Após três horas e meia de reunião com índios terena, o
ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, anunciou nesta quinta-feira a
criação, em 15 dias, de um fórum para discutir a questão da ocupação da Fazenda
Buriti, no Mato Grosso do Sul, onde o índio Oziel Gabriel foi morto na semana
passada. A situação, disse Cardozo, é de "arrefecimento do clima de
tensão" e de "possibilidade de acordo". Os terenas, segundo ele,
se comprometeram a não fazer novas ocupações nesse prazo dos 15 dias.
A reportagem faz parte de reportagem de Rafael Moraes Moura
e Pablo Pereira [cf. O Estado de S. Paulo, 07-06-2013].
Em Sidrolândia, onde ocorreram os conflitos, a Força
Nacional já tem 110 homens a postos, em cinco áreas próximas às fazendas. O
comandante da tropa, major Luiz Alves, afirmou porém que sua missão é
"pacificar" e não fazer "nenhuma reintegração de posse".
Entre os fazendeiros, Ricardo Bacha, dono da Fazenda Buriti, acusou a Justiça
de estar "lavando as mãos" no episódio.
A ideia de criar um fórum, explicou em Brasília o ministro
da Justiça, é "chegarmos a um acordo sobre como pode ser solucionado esse
conflito". Ele quer discutir o assunto com o Conselho Nacional de Justiça,
Ministério Público e com o governo do Mato Grosso do Sul. Também ontem, Cardozo
e o ministro Gilberto Carvalho, secretário-geral da Presidência, assinaram nota
em que assumem o compromisso de uma "apuração rigorosa e imparcial"
da morte de Oziel.
Força Nacional
Os 110 homens da Força Nacional começam a patrulhar a área
amanhã . A informação foi dada pelo major Luiz Alves, comandante da tropa, depois
de reunião com nove líderes terenas, guerreiros e mulheres das comunidades,
Funai e Ministério Público.
"A Força não veio para fazer qualquer reintegração de
posse. Estamos aqui para patrulhar e pacificar", explicou o major.
"Estamos satisfeitos com a reunião de paz", completou o cacique
terena Jânio Reginaldo, um dos líderes do encontro.
Os soldados vão controlar as estradas de acesso às aldeias e
às fazendas ocupadas - entre elas a Buriti, Santa Clara, Cambará e São
Sebastião, que estão no centro dos conflitos.
Para o procurador do MPF Émerson Kalif Siqueira, a situação
muda daqui para a frente - ele entende que o encontro vai acalmar os ânimos.
Siqueira passou a manhã na aldeia, colhendo depoimentos sobre os episódios que
levaram à morte do terena Oziel Gabriel.
Ao final, Reginaldo disse que os terena vão permanecer nas fazendas que foram retomadas, segundo eles, e que já somam uma dúzia das 23 mapeadas para compor o total de 17,3 mil hectares reivindicados. [...]
Carta de
Solidariedade aos Povos Indigenas-MS
da Conferência dos
Religiosos do Brasil, Regional Campo Grande
A Conferência dos Religiosos do Brasil, Regional MS, vem
manifestar sua inquietação diante das injustiças sofridas pelos Povos Indígenas
de nosso Estado. Sentimo-nos indignados diante da inércia do Governo Estadual e
Federal. É incompreensível o fato de que
uma instancia governamental tenha produzido um laudo antropológico favorável
aos Índios Terenas reconhecendo o direito a posse da terra; (que legitimou a
ocupação) e ao mesmo tempo outra instancia governamental (poder de posse de
forma violenta e trágica levando a morte o líder Terena Oziel Gabriel.
judiciário) negando o laudo tenha mandado um “verdadeiro batalhão” de militares
para área em litígio para fazer “tal” reintegração.
A truculência do Estado policialesco é assustador; isso além
de esquecer sua vocação maior que é dar garantia de vida ao cidadão nos obriga
a conviver com um policiamento com alto índice de agressividade e total
despreparado para atuar em situações mais delicadas.
Nós Religiosos e Religiosas presentes em todo Estado do MS,
viemos a publico manifestar a nossa indignação diante de tais fatos e ao mesmo
tempo nossa solidariedade com a causa de todos os pobres. Muitas das nossas
comunidades Religiosas atuam junto a varias etnias Indígenas presentes no
Estado. Por isso a morte de mais uma liderança Indígena, provoca em nós o grito
pela vida baseada nas palavras de Jesus: “Eu vim para que todos tenham vida e a
tenham em abundância” (Jo10, 10).
O povo indígena toma consciência de si mesmo e opta pela
vida isso se evidência pela existência de um grande numero de crianças,
adolescentes e jovens em suas famílias; daí ser a terra um elemento vital pra
sua sobrevivência étnica.
A coragem e fé do Povo Indígena convoca a todos os homens e
mulheres de boa vontade a unir-se em prol da construção de uma sociedade justa
e fraterna que seja digna para todos os seus cidadãos. Todos nos somos
convocados a fazer nossa esta luta de unidade para que a justiça prevaleça e a
vida possa seguir seu rumo segundo os desígnios de Deus.
Presidência da CRB REGIONAL de Campo Grande 04 de junho 2013
– MS.
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