"2 bilhões de pessoas dependem
de florestas para sua subsistência e sua renda e 750 milhões nelas vivem; ali
nasce mais de metade das águas do planeta; nelas está grande parte da
diversidade de ecossistemas e metade das espécies terrestres de animais e
plantas", escreve Washington Novaes, jornalista, citando Ban Ki-moon,
secretário-geral da ONU, em artigo publicado no jornal O Estado de S. Paulo,
05-04-2013. "Não é casual a revelação de um
estudo da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, informa o jornalista,
mostrando que o Bioma Pampa - que em certas áreas tem maior diversidade vegetal
do que a floresta - já está com 35% de sua superfície ocupada por florestas
plantadas de eucaliptos e pinus".
Eis o artigo.
É impressionante como boa parte da
sociedade e dos meios empresariais - no Brasil e fora daqui - continua a
entender que temas como conservação de florestas, biodiversidade e mudanças
climáticas nascem da fantasia de "ambientalistas" desocupados e
extravagantes. Não levam em conta, na sua visão crítica dos
"ambientalistas", os impactos negativos da predação dos ecossistemas,
principalmente na área da produção econômica - ainda que sejam cada vez mais
frequentes os estudos que alertam para essas consequências.
Quem estiver nessa posição deve
prestar atenção às palavras do secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, diplomata
competente e experimentado, capaz de coordenar a convivência de quase 200 nações,
com autoridade sobre departamentos e órgãos científicos, conferências e acordos
internacionais. Nas recentes comemorações do Dia Internacional da Água, Ban
Ki-moon fez um apelo em favor da redução do desmatamento e da perda de
florestas no mundo, pois elas cobrem um terço da superfície do planeta e
influem decisivamente em serviços vitais para a sobrevivência humana - fluxos
de água, regulação do clima, fertilidade do solo etc. (e esses serviços
prestados gratuitamente pela natureza, já foi comentado neste espaço, valeriam
três vezes mais que todo o produto bruto mundial se tivessem de ser
substituídos por ações e tecnologias humanas).
Segundo o secretário-geral da ONU, 2
bilhões de pessoas dependem de florestas para sua subsistência e sua renda e
750 milhões nelas vivem; ali nasce mais de metade das águas do planeta; nelas
está grande parte da diversidade de ecossistemas e metade das espécies
terrestres de animais e plantas. Mas além da exploração comercial em busca de
madeiras, da derrubada para implantar culturas e pastagens, as florestas sofrem
porque 3 bilhões de pessoas ainda usam madeira como combustível. Pelas mesmas
razões, a Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura
(FAO) tomou idêntica posição, lembrando ainda que a perda de florestas afeta a
segurança alimentar, principalmente das populações mais pobres, já prejudicadas
pelo desperdício de mais de 1 bilhão de toneladas anuais de alimentos.
Deveríamos prestar muita atenção a
essas palavras, já que o Brasil tem cerca de 500 milhões de hectares de áreas
florestais - embora os "verdes" não venham conseguindo discutir na
Comissão de Meio Ambiente da Câmara dos Deputados a redução, com o projeto do
novo Código Florestal, de 58% nas áreas de floresta desmatadas a serem recuperadas,
conforme pesquisa da Universidade Federal de Minas Gerais (Estado, 21/3). Só no
Cerrado a expansão das culturas de soja se traduz em 40 mil hectares desmatados
ilegalmente (Estado, 13/3). A área a ser recomposta com vegetação cairá de 50
mil para 21 mil hectares em Mato Grosso, no Pará, em Minas Gerais e na Bahia.
Não por acaso, a Comissão de Meio Ambiente é presidida pelo maior plantador de
soja em Mato Grosso. E o Brasil ainda não ratificou - o governo agora promete
para 2014 - as novas exigências da Convenção da Biodiversidade, aprovadas em
2010 em Nagoya, que estabelecem a conservação em 17% das áreas terrestres e 10%
das áreas oceânicas.
Também não é casual a revelação de
um estudo da Universidade Federal do Rio Grande do Sul mostrando (Agência Fapesp,
26/3) que o Bioma Pampa - que em certas áreas tem maior diversidade vegetal do
que a floresta - já está com 35% de sua superfície ocupada por florestas
plantadas de eucaliptos e pinus. Como não é acaso que o desmatamento ilegal na
Amazônia, entre agosto de 2012 e fevereiro último, tenha sido de 1.351
quilômetros quadrados, 91% mais que em igual período anterior (Estado, 13/3),
segundo o instituto Imazon - mesmo que nesse período 72% da área estivesse
encoberta por nuvens e não pudesse ser avaliada com precisão. De acordo com
esse instituto, entre 2001 e 2010 a degradação subsequente das áreas florestais
atingiu 30% da área desmatada.
Estudo da Academia de Ciências dos
EUA, que analisou 292 áreas protegidas no Brasil, mostrou há pouco, mais uma
vez, que entre todos os modelos de proteção florestal as áreas indígenas e os
parques nacionais são os mais eficazes, melhores que os chamados projetos de
"exploração sustentável". Ainda assim, o Serviço Florestal Brasileiro
acaba de homologar a concessão de mais duas áreas florestais públicas para esse
tipo de "exploração sustentável" por empresas (o autor destas linhas
conhece diretamente algumas dessas áreas; numa delas, considerada
"exemplar", a empresa foi multada depois pelo Ibama por retirar sete
vezes mais madeira do que estava autorizada). Mas alimenta esperanças o acordo
da Associação Brasileira de Supermercados de não trabalhar com carnes
provenientes de áreas desmatadas.
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