Poder e cifrões nas hidrelétricas


Lúcio Flávio Pinto
Adita

A obra da linha de transmissão de energia da hidrelétrica de Tucuruí para Macapá e Manaus, com 1,8 mil quilômetros de extensão, foi licitada em 2008. Devia custar 1,8 bilhão de reais. Calcula-se que sairá por R$ 3 bilhões – ou mais. A elevação seria em função da imponderabilidade do "fator amazônico” e do atraso na liberação das licenças ambientais por parte do governo federal, que é o dono da concessão do serviço.
O "reequilíbrio econômico de contrato” foi solicitado pela Isolux Corsán, que venceu dois dos três lotes do mais recente "linhão” de Tucuruí. O escritório de consultoria da ex-ministra da Casa Civil de Lula, Erenice Guerra, foi contratado para ajudar a resolver o impasse junto à Aneel, que controla esse contrato.
O jornal O Globo sugeriu que foi mais do que competência profissional que propiciou ao escritório marcar audiência, em janeiro, do então presidente mundial do grupo Isolux Corsán, Antonio Portela Alvarez, com o ministro de Minas e Energia, Edison Lobão, e com a presidente Dilma Rousseff, no Palácio do Planalto. Erenice subiu ao governo do PT com Dilma, quando ela ocupou o mesmo ministério, e a acompanhou à Casa Civil, substituindo-a quando a chefe se tornou candidata à sucessão de Lula. Caiu em meio a um escândalo sobre tráfico de influência.
Caiu na administração pública, mas se recuperou na privada. Obteve mais uma representação de muito peso para o seu movimentado escritório, também sobre uma obra amazônica. Defende os interesses da multinacional francesa GDF Suez, que possui 60% das ações da Energia Sustentável do Brasil. A ESBR constrói a hidrelétrica de Jirau, no rio Madeira, em Rondônia, litiga com a Santo Antônio Energia, responsável por outra usina do mesmo porte rio abaixo. Estão em disputa a definição sobre a operação do Madeira e compensação de R$ 2 bilhões.
A Santo Antônio elevou o nível do seu reservatório, Jura que essa providência beneficia as duas empresas, com ganhos de geração de energia para ambas. A Jirau discorda e diz que vai perder. O impacto seria do valor que cobra. Mas ela preferiria impedir que o reservatório ficasse mais alto. A elevação precisaria ser feita até o início do segundo semestre para ser viável. Sem decisão, o nível do reservatório não mudaria, o que seria o desejo da multinacional francesa.
A Amazônia, como se vê, está no centro de mais essa disputa por poder e cifrões.


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