No
leito do rio já se percebe a diminuição do fluxo das águas ao ponto de pequenas
embarcações terem dificuldades na navegação. Em algumas áreas, isso já é
impossível.
A
reportagem é de Anderson Barbosa,
publicado por Rede Brasil Atual - RBA,
Reproduzida
por Unisinos, 11-03-2014.
Pedras
acumuladas ao longo do tempo, postas cuidadosamente umas sobre as outras pela
força das águas, formando esculturas, seriam um espetáculo de beleza, não fosse
a exposição fruto da queda do nível do rio.
Não
se trata apenas do fluxo que naturalmente, durante uma época do ano, diminui
sua vazão. Os peixes desapareceram do rio, com um impacto econômico drástico na
atividade pesqueira da região.
Raimundo
Campos da Silva, 53 anos, casado, pai de 7 filhos. Representante da terceira
geração de pescadores da região de Altamira, no estado do Pará, é um dos que
sofrem na pele estes impactos. Desde o início das obras da hidrelétrica de Belo
Monte, no rio Xingu, até hoje, nenhum pescador, bem como a maioria das famílias
que sofreram com a construção, foi indenizado.
Além
dos danos provocados por Belo Monte, em breve podem ter início as obras da Belo
Sun Mining Corporation, uma mineradora canadense que tem o maior projeto de
extração de ouro do Brasil, com previsão de produzir uma média anual de 4,6
toneladas, na mesma região da Volta Grande, o que pode causar outros impactos
na pesca.
Durante
quatro dias com seu Raimundo, imerso no rio Xingu, percebem-se os impactos
causados na rotina do rio e de quem vive dele. Antes, seu Raimundo pescaria 130
quilos de peixe, mas, agora, não consegue mais que 10 quilos.
Raimundo,
de fala mansa, que gosta de um brega e vibra ao ouvir Roberto Carlos, está
descrente com o futuro da pesca em Altamira. O que alimenta sua esperança é a
indenização de sua casa, no bairro Invasão dos Padres, uma vila de palafitas
que ficará permanentemente alagada após a barragem definitiva do rio. Com a
indenização ele pretende ir embora para o estado do Amazonas, comprar um novo
barco, construir uma nova casa e recomeçar a vida, seguindo com a pesca. Por
enquanto, agora na época da desova e pela proibição do Ibama, seu Raimundo e
outros pescadores sobreviverão por quatro meses de um salário mínimo, uma
conquista adquirida há alguns anos por lutas dos pescadores.
Muito triste, lamentável, que obras de grande porte expulsem os moradores ribeirinhos de suas terras, expondo famílias inteiras à fome e vulnerabilidade. E os estudos de impacto ambiental, e a garantia de sobrevivência, com dignidade, dessas famílias que dependem da pesca como única fonte de sobrevivência? A quem recorrer, nesse impasse, perante a necessidade premente de proteção a vidas humanas????
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