inquietação do presidente Evo Morales, a polícia boliviana ameaça se rebelar em
reivindicação pelo cumprimento de uma série de acordos que beneficiarão os
uniformizados.
Ontem, o presidente Morales repetiu que por trás do
extenso protesto da COB se escondem interesses golpistas. E convocou suas bases
camponesas para defenderem seu mandato. Horas depois, membros do Ayllu Chullpa,
em Potosí, utilizaram pedras e paus para desbloquear uma estrada onde
professores rurais estavam em greve. O enfrentamento resultou em sete feridos.
“Alguns dirigentes da COB, antes – e agora continuam –, estavam golpeando (as
portas) do Estado Maior para o golpe de Estado. Agora, aos gritos, estão
pedindo a rebelião da polícia para que haja um golpe de Estado. Já não é uma
reivindicação, mas uma ação política. Por isso, convoco as companheiras e
companheiros para, primeiro, defender a democracia. E se somos deste processo,
defender este processo de mudança para todos os bolivianos e bolivianas,
organizar-nos e mobilizar-nos”, disse o presidente, no Palácio Quemado. Poucas quadras
dali, os mineiros explodiam metades de dinamites, enquanto os policiais
cumpriam com sua tarefa de atirar gases nos grevistas, assim como nos últimos
doze dias.
Inicialmente, a COB exigia uma aposentadoria de 8.000
bolivianos para mineiros e de 5.000 para o restante dos assalariados (neste
país, um dólar equivale a 6,90 bolivianos). Para o governo, a proposta não é
sustentável. Após vários dias e noites de negociação com a COB, os técnicos do
Palácio Quemado sugeriram que a aposentadoria para os mineiros fosse de 4.000
bolivianos e de 3.200 bolivianos para os demais trabalhadores. Consideravam que
era o máximo que podia ser oferecido, sem colocar em risco a estrutura
econômica do Estado Plurinacional.
Ontem, da Federação Sindical de Trabalhadores Mineiros
da Bolívia (Fstmb), indicaram que aceitariam se aposentar com 4.900 bolivianos.
Até o período da noite, não houve uma nova reunião, entre os grevistas e o
governo, para saber se era viável a quantia requerida pelos mineiros.
Enquanto isso, todas as capitais departamentais e
dezenas de estradas que passam por áreas rurais continuam bloqueadas. A cidade
de La Paz é o local onde mais se sente e se vê a greve geral. Embora os
transportes públicos e os comércios continuem funcionando, as múltiplas interrupções
de ruas e avenidas tornam o centro da cidade um pouco mais insuportável. Diante
das explosões de dinamites, os policiais continuam utilizando gases, protegendo
o acesso à Praça Murillo, em torno da qual estão as sedes dos órgãos Executivo
e Legislativo. Ali também fica o carro Netuno, que ocasionalmente molha e
congela os manifestantes.
Nesta cidade, entre os grevistas há cinco mil
trabalhadores de Huanuni, uma das maiores minas do país, localizada no
departamento de Oruro. Ontem, decidiram permanecer aqui até que se solucione o
conflito, ou piore. Pela manhã, caminharam junto com professores e usineiros,
para acabar num choque com a polícia perto da Praça Murillo.
“Chega de ser passivos. Chega de ver a festa do
balcão, nós vamos entrar e dançar a partir do dia de amanhã. Este governo irá
começar a sentir as mobilizações, aqui, na cidade de La Paz”, disse Víctor
Escobar, secretário de Relações do sindicato de Huanuni.
Ontem, um grupo de esposas de policiais iniciou uma
greve de fome para exigir que seus maridos se aposentem com 100% do salário
mensal, além da anulação da Lei 101, de Regime Disciplinar da Polícia
Boliviana. Antes que o conflito com este setor crescesse, o governo nacional
iniciou mesas de trabalho com representantes dos uniformizados. Estão atendendo
as demandas das mulheres dos uniformizados e também concordam com o texto da
Lei Orgânica da Polícia, que inclui a criação da Defensoria da Polícia.
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