O Conselho Indigenista
Missionário (Cimi) lança amanhã, 27, na sede da Conferência Nacional dos Bispos
do Brasil (CNBB), em Brasília (DF), às 9h, o Relatório de Violência Contra os
Povos Indígenas 2012. O levantamento explicita que o não respeito aos direitos
dos povos indígenas está no cerne desta violência.
Registrando um aumento das
violações em várias de suas categorias, o Relatório aponta que as violências
praticadas contra os povos indígenas têm causas vinculadas à omissão e
morosidade no tocante à regularização de terras indígenas; aos confinamentos de
grandes populações em pequenas reservas, como as de Dourados, Amanbaí e
Caarapó, no Mato Grosso do Sul; aos acampamentos na beira de estradas, onde
dezenas de comunidades estão abandonadas; e à degradação ambiental realizada em
terras, em sua maioria, já demarcadas, em que não índios invadem e exploram
ilegalmente os recursos naturais, principalmente madeira.
Outras duas causas que
contribuem de modo estrutural para a violência vivida pelos povos em suas
aldeias são a política desenvolvimentista do governo, que enxerga os povos
tradicionais como obstáculo ao progresso, e a falta de uma política indigenista
orgânica, que se inter-relacione com as demais políticas e respeite as
diferenças étnicas e culturais, especialmente em saúde, educação, segurança e
acesso e usufruto às suas terras tradicionais.
“Se os direitos garantidos pela
legislação brasileira aos povos indígenas fossem respeitados, não teríamos o
preocupante quadro de violência que o Relatório apresenta. O problema é o não
cumprimento e o severo e sistemático ataque a esses direitos, duramente
conquistados por essas populações, em benefício de uma minoria historicamente
privilegiada deste país, como os latifundiários”, avalia Cleber Buzatto,
Secretário Executivo do Cimi.
No decorrer de 2012 e neste
primeiro semestre de 2013, povos indígenas de todo Brasil têm demonstrado forte
oposição às várias propostas e ações dos poderes Executivo, Legislativo e
Judiciário que vão justamente no sentido da retirada de seus direitos. Este é o
caso da Proposta de Emenda Constitucional (PEC) 215/2000, que transfere para o
Legislativo a competência das demarcações de terra indígenas; da Portaria 303,
da Advocacia Geral da União (AGU), que estende as condicionantes da demarcação
da Terra Indígena Raposa Serra do Sol para todas as terras indígenas do Brasil;
e o Projeto de Lei (PL) 1610/1996, de autoria do senador Romero Jucá (PMDB/RR),
que dispõe sobre a exploração e o aproveitamento de recursos minerais em terras
indígenas e desconsidera totalmente o que está posto no Estatuto dos Povos
Indígenas, cuja tramitação está paralisada há mais de vinte anos no Congresso.
Dentre os palestrantes na mesa
estarão: Dom Erwin Kräutler, presidente do Cimi e bispo da Prelazia do Xingu,
Lúcia Helena Rangel, professora de antropologia da PUC/SP e assessora do Cimi e
o Guarani-Kaiowá, Solano Lopes, da comunidade Pyelito Kue. Este foi o povo que,
em outubro de 2012, comoveu o Brasil relatando em uma carta a dramática
situação a que estão submetidos. Desiludidos, eles afirmaram que "Como um
povo nativo e indígena histórico, decidimos meramente em sermos mortos
coletivamente aqui". A carta teve ampla repercussão internacional. Solano
Lopes explicará qual é a situação atual do seu povo.
Os dados do Relatório foram
obtidos a partir da sistematização de relatos e denúncias dos povos e
organizações indígenas, informações levantadas pelas equipes do Cimi em seus 11
Regionais espalhados pelo Brasil, notícias veiculadas pela imprensa, além de informações
obtidas de órgãos públicos.
Muito bom, Paulo, vai me ajudar muito na palestra que vou dar na terça-feira no Instituto de Advogados Brasileiros, no Rio, sobre o tema
ResponderExcluir