Nós, bispos do Brasil, reunidos
na 51ª Assembleia Geral da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil-CNBB, em
Aparecida-SP, de 10 a 19 de abril de 2013, manifestamo-nos contra a Proposta de
Emenda Constitucional 215/2000 (PEC 215), que transfere do Poder Executivo para
o Congresso Nacional a aprovação de demarcação, titulação e homologação de
terras indígenas, quilombolas e a criação de Áreas de Proteção Ambiental.
Reconhecer, demarcar, homologar e
titular territórios indígenas, quilombolas e de povos tradicionais é dever
constitucional do Poder Executivo. Sendo de ordem técnica, o assunto exige
estudos antropológicos, etno-históricos e cartográficos. Não convém, portanto,
que seja transferido para a alçada do Legislativo.
Motivada pelo interesse de pôr
fim à demarcação de terras indígenas, quilombolas e à criação de novas Unidades
de Conservação da Natureza em nosso país, a PEC 215 é um atentado aos direitos destes
povos. É preocupante, por isso, a constituição de uma Comissão Especial, criada
pelo Presidente da Câmara para apressar a tramitação dessa proposição legislativa
a pedido da Frente Parlamentar da Agropecuária, conhecida como bancada
ruralista. O adiamento de sua instalação para o segundo semestre não elimina
nossa apreensão quanto ao forte lobby pela aprovação da PEC 215.
A Constituição Federal garantiu aos
povos indígenas e comunidades quilombolas o direito aos seus territórios
tradicionais. Comprometidos com as gerações futuras, os constituintes também
asseguraram no texto constitucional a proteção ao meio ambiente e definiram os
atos da administração pública necessários à efetivação desses direitos como
competência exclusiva do Poder Executivo.
Todas estas conquistas, fruto de
longo processo de organização e mobilização da Sociedade brasileira, são agora
ameaçadas pela PEC 215 cuja aprovação desfigura a Constituição Federal e
significa um duro golpe aos direitos humanos. Fazemos, portanto, um apelo aos
parlamentares para que rejeitem a PEC 215. Que os interesses políticos e
econômicos não se sobreponham aos direitos dos povos indígenas e quilombolas.
Deus nos dê, por meio de seu
Filho Ressuscitado, a graça da justiça e da paz!
Aparecida - SP, 17 de abril de
2013
Dom Raymundo Damasceno Assis, Arcebispo
de Aparecida e Presidente da CNBB
Dom José Belisário da Silva, Arcebispo
de São Luís, Vice-presidente da CNBB
Dom Leonardo Ulrich Steiner, Bispo
Auxiliar de Brasília, Secretário Geral da CNBB
Alegria imensa por esse texto e compromisso em defesa dos povos indígenas e quilombolas!!!
ResponderExcluirRezo para que toda a Igreja, seus pastores e rebanho coloquem em prática o que escreveram.
Como professora de História, em minha região, Pedreira-SP, tenho visto tantos rostos de descendentes indígenas que vem do Paraná, de Minas e até do Norte do Brasil. Deus abençoe a todos!