Em sua recente entrevista concedida às
revistas dos jesuítas, o papa Francisco disse que “pensar com a Igreja” não
consiste em simplesmente receber ordens da hierarquia. “Quando o diálogo entre
o povo, os bispos e o papa segue adiante e é levado a sério, é assistido pelo
Espírito Santo”.
A reportagem é de Andrea Tornielli, publicada
no jornal La Stampa, 21-09-2013. A tradução é de Moisés Sbardelotto, da
Unisinos.
O que mais o impressionou?
A forma da entrevista em si só não é incomum
e foi usada pelos seus antecessores, mais recentemente Bento XVI. E Francisco
diz claramente que não há mudanças de doutrina, mesmo nos pontos morais
delicados. O que me impressionou foi a percepção: para Wojtyla e Ratzinger,
certos valores eram proclamados no espaço público para criar uma discriminação
e mostrar a capacidade antagonista da Igreja. Para Bergoglio, ao invés,
parte-se do povo fiel.
Então, qual é a novidade?
O papa pensa a partir das almas, e não das
leis. Da pessoa, e não dos "ismos". O que mostra a grande força da
experiência cristã do catolicismo. Na fé católica romana, permanecendo
inalterada a doutrina, pode-se ter uma atitude que é percebida como oposta à
anterior.
Alguns analistas escreveram que assim se
deixam para trás algumas das prioridades dos dois últimos pontificados e da
recente experiência da Conferência Episcopal Italiana...
Na
realidade, a entrevista do papa cria uma nova categoria de
"clandestinos"... São muitos bispos, que agora se encontram em
dificuldade. Sentem constrangimento, porque o registro da vida paroquial não é
o deles: eles têm a vontade de se sintonizar, mas não têm os instrumentos,
pois, até pouco tempo atrás, para fazer carreira, bastava ser publicamente
enérgico, mostrar os músculos diante das pessoas com problemas morais, porque
qualquer outra abordagem era considerada timidez e conluio com o relativismo.
Francisco fala que ele mesmo é "um
pecador". O que isso significa?
Esse é o verdadeiro sentido do pecado cristão. Que não está, acima de tudo, em fazer um exame tendo nas mãos o prontuário dos pecados, mas sim em reconhecer que a nossa condição é a de pecador. O papa dá uma chicotada em uma concepção um pouco simplista dos últimos anos: parecia que os pecados sempre eram feitos pelos outros.
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