Marcha à ré: Regressão sempre é possível, mas é doença mental!

Carnaval fora de época pede a volta dos militares ao poder

Vão dizer que a chamada Marcha era uma manifestação a favor da volta dos militares ao poder, mas aquilo tudo era engraçado demais pra ser levado a sério

Fonte: Carta Maior

Roberto Brilhante
Roberto Brilhante
Este 22 de março foi carnaval fora de época em São Paulo. Cerca de mil ou duas mil pessoas se reuniram na Praça da República entoando marchinas antiquadas, acompanhadas de cornetas militares e vestindo fantasias muito criativas. Alguns vão dizer que a chamada “Marcha da Família com Deus pela Liberdade” era uma manifestação a favor da volta dos militares ao poder, mas aquilo tudo estava engraçado demais pra ser levado a sério.


Passista (foto: Roberto Brilhante)
A música do trio elétrico na forma de caveirão foi bastante entediante: tocaram o hino nacional incessantemente, só mudando às vezes para uma versão forró, bem mais divertida, mas que os passistas sempre gritavam para que fosse tirada, afinal, acho que aquela brincadeira de desfile militar não combinava muito com um xote do hino. E tinha fantasia para todos os gostos: de padre, de latifundiário, e até de velhinhas e velhinhos moralistas da Marcha ocorrida há 50 anos (e um cheiro estranho denunciava que, de fato, alguns participaram da antiga marcha e vivem desde de então conservados e conservadas em grandes banheiras de formol)


Caveirão Trio-Elétrico (Foto: Roberto Brilhante)
O governo de São Paulo pagou para que muitos policiais participassem do carnaval devidamente fardados e armados. Eles não entoavam as marchinhas contra o comunismo e o PT, mas sambavam um samba do coturno ao som dos cânticos dos manifestantes que cantavam “queremos militares protegendo o Brasil.”

Polícia participou do desfile (foto: Roberto Brilhante)
Os cartazes pareciam saídos dos comentários reacionários dos portais de notícias: “Dilma Vá pra Cuba que a Pariu”; “Pelo Fim da Comissão da Verdade”; “Contra a Ditadura (!!!) na Internet: Não ao Marco Civil”; “fora urna eletrônica”; “Nossa Senhora, Salvai-nos do Comunismo.” Tudo isso arrancava gargalhadas de alguns cidadãos que estavam pelas ruas, mas que cobriam a boca com receio dos passistas fardados e/ou fantasiados.
 
Passistas também cantaram a oração católica "ave Maria" (foto: Roberto Brilhante)
Uma figura icônica da internet estava lá também, Leonardo Sakamoto caminhou tranquilamente (ou não tão tranquilamente assim) entre os passistas. Um grupo de carecas mal encarados maldiziam o jornalista, ao que perguntei, como se não soubesse quem era:
- Quem é o japonês de óculos do Matrix?
- É o Sakamoto, aquele porco comunista que anda de Ferrari.
 
Sakamoto foi perseguido pelas trombetas do apocalípse militar (foto: Roberto Brilhante)
Enfim, continuemos. Perguntei ao motorista do trio-elétrico-caveirão em quem ele havia votado na última eleição, ao que ele me respondeu, com um sotaque nordestino e um sorriso cúmplice no rosto “não votei em ninguém…” Os passistas pareciam não entender porque o povo continua a votar nos “comunistas”, que ao que as pesquisas indicam têm grandes chances de vencerem as eleições presidênciais no primeiro turno.
 
Pa(fa)ssistas (foto: Roberto Brilhante)
Como diria o velho Bukowski “as pessoas saem do pátio do colégio, mas o pátio do colégio não sai de muitas pessoas”, e o carnaval de hoje em São Paulo mostrou como muitos ainda criam fantasmas de comunistas comedores de criancinhas para neles projetar suas frustrações da mais tenra infância. E ainda bem que hoje, ao que tudo indica, podemos gargalhar disso.
Mais fotos:
 
 
 Vai tomar no... nem todo mundo achou esse carnaval tão engraçado (foto: Roberto Brilhante)
 
Só para conversão à esquerda (foto: Roberto Brilhante)
Há quem diga que os militares estão saindo da linha (foto: Roberto Brilhante)
Perigo à esquerda (Foto: Roberto Brilhante)

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