Um incêndia consumiu as casas de 543 famílias na manhã desta
terça-feira (27.11.), no bairro São Jorge, zona centro-sul de Manaus. Cerca de
2 mil pessoas, segundo a Defesa Civil Municipal, moram no local. [...]
Moradores das palafitas tentaram, desesperadamente, salvar
seus pertences. As casas são todas construídas em cima de assoalhos de madeira,
cerca de 2 a 3 m acima do solo. Nesta época do ano, o igarapé que passa na área
está reduzido a um pequeno córrego, o que permitiu que os moradores jogassem
seus pertences nas margens. "Quando cheguei, o fogo estava próximo, só deu
pra salvar o som e a televisão", disse o vendedor Itamar Macedo, morador da comunidade há 10 anos. Ele contou
que perdeu todos os outros móveis. Muita gente ficou no meio da rua com camas,
colchões, geladeiras e fogões, além de roupas e outros utensílios.
Alguns moradores contaram que o fogo começou com um
curto-circuito. Praticamente todas as casas da comunidade usam ligações
clandestinas. O acesso ao interior da comunidade é feito somente por passarelas
estreitas, também feitas de madeira. Moradores reclamaram que os bombeiros não
tinha mangueiras suficiente para impedir que o fogo se alastrasse. O comando
negou essa hipótese.
Uma Testemunha da Equipe Missionária Itinerante conta
Já é o começo do dia 28 de novembro de 2012, não consigo
dormir, ainda tenho o corpo quente do calor que vivenciamos com o incêndio das
muitas casas da Comunidade Arthur Bernardes, onde vivemos.
Cheguei de viagem as duas e pouco da manha em casa,
conversamos um pouco com a companheira Graça Gomes que havia marcado seu início
de uma nova etapa de vida: celebrou seus 50 aninhos de feliz existência. E que
luxo..."que privilégio celebrar na comunidade itinerante", dizia ela
agradecida a sua Congregaçao das Catequistas Franciscanas e aos companheiros
jesuitas que com carinho e gratuidade estiveram juntos celebrando a vida em
abundância.
Cedo da manha as crianças estavam em casa e começaram a
dizer: "tia o que está acontecendo? estão correndo pra associação".
Com a Graça corremos para ver e...uma casa pegando fogo!. Ligamos p o corpo de
bombeiros e nada..., fomos socorrer uma senhora idosa que passava mal,
tentávamos "acalmar" as pessoas para que pudéssemos agir entre
ajudando-nos e o fogo se alastrava...Uma correria só, o fogo aumentava e o
desespero bateu, nossos corpos tremiam vendo aquela realidade, o chororô saía
sem pedir licença...muita humanidade.
Fomos chamando @s vizinh@s. "A voz da verdade"
orientava os comunitários e pedia para colocarmos as coisas no meio do campo e
retirássemos as crianças e idos@s. Foi rápido o domínio do irmao fogo.
Muita solidariedade entre as pessoas vizinhas, familiares e
amig@s. Muito roubo tb, infelizmente teve gente que ficou sem nada devido a
atitudes feias de alguns.
Nós da equipe itinerante recebemos muita solidariedade,
telefonemas, presenças, ajudas concretas. Meus pais sofriam vendo de longe a
fumaça que saía do bairro, minhas irmas e irmao avisavam os amigos que chegavam
para ajudar.
Nossa casa, esteve acolhendo a vizinhança que trazia suas
coisas para guardar. E...será que receberam algum sinal de que nossas casas não
queimariam? Justamente as casas vizinhas as nossas também não queimaram. Mas
para seguir as ordens do pessoal do corpo de bombeiros depois de ajudarmos os
comunitários, cuidamos também de tirar as nossas. Os dois noviços dos jesuitas
que fazem comunidade conosco, simplesmente foram companheiros, solidários,
irmãos de uma vida entregada a serviço de outras vidas.
Os vizinhos do outro lado do igarapé colaboraram
atravessando, na canoa do seu Chico, todas as bagagens de uma boa parte dos
moradores.
Depois de muitas horas da demonstração do poder do fogo, os
bombeiros o conseguiram controlar; o estrago estava feito. Nosso bairro parecia
um campo de concentração, mal comparado, mas com a alegria de ter salva as
muitas vidas. Muitos estão nos centros comunitários, casas de parentes e
amigos. Mas muitas famílias continuam no bairro. A fumaça, os muitos esteios
queimados e muita gente cuidando e procurando o que sobrava.
Muitas famílias ficaram só com a vida e a roupa do corpo. O
bairro ficou sem água, sem luz elétrica. Mas mantém a esperança e a certeza de
que é na organização, união e solidariedade que vencermos essa batalha que
apenas continua.
Agora tenho que ir-me, mas antes partilhar este ato: o Ney
Valente (desempregado) e amigos do Centro Intercultural Fernando Lopez, bairro
da Compensa, depois de ter passado a manha inteira ajudando a carregar,
derrubar casa para o fogo não avançar, telefonou dizendo: "Mãezinha,
estamos preparando um panelão de sopa e vamos levar aí pro pessoal"!
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