Quando nós do Cimi tivemos dúvidas sobre o rumo pastoral
da entidade, convocamos uma Assembleia dos Povos Indígenas. Dessas Assembleias
sempre recebemos luzes para a análise da realidade e os encaminhamentos
pastorais. O Sínodo de Roma foi um Sínodo de Bispos e não do povo de Deus. Eis
a falha estrutural desses sínodos que procuraram realizar a “colegialidade” sem
a nova eclesiologia de uma Igreja povo de Deus. E esse povo de Deus seria
indispensável para a análise da crise eclesial e para encaminhamentos
pastorais. Colegialidade sem povo de Deus aponta para um corporativismo
episcopal que não rompe o próprio círculo de giz.
A seguir publicamos trechos principais da entrevista
que o padre Adolfo Nicolás, superior geral dos jesuítas, concedeu, às margens
do evento sinodal e que foi reproduzida pela revista Popoli, 29-10-2012. A tradução
é de Moisés Sbardelotto (IHU).
Análise geral
do Sínodo
Devo confessar que eu tinha alguns temores sobre o
Sínodo antes do seu início. Eu me perguntava: moveremo-nos na direção de falar
sempre das mesmas coisas ou seremos capazes de seguir em frente com coragem e
criatividade?
Adolfo Perez SJ |
A realidade do Sínodo foi nas duas direções. Posso
indicar: 1) alguns aspectos positivos, inspiradores e encorajadores, e 2)
algumas insuficiências que indicam campos em que a Igreja, ou ao menos a
consciência dos bispos e dos outros padres sinodais, incluindo eu, ainda tem
caminho a percorrer.
Podemos
dividir os aspectos positivos em três categorias:
a) Contribuições geográficas. Esse aspecto refere-se à
apresentação que nos deu o justo sentido da situação, dos argumentos e, muitas
vezes, dos sofrimentos de alguns países, em particular o Oriente Médio, a
África ou a Ásia. Um dos melhores aspectos do Sínodo é o próprio fato de que os
bispos de tantas nações têm a possibilidade de se comunicar e de trocar
livremente as experiências e o pensamento.
b) Iniciativas originais em andamento, especialmente
as baseadas nos projetos de cooperação, de trabalho em rede e de intercâmbio em
nível internacional, nos quais os leigos e os movimentos estão envolvidos a
fundo e comprometidos. [...]
c) Reflexões sobre os fundamentos, o significado e as
dimensões da Nova Evangelização. Aqui podemos constatar uma grande convergência
em alguns pontos, incluindo:
- A importância e a necessidade da experiência religiosa
(o encontro com Cristo);
- A urgência de uma boa formação espiritual e
intelectual dos novos missionários;
- O papel central da família (Igreja doméstica) como
lugar privilegiado para o crescimento na fé;
- A importância da paróquia e das suas estruturas que
precisam ser renovadas para se tornarem cada vez mais abertas a um compromisso
e ministério dos leigos mais amplo;
- A prioridade à evangelização, em vez da expressão
sacramental, como afirma São Paulo de si mesmo: "Enviado a evangelizar e
não a batizar". E assim por diante.
Entre as
"insuficiências" podemos indicar o seguinte:
a) A voz do "Povo de Deus" não tem espaço
para ser escutada. É um Sínodo de bispos e, portanto, não há muito espaço para
a participação dos leigos, mesmo que tenha sido convidado um certo número de
"especialistas" e de "observadores" (auditores). Isso me
fez pensar na afirmação de Steve Jobs que dizia estar interessado em ouvir mais
a voz dos clientes, em vez da dos produtores. E no Sínodo todos éramos "produtores".
b) E assim foi difícil não pensar que essa era uma
reunião de "homens da Igreja, que reafirmavam a Igreja", o que é bom
em si mesmo, mas que não reflete o que precisamos em tempos de Nova
Evangelização. Há o perigo real de produzir sempre a mesma coisa.
c) Falta de reflexão sobre a Primeira Evangelização e,
consequentemente, uma escassa consideração para saber se e o que aprendemos com
a longa história passada e com os aspectos positivos dela, assim como com os
erros que cometemos. Essa omissão poderia ter consequências muito negativas.
d) Pouca consciência e/ou conhecimento da história da
evangelização e do papel que nela tiveram os religiosos e as religiosas. Em
certos momentos, a vida religiosa foi ignorada ou foi lembrada apenas de
passagem. Não que nós, religiosos, precisamos de afirmações adicionais, mas
quero expressar a minha preocupação com o fato de que a Igreja corre o risco de
perder a sua própria memória.
e) Talvez o ponto mais fraco do Sínodo foi a
metodologia que foi seguida, muito semelhante ao modo pelo qual nós também
levávamos adiante as nossas Congregações Gerais. Eu espero, no entanto, que a
complexa realidade e as necessidades do futuro ajudem a Igreja a reorganizar os
seus modos de proceder em vista de maiores frutos apostólicos. [...]
A análise do superior geral dos jesuítas coincide com o enunciado, bem como com algumas notícias esparsas que tivemos sobre o Sínodo!!!!
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