Tamim al Barghouti |
O hino que jovens entoaram por
dias a fio na praça Tahrir, no Cairo, surgiu como poesia pelas mãos do escritor
e cientista político palestino Tamim al Barghouti, 35.
Barghouti foi anunciado como
convidado da Festa Literária Internacional de Paraty (Flip), que começa no dia
3 de julho. Desembarcará num país diferente daquele que o convidou -- dados os
últimos acontecimentos, sua experiência não soa mais tão estrangeira em território
nacional.
"O aspecto mais magnífico e
o mais exaustivo dessa revolução é que não possui líderes", diz, sobre os
protestos no Egito, embora pudesse estar falando dos nossos. "Portanto,
não pode ser derrotada, mas também não pode governar. Não podemos dizer esse é
o nosso líder', fazer-lhe presidente, mas podemos dizer: Aqui estamos, aos
milhões. Quem for presidente terá de responder a nós. Poderemos decidir, se
necessário, nas ruas."
Não tem sido tão fácil por lá, é
verdade. Eleito democraticamente há um ano, o islamita Mohamed Mursi, da
Irmandade Muçulmana, enfrenta o mesmo tipo de fúria que derrubou seu
antecessor, o ditador Hosni Mubarak, após duas décadas no poder. A frágil
economia do país e a nova sensação de força popular fizeram com que as pessoas
nunca deixassem de protestar.
Barghouti acha difícil comparar a situação
no Oriente Médio com a de outros países nos quais a população também foi às
ruas nos últimos anos.
O seu poema “Em Jerusalém”
parece evocar um sentimento de exclusão. Porque tantos se identificaram com
tais versos?
O problema acontece, como sempre, quando um
grupo de pessoas pensa que tem mais direitos. Qualquer homem ou mulher da fé
judaica pode se tornar um cidadão de Israel, palestinos que foram expulsos de
suas casas pelas forças israelenses em 1948 não estão autorizados a voltar. Se
os palestinos se tornassem judeus amanhã, eles seriam autorizados a voltar. A
razão pela qual eles estão em campos de refugiados é que eles parecem ter a
religião errada! A exclusão dos palestinos por parte de Israel não é apenas uma
ofensa contra eles, mas contra os árabes, os muçulmanos, os cristãos e todos
que acreditam na igualdade humana.
Mais de dois anos depois, a
energia da Primavera Árabe se dissipou?
Ainda há esperança?
Acho que há. Afinal, no Iraque e
na Síria, os americanos mudaram seu apoio entre sunitas e xiitas tantas vezes
que hoje há pouca confiança neles. As pessoas estão se tornando cada vez mais
conscientes de que esta é a clássica tática de dividir para reinar, nada de
novo. Além disso, se as coisas ficarem bem no Egito, o resto da região o
seguirá. As coisas não estão indo bem agora, mas vão dar certo, pois todas as
condições estruturais estão lá. Você tem uma população cada vez mais engajada,
ativa e consciente, e um aparato de segurança enfraquecido, que não pode
oprimir em larga escala. E os EUA, que não estão em posição de impor
violentamente a sua hegemonia. O Egito vai se libertar da influência americana,
e junto com o Irã e a Turquia será capaz de reorganizar o Oriente Médio.
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