A oxigenação da Igreja pela entrevista do papa Francisco






Em sua recente entrevista concedida às revistas dos jesuítas, o papa Francisco disse que “pensar com a Igreja” não consiste em simplesmente receber ordens da hierarquia. “Quando o diálogo entre o povo, os bispos e o papa segue adiante e é levado a sério, é assistido pelo Espírito Santo”.

 
  Animadas por este espírito, cem organizações da Igreja, respaldadas por mais de quatro milhões de católicos do mundo todo, enviaram ao papa Francisco e seus conselheiros uma carta pedindo uma audiência para conversar sobre o governo da Igreja. Pedem que o Papa e os cardeais deem aos sacerdotes, aos religiosos e aos leigos maior responsabilidade na tomada de decisões na Igreja, inclusive na nomeação dos bispos. Que o diálogo e o respeito à consciência substitua o governo autoritário. E que sejam expulsos os oficiais eclesiásticos que tenham facilitado ou ignorado o escândalo dos abusos sexuais por parte de clérigos.
 
A reportagem é de Andrea Tornielli, publicada no jornal La Stampa, 21-09-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto, da Unisinos.
 Eis o texto.
 
O que mais o impressionou?
 
A forma da entrevista em si só não é incomum e foi usada pelos seus antecessores, mais recentemente Bento XVI. E Francisco diz claramente que não há mudanças de doutrina, mesmo nos pontos morais delicados. O que me impressionou foi a percepção: para Wojtyla e Ratzinger, certos valores eram proclamados no espaço público para criar uma discriminação e mostrar a capacidade antagonista da Igreja. Para Bergoglio, ao invés, parte-se do povo fiel.
 
Então, qual é a novidade?
 
O papa pensa a partir das almas, e não das leis. Da pessoa, e não dos "ismos". O que mostra a grande força da experiência cristã do catolicismo. Na fé católica romana, permanecendo inalterada a doutrina, pode-se ter uma atitude que é percebida como oposta à anterior.
 
Alguns analistas escreveram que assim se deixam para trás algumas das prioridades dos dois últimos pontificados e da recente experiência da Conferência Episcopal Italiana...
 
Na realidade, a entrevista do papa cria uma nova categoria de "clandestinos"... São muitos bispos, que agora se encontram em dificuldade. Sentem constrangimento, porque o registro da vida paroquial não é o deles: eles têm a vontade de se sintonizar, mas não têm os instrumentos, pois, até pouco tempo atrás, para fazer carreira, bastava ser publicamente enérgico, mostrar os músculos diante das pessoas com problemas morais, porque qualquer outra abordagem era considerada timidez e conluio com o relativismo.
 
Francisco fala que ele mesmo é "um pecador". O que isso significa?
 


Esse é o verdadeiro sentido do pecado cristão. Que não está, acima de tudo, em fazer um exame tendo nas mãos o prontuário dos pecados, mas sim em reconhecer que a nossa condição é a de pecador. O papa dá uma chicotada em uma concepção um pouco simplista dos últimos anos: parecia que os pecados sempre eram feitos pelos outros.

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