Boa Nova de Obama para o Papa Francisco: Santo Padre, nós mandamos retirar todos os aparelhos de escuta de seu confessionário.
Francisco: É mesmo? E nós mandamos retirar o Anjo da Guarda da Casa Branca.
Ivana Bentes: Respeitosamente vândala para forjar um jornalismo menos "normopata" (2)
Eis a entrevista.
Qual a sua avaliação sobre os
parâmetros curriculares recém-instituídos pelo Conselho Nacional de Educação
para os cursos de jornalismo?

As novas diretrizes respondem a uma
crise de mediação. Mas o jornalista não é mais o mediador privilegiado, o
“gatekeeper”, o guardião do que é ou não é notícia, do que é ou não noticiável.
As corporações de mídia e o jornalismo nunca foram tão questionados e buscam
manter de pé uma mística da excepcionalidade da atividade jornalística. Com ou
sem formação especializada, a mídia somos nós. O que não acaba com a
necessidade de formação, mas a estende para toda a sociedade. O jornalismo é
importante demais para ficar na mão de corporações, cartórios e especialistas.
A sra. começou afirmando que vê um
retrocesso e uma quase tragédia…
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As viuvas de Gutemberg |
A sra.é contra o diploma de
jornalista?
Sempre fui contra. O fim da
obrigatoriedade não acabou com os cursos de Comunicação, nem diminuiu a busca
pela habilitação em Jornalismo, campos que nunca foram tão valorizados. Os
jornais sempre burlaram a exigência de diploma pagando muitas vezes os maiores
salários aos não-jornalistas, cronistas, articulistas, vindos de diferentes
campos. As universidades não precisam formar os “peões” diplomados, mas jovens
capazes de exercer sua autonomia, liberdade e singularidade, dentro e fora das
corporações. Não precisamos de profissionais “para o mercado”, mas capazes de
“criar” novos mercados, jornalismo público, pós-corporações, produção
colaborativa em rede.
O mais importante nenhuma entidade
corporativa defendeu nem pensou: uma seguridade nova para os freelancers, os
precários, aqueles que não têm e nunca terão carteira assinada. Essas são as
novas lutas no capitalismo.A ideia de que para ter direitos é preciso se
“assujeitar” a uma relação de patrão-empregado, de “assalariamento”, é
francamente conservadora.
Sem a obrigatoriedade do diploma, qual
o sentido de um jovem ingressar em uma faculdade de Comunicação?
O capitalismo, as revoluções dentro do
capitalismo e as ações anti-capitalistas, a publicidade, a economia imaterial,
tudo isso depende desse domínio midiático e da posse dessas linguagens. O
capital já entendeu isso faz tempo. E se quisermos pensar jornalismo público,
jornalismo do comum, a produção de um midiativismo capaz de ativar os desejos
por mudanças sociais, tudo isso passa por um outro tipo de formação. A
comunicação é central na sociedade de redes. Se o capitalismo é comunicacional,
a revolução terá que ser também midiática. É um campo fascinante, que não para
de mobilizar os jovens.
Há duas décadas, a sra. iniciou sua
vida acadêmica. Já formou centenas de jornalistas que estão no mercado. Eles
estão cumprindo seu papel social?
A Escola de Comunicação da UFRJ formou
e forma desde a Fátima Bernardes, que até pouco tempo atrás dividia a bancada
do Jornal Nacional com William Bonner, até o Rafucko, que acabou de lançar um
vídeo com mais de 800 mil visualizações. Esse vídeo desconstruía, criticava e
escrachava um editorial da Globo sobre as manifestações e a liberdade de
expressão. Formamos a elite que reproduz o poder e os que lutam por mudanças
radicais e se arriscam e inovam. Essa disputa é feita dentro da
universidade.Somos criticados por formarmos editorialistas, jornalistas que
colocam sua inteligência a serviço do capital ou nos entretendo com perfumaria.
E, ao mesmo tempo, um blog da Veja, me acusou de ser uma “blackblocteacher”, de
formadora de blackblocs e ativistas radicais, em um texto ressentido e
equivocado, mas que não deixa de ser um elogio.
Quais são as implicações do surgimento
da chamada nova classe média do ponto de vista comunicacional?
As periferias são laboratórios de
mundos e a riqueza do Brasil. Não mais os pobres assujeitados e excluídos de
certo imaginário e discurso, mas uma ciberperiferia, a riqueza da pobreza
(disputada pela Nike, pela Globo, pelo Estado) que transforma as favelas,
quilombos urbanos conectados, em laboratórios de produção subjetiva. A carne
negra das favelas, os corpos potentes e desejantes, a cooperação sem mando,
inventando espaços e tempos outros (na rua, nos bailes, lanhouses e lajes),
estão sujeitos a todos os tipos de apropriação.É que as favelas e periferias
são o maior capital nas bolsas de valores simbólicas do país, pois converteram
as forças hostis máximas (pobreza, violência, Estado de exceção) em processo de
criação e invenção cultural. Além disso, o midialivrismo ganha força na
periferias, em projetos como a ESPOCC, Escola Popular de Comunicação Crítica da
Maré, Viva Favela, Agência Redes Para a Juventude, que formam comunicadores
populares e midiativistas.
Isso tudo é muito novo no Brasil.
O Rio de Janeiro serve de exemplo. É
um termômetro da difícil e paradoxal tarefa de calibrar essa euforia pós-Lula,
do presidente Macunaíma que turbinou a periferia, e os retrocessos no governo
Dilma, que trouxe os “gestores de subjetividade”, que revertem e monetizam a
potência das favelas e periferias para o turismo, corporações, bancos e para o
consumo.O que vemos na publicidade das UPPs, da Copa do Mundo e dos shoppings é
o que chamo de inclusão visual dos jovens negros ou da cultura da periferia.
Mas os mesmos jovens são mortos pela polícia como elementos “suspeitos” nas
favelas ou impedidos de entrar nos shoppings para dar um rolezinho.
A ascensão social de jovens das
periferias tem deixado parte da sociedade em transe. Eles estão no centro da
profunda transformação social…

As maiores publicações do país, como
Veja, Folha de S.Paulo, Estado de S. Paulo, TV Globo, vieram a público
explicitar seus critérios editoriais. Trata-se de uma resposta às inúmeras
críticas que a imprensa vem recebendo da população?
A mídia no Brasil parece querer
substituir o Estado de direito, se vê como braço do Estado, podendo, inclusive,
colocá-lo em crise a qualquer momento. Negocia denúncias, pessimismo e
otimismo, reputações.Mal disfarça a editorialização dos fatos. Mas o mais
preocupante é quando infundem o medo das ruas, da política, dos pobres, da
juventude, da “esquerda”. Interferem e direcionam fatos e investigações,
produzem histeria coletiva e ódio a grupos e movimentos sociais inteiros. Ao
mesmo tempo são espaços de controvérsias e disputas necessárias e estratégicas,
por isso repito sempre, critica a mídia? Odeia a mídia? Torne-se mídia!
A morte do cinegrafista Santiago
Andrade e a posterior perseguição de parte da imprensa aos blackblocs são um
sintoma de um discurso midiático perdido ou, ao contrário, posicionado
estrategicamente?
Já vimos essa historia da construção
de inimigos: os comunistas, os subversivos, maconheiros e agora os blackblocs,
a ameaça que vai destruir a democracia, a Copa, a moral e os bons costumes. É
redutor demais. Vidas são demolidas nesse jogo de demonização, como vimos na
repressão brutal da polícia aos manifestantes, nas prisões arbitrárias e
mortes, nas capas sensacionalistas da Veja e primeiras páginas e editoriais de
jornais e televisões.O nível de manipulação dos fatos foi grosseiro depois da
morte do cinegrafista da TV Bandeirantes. A lei que tipifica terrorismo, que
querem votar a toque de caixa, e a pauta do medo buscam esvaziar e mudar foco
das justas reivindicações para o comportamento dos manifestantes. E a mídia vem
legitimando a desproporcional repressão policial, pouco questionada nos
noticiários corporativos.Temos uma polarização das ruas contra a associação
Mídia-Estado-Polícia, um confronto que produz avanços e retrocessos.
A Mídia Ninja, que podemos chamar de
filha pródiga do movimento Fora do Eixo, nasceu e ganhou muita evidência
durante as manifestações de junho de 2013. A sra. vê a Mídia Ninja e suas derivações
como o futuro da comunicação?
Um dos efeitos dos protestos de 2013
no Brasil foi a explosão das ações midiativistas. A Mídia Ninja fez essa
disputa de forma admirável, amplificando a potência da multidão nas ruas. Ela
passou a pautar a mídia corporativa e os telejornais ao filmar e obter as
imagens do enfrentamento dos manifestantes com a polícia, a brutalidade e o
regime de exceção. O papel dos midialivristas e dos coletivos e redes de mídias
autônomas não pode ser reduzido ao campo do jornalismo, mas aponta para um novo
fenômeno de participação social e de midiativismo (que usa diferentes
linguagens, escrachos, vídeos, memes, para mobilizar). A cobertura colaborativa
obtém picos demilhares de pessoas online, algo inédito para uma mídia independente.
Nesse sentindo a comunicação é a própria forma de mobilização.
E o Fora do Eixo?
O Fora do Eixo é um laboratório de
experiências culturais e de invenção de tecnologias sociais radicais, que
conseguiu transformar precariedade em autonomia. Ele inventou uma forma de
viver coletiva e restituir o tempo que o capital nos rouba de uma forma que me
toca e mobiliza. As causas políticas que defendem são as minhas e as de muitos:
mídia livre, governança, democracia direta, combate a desigualdade e aos preconceitos,
defesa da vida, potencialização da autonomia, da liberdade, economia
colaborativa, invenção de mundos.

E isso tem muito a ver com as suas
pesquisas não se intimidam em enxergar novos dispositivos, conceitos e
instrumentais, redes sociais. Qual é a resposta que a sra. procura?
Antes de tudo, viver e lutar por uma
vida não fascista,no sentido colocado por Michel Foucault, de lutar contra o
“fascismo que nos faz amar o poder, desejar esta coisa que nos domina e nos
explora”. Quero experimentar uma vida menos “normopata”, uma erótica do contato
que restitua o prazer de vivermos juntos.Sou fascinada pelos dispositivos e a
forma como coevoluímos com eles, reinventando o social, produzindo novos
prazeres e angústias, sem deixar de perceber como também expropriam o nosso
tempo, nossa libido, nossa energia e nos colocam para trabalhar num novo regime
de exploração da vida, brutal.
Tudo isso está provocando uma mutação
antropológica. Acompanho e vivo de dentro esses atravessamentos. Recuso
transformar os conceitos em juízes das experiências, o intelectual “justiceiro”
que se vê ao largo, acima, distante dos fenômenos que analisa e estuda. Não
tenho mais objetos de estudo, mas parceiros que me estimulam. Fiz a passagem
para o que chamo deteoriativismo ou o tédio da erudição. No que faço está
implicado todo o meu corpo e a minha vida. Como diria Nietzsche, ignoro o que
sejam problemas puramente intelectuais.
Não lhe preocupa a difusão
generalizada de manifestações rancorosas, preconceituosas, de baixíssima
qualidade nas redes sociais?
As redes sociais têm tudo o que a
sociedade tem: discursos de ódio, racismo, preconceito, desinformação, mas
trazem a possibilidade veloz e massiva de combate e de embate. Não vejo os
jornais e a mídia supereditorializada como “mais qualificada”. Ao contrário, um
erro, uma distorção de análise, a manipulação de fatos, o sensacionalismo são
questionados nas redes e não nas redações… Se esse novo ambiente produz
venenos, ele cria com a mesma velocidade os anticorpos.
Há pouco, a sra. tangenciou o tema da
Copa do Mundo no Brasil. Qual a sua opinião sobre esse tema? #NãoVaiTerCopa é
algo a ser defendido?
O "Não-Vai-Ter-Copa" deixa irada a
direita, a esquerda clássica e o governo ao seu simples enunciado. Eles e a
mídia corporativa vão errar de novo, como erraram feio no inicio das
manifestações em junho de 2013, com a histeria repressora e condenatória. O
#NãoVaiTerCopa alarga o campo da democracia ao explicitar o dissenso, ao
arriscar pensar diante de um fato consumado e de um processo que colocou os
interesses empresariais, lobbystas e midiáticos acima dos direitos básicos. Vai
ter Copa sim, mas não vai ter a Copa sonhada pela polícia de ordenamento e pelo
ufanismo e desenvolvimentismo ultrapassado.

Tivemos um beijo gay numa novela
global, casamento entre homossexuais é defendido abertamente por jornais, novas
formações familiares passaram a ser aceitas. Já podemos comemorar ou ainda
falta muito para termos uma sociedade mais tolerante?

A sra. citou a necessidade de uma
sociedade menos patriarcal e machista. A mulher continua tendo muito mais
obrigações do que direitos.
Os homens continuam em pânico com a
autonomia das mulheres. Um dia sexo vai ser considerado modalidade esportiva e
prostituição (masculina e feminina), serviço e profissão de utilidade pública.
Essa era uma das causas da Gabriela Leite, mulher e ativista admirável que
criou a ONG Davida e a grife Daspu e morreu aos 62 anos. Moça de classe média
que escolheu ser puta.O deputado Jean Wyllys apresentou no Congresso o projeto
dela, que regulamenta a atividade dos profissionais do sexo. Uma causa que vale
uma vida. E além dos evangélicos e cristãos ainda tem feminista que é contra
regulamentar a profissão.
Tomo esse exemplo para dizer que as
lutas das mulheres passam por aceitar essas diferenças. Admiro as meninas do
funk que ressignificaram o feminismo nas favelas, ao fazerem a crônica sexual a
quente da periferia de forma explícita, como Tati Quebra Barraco, que considero
uma Leila Diniz dos novos tempos. Há os que pensam que ao se colocarem como
protagonistas da cena sexual, as meninas do funk só ocupam o lugar de poder dos
homens. Na verdade, é um discurso radical de autonomia e de liberdade que,
vindo das mulheres, subvertendo o sentido de “cachorras” e “popozudas”, coloca
o preconceito e o machismo de ponta cabeça. Vivemos um tempo difícil, mas
apaixonante.
A educação no Brasil melhorou ou
piorou durante a administração petista?
Melhorou e muito. Não tem comparação
os investimentos que foram feitos na educação pública e nas universidades
públicas no governo do PSDB e na administração do PT. Fiz concurso público e
comecei a dar aulas na UFRJ no governo de FHC e foram 8 anos de sucateamento
com as universidades à míngua. O governo Lula reinvestiu nas universidades
públicas criando 14 novas universidades federais e 100 campi pelo interior do
país e também investiu fortemente nas Escolas Técnicas e Institutos Federais. O
programa do Reuni de reestruturação do espaço físico, expansão das vagas e
criação de novos cursos foi vital para as universidades federais. Só a Escola
de Comunicação ampliou em mais de 30 o número de professores por concurso
público, ampliou vagas, contratou-se técnicos etc. Claro que existem problemas
nessa expansão, mas foi decisiva e mudou o cenário radicalmente.
Outras duas ações decisivas foram o
Prouni (que abriu 700 mil vagas para jovens nas universidades particulares) e
as cotas raciais e sociais, que trouxeram novos sujeitos sociais, vindos das
camadas populares, para dentro da universidade. Ao contrário dos que temiam os
defensores de uma abstrata “meritocracia”, que o nível de ensino iria “cair”,
que iria se “nivelar por baixo” para atender aos pobres, os cotistas
surpreenderam e o que estamos vendo é o contrário. A disputa na produção do
conhecimento feita por novos sujeitos políticos. Poderia ainda falar do Enem
que articulou a entrada unificada para a rede de universidades públicas. Hoje
recebemos na ECO estudantes de todo o Brasil.
Sobre o ensino básico e fundamental
acompanhei alguns debates e desafios enormes que precisam ser enfrentados,
entre eles o fato da escola fordista e disciplinar, a “creche da tia Teteca”, o
ensino sem corpo, sem desejo, sem participação dos estudantes ter se tornado
obsoleto e ineficaz. O desafio de diminuir drasticamente o analfabetismo no
país passa não só por mais investimento na carreira e salário dos professores,
mas por uma mudança de mentalidade, não dá mais pra insistir no modelo da
decoreba e do “vovô viu a uva” num contexto de ampliação de repertórios e de
universalização da cultura digital, em que oralistas dominam, sem passar pelo
letramento, a cultura audiovisual e digital.
A sra. votou em Dilma Rousseff? Qual a
sua avaliação do primeiro governo dela?
Votei na presidenta Dilma esperando
uma radicalização e aprofundamento das políticas iniciadas no governo Lula, mas
o círculo virtuoso se rompeu em diferentes pontos. Tivemos retrocessos absurdos
nas políticas culturais, enfraquecimento do Programa Cultura Viva, que deu
protagonismo à produção dos Pontos de Cultura, vinda das bordas e periferias,
retrocesso no diálogo com os movimentos sociais e culturais. O Brasil que
estava na vanguarda de alguns processos, com a estabilidade econômica e
emergência de novos sujeitos sociais e políticos pós-redistribuição de renda,
apresenta uma reconfiguração do campo conservador, minando todo um capital
simbólico e real construído.
Estou falando de projetos engavetados
como a Reforma da Lei dos Direitos Autorais, os retrocessos no Marco Civil para
a Internet, a Lei Geral das Comunicações, obsoleta e concentracionista, que
continua intocável, o plano de barateamento e universalização da Banda Larga
pífio, o retrocesso no Código Florestal, a inexistência de propostas para a
legalização do aborto e legalização das drogas.
O projeto nacional-desenvolvimentista,
fordista, da presidenta Dilma, que investe em automóvel, hidrelétrica,
petróleo, passando por cima da maior riqueza brasileira, que é seu capital
cultural, ferindo direitos, destruindo o meio-ambiente, é insustentável. O
maior paradoxo do desenvolvimentismo é querer transformar a cosmovisão
indígena, a produção da periferia, em “commodities”, faturar a riqueza
cultural, vender as favelas e sua cultura como pitoresco, os indígenas como
exóticos, a carne negra como produto desejável e fashion, mas deixar isolados e
sem autonomia esses mesmos sujeitos políticos, destituídos dos seus direitos,
assujeitados, ou tornados corpos dóceis.
Nesse momento, continuo filiada ao PT,
partido para onde entrei em 2011, no auge da crise do Ministério da Cultura,
com a nomeação catastrófica da ministra Ana de Hollanda. Entrei para criticar e
disputar de dentro avanços nas políticas públicas e para discutir as novas
relações de poder nas cidades, a emergência do trabalho informal e do
precariado em diferentes campos, a produção social que é a nova força de
transformação dentro do próprio capitalismo e para pensar a cidade e a
sociedade que queremos.
O governo Dilma é sustentado hoje por
uma coalizão conservadora. Então oscilo entre o hiperativismo pessimista (não
vai avançar, mas vamos tensionar ao máximo) e o otimismo crítico, que vai
guinar para esquerda, sob a pressão das ruas.
É com angústia que vejo o PT, partido
com a maior base social do Brasil, abandonar pautas e avanços históricos. Por
isso, estou no PT criticando de dentro, mas, ao mesmo tempo, faço parte do
conselho do mandato do deputado Jean Wyllys, parlamentar extraordinário. E
votei em Marcelo Freixo, ambos do PSOL. Acredito cada vez mais em frentes
suprapartidárias em torno das pautas e questões que nos interessam e na
transformação dos partidos e do Estado em redes de colaboração e num
Estado-Rede, co-gerido pela sociedade.

Ivana Bentes: Advertência para não confundir "inclusão social" com "intrusão social" (1)
Terça, 25 de março de 2014
Macunaima redivivo: Respeitosamente vândala
“Inocente, pura e besta”. É assim que
a ensaísta e professora Ivana Bentes diz ter chegado ao Rio de Janeiro, em
1980, família de comerciantes, sem sobrenome para ostentar, nascida em
Parintins, no Amazonas, e tendo passado a juventude em Rio Branco, no Acre. Foi
a entrada em uma universidade pública, a Escola de Comunicação (ECO) da
Universidade Federal do Rio de Janeiro, que mudou sua trajetória.
A entrevista é de Eduardo Nunomura,
publicada pela revista CULT, edição nº188, reproduzido pelo sitio da Unisinos.
Segundo ela, frequentar um espaço que
ainda forma uma elite não foi uma inclusão, mas uma intrusão social, daquelas
que fazem uma pessoa dar um salto astronômico. Foi naquele ambiente
universitário borbulhante de oportunidades e desafios que Ivana foi traçando
sua carreira profissional. Primeiro como redatora e ensaísta no Caderno Ideias,
do Jornal do Brasil, onde teve a oportunidade de se conectar com centenas de
escritores, intelectuais e pensadores. E antes escrevendo sobre cinema na
revista TABU,do Grupo Estação Botafogo, o icônico cinema carioca, que deu a ela
a chance de se formar cinematográfica e culturalmente e mais tarde protagonizar
polêmicas como a que lançou em torno do filme Cidade de Deus e sua “cosmética
da fome”. No Jornal do Brasil, entendeu o jogo de influência cultural, política
e de intervenção no mercado da mídia e suas engrenagens.

Nesta entrevista, Ivana Bentes discute
as novas diretrizes para os cursos de jornalismo, política e comunicação, o
midialivrismo, a sociedade em rede e as mutações pós-mídiasdigitais. Para ela,
se o capitalismo é comunicacional, a revolução terá que ser também midiática.
Ciente da importância do campo das Comunicações nos dias de hoje, para muito
além dos bancos universitários, a professora afirma que há momentos em que é
preciso sair do figurino acadêmico para poder se comunicar e falar para o
público fora da academia. Talvez por isso a jovem “inocente, pura e besta”
topou posar para a foto dessa reportagem numa pose que ela chama de
“respeitosamente vândala”.
A entrevista segue amanhã. Aguardem!
Firme como uma árvore - imprescindível!
José Oscar Beozzo, me junto à ação de graças
dos amigos pelos seus 50 anos de sacerdócio em prol de tantas causas que até
Deus já perdeu a conta. Você é um destes imprescindíveis, dos quais Brecht
fala. Firme como uma árvore no rio, unidos na ação de graças e nas causas que
estão pela frente,
Marcha à ré: Regressão sempre é possível, mas é doença mental!
Carnaval fora de época pede a volta dos militares ao poder
Vão dizer que a chamada Marcha era uma manifestação a favor da volta dos militares ao poder, mas aquilo tudo era engraçado demais pra ser levado a sério
Fonte: Carta Maior
Este 22 de março foi carnaval fora de época em São Paulo. Cerca de mil ou duas mil pessoas se reuniram na Praça da República entoando marchinas antiquadas, acompanhadas de cornetas militares e vestindo fantasias muito criativas. Alguns vão dizer que a chamada “Marcha da Família com Deus pela Liberdade” era uma manifestação a favor da volta dos militares ao poder, mas aquilo tudo estava engraçado demais pra ser levado a sério.
Passista (foto: Roberto Brilhante)
A música do trio elétrico na forma de caveirão foi bastante entediante: tocaram o hino nacional incessantemente, só mudando às vezes para uma versão forró, bem mais divertida, mas que os passistas sempre gritavam para que fosse tirada, afinal, acho que aquela brincadeira de desfile militar não combinava muito com um xote do hino. E tinha fantasia para todos os gostos: de padre, de latifundiário, e até de velhinhas e velhinhos moralistas da Marcha ocorrida há 50 anos (e um cheiro estranho denunciava que, de fato, alguns participaram da antiga marcha e vivem desde de então conservados e conservadas em grandes banheiras de formol)
Caveirão Trio-Elétrico (Foto: Roberto Brilhante)
O governo de São Paulo pagou para que muitos policiais participassem do carnaval devidamente fardados e armados. Eles não entoavam as marchinhas contra o comunismo e o PT, mas sambavam um samba do coturno ao som dos cânticos dos manifestantes que cantavam “queremos militares protegendo o Brasil.”
Os cartazes pareciam saídos dos comentários reacionários dos portais de notícias: “Dilma Vá pra Cuba que a Pariu”; “Pelo Fim da Comissão da Verdade”; “Contra a Ditadura (!!!) na Internet: Não ao Marco Civil”; “fora urna eletrônica”; “Nossa Senhora, Salvai-nos do Comunismo.” Tudo isso arrancava gargalhadas de alguns cidadãos que estavam pelas ruas, mas que cobriam a boca com receio dos passistas fardados e/ou fantasiados.
Uma figura icônica da internet estava lá também, Leonardo Sakamoto caminhou tranquilamente (ou não tão tranquilamente assim) entre os passistas. Um grupo de carecas mal encarados maldiziam o jornalista, ao que perguntei, como se não soubesse quem era:
- Quem é o japonês de óculos do Matrix?
- É o Sakamoto, aquele porco comunista que anda de Ferrari.
- É o Sakamoto, aquele porco comunista que anda de Ferrari.
Enfim, continuemos. Perguntei ao motorista do trio-elétrico-caveirão em quem ele havia votado na última eleição, ao que ele me respondeu, com um sotaque nordestino e um sorriso cúmplice no rosto “não votei em ninguém…” Os passistas pareciam não entender porque o povo continua a votar nos “comunistas”, que ao que as pesquisas indicam têm grandes chances de vencerem as eleições presidênciais no primeiro turno.
Como diria o velho Bukowski “as pessoas saem do pátio do colégio, mas o pátio do colégio não sai de muitas pessoas”, e o carnaval de hoje em São Paulo mostrou como muitos ainda criam fantasmas de comunistas comedores de criancinhas para neles projetar suas frustrações da mais tenra infância. E ainda bem que hoje, ao que tudo indica, podemos gargalhar disso.
Mais fotos:
Vai tomar no... nem todo mundo achou esse carnaval tão engraçado (foto: Roberto Brilhante)
Só para conversão à esquerda (foto: Roberto Brilhante)
Há quem diga que os militares estão saindo da linha (foto: Roberto Brilhante)
Perigo à esquerda (Foto: Roberto Brilhante)
Manifesto de Cientistas pela Defesa de Nossos Rios
Porto Alegre - Um grupo de 100
pesquisadores brasileiros da área do meio ambiente, de universidades e
instituições de vários Estados do Brasil, encaminhou sexta-feira (14) à
Presidência da República e aos ministros do Meio Ambiente e de Minas e Energia,
o Manifesto de Cientistas pela Defesa de Nossos Rios. A data foi escolhida pelo
fato de 14 de março ser o Dia Internacional de Ação Pelos Rios.
O objetivo dos pesquisadores é
chamar a atenção do governo para a “necessidade de políticas públicas
eficientes que garantam a continuidade de manutenção da vida diversa, incluindo
aqui as culturas humanas tradicionais dos ribeirinhos, e os remanescentes de
ecossistemas fluviais e de sistemas associados, como as matas ciliares, por
exemplo, diante do crescimento praticamente indiscriminado de empreendimentos
hidrelétricos no Brasil”. O documento manifesta preocupação com a possibilidade
de que 100 mil pessoas sejam atingidas no País, nos próximos anos, por
hidrelétricas, sendo que 15% dos atingidos seriam integrantes de povos
indígenas, especialmente na região amazônica, como é o caso de Belo Monte (PA).
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Belo Monte: Recordes desastrosos |

O manifesto também chama a atenção
para o fato de que cerca de 2/3 dos projetos de grandes, médias e pequenas
hidrelétricas está incidindo justamente no Mapa Oficial das Áreas Prioritárias
para a Conservação da Biodiversidade. Mesmo o mapa das áreas definidas como de
“extrema importância” possui cerca de um quarto dos projetos de hidrelétricas
previstos para os próximos anos. Os pesquisadores criticam a postura dos
ministérios do Meio Ambiente e de Minas e Energia que estariam evitando debater
essa contradição, “ainda mais em um momento de crise de energia elétrica, que
também é reflexo do débil planejamento em alternativas de menor impacto
(energia eólica, biomassa e energia solar)”.

[Fonte:
Na íntegra em: Carta Maior,
Marco Aurélio Weissheimer]
Manifesto
de Professores e Cientistas no Dia Internacional de Ação pelos Rios em sua
íntegra:
Manifesto de Cientistas pela Defesa de Nossos Rios
Manifesto de Cientistas pela Defesa de Nossos Rios
Terra Sagrada e a transposição do Rio São Francisco
Por
Renata Bessi,
especial para a Repórter Brasil
Cabrobró
(PE) e Floresta (PE) - “Você pode mudar da sua casa para outra facilmente. Mas
os Truká e qualquer outro povo indígena não têm como levar seus encantados
dentro de carro, de canoa ou guardar dentro de uma casa, porque eles estão lá
na terra, na mata, na natureza”. Foi assim que o cacique do povo Truká, Aurivan
dos Santos Barros, o Neguinho Truká, explicou a relação de seu povo com a terra
durante audiência para demarcação de seu território. Questionado por um
procurador de Pernambuco, que sugeriu como solução do impasse territorial a
possibilidade de os indígenas mudaram-se para outras terras, ele falou sobre a
relação sagrada entre o território e todos os elementos que o compõem, como
rios, riachos, lameiros, barreiros, baixios, morros, serras.

![]() |
Expedito, pajé dos Pipian |
O
povo Truká, com sua maneira própria de construir sociabilidade e significar o
mundo, vive na Ilha de Assunção, nas águas do rio São Francisco, em Cabrobó,
sertão de Pernambuco, a 590 quilômetros de Recife. A ilha é composta por 25
aldeias que levam nomes de pássaros, árvores, flores, sementes. Até agora os
indígenas conseguiram a demarcação de parte das suas terras. Estão em processo
do que chamam de retomada do seu território.
Continue a leitura:
Na Repórter Brasil: https://medium.com/p/73498f0dada8
Adeus à pesca na região de Belo Monte
No
leito do rio já se percebe a diminuição do fluxo das águas ao ponto de pequenas
embarcações terem dificuldades na navegação. Em algumas áreas, isso já é
impossível.
A
reportagem é de Anderson Barbosa,
publicado por Rede Brasil Atual - RBA,
Reproduzida
por Unisinos, 11-03-2014.
Pedras
acumuladas ao longo do tempo, postas cuidadosamente umas sobre as outras pela
força das águas, formando esculturas, seriam um espetáculo de beleza, não fosse
a exposição fruto da queda do nível do rio.
Não
se trata apenas do fluxo que naturalmente, durante uma época do ano, diminui
sua vazão. Os peixes desapareceram do rio, com um impacto econômico drástico na
atividade pesqueira da região.
Raimundo
Campos da Silva, 53 anos, casado, pai de 7 filhos. Representante da terceira
geração de pescadores da região de Altamira, no estado do Pará, é um dos que
sofrem na pele estes impactos. Desde o início das obras da hidrelétrica de Belo
Monte, no rio Xingu, até hoje, nenhum pescador, bem como a maioria das famílias
que sofreram com a construção, foi indenizado.
Além
dos danos provocados por Belo Monte, em breve podem ter início as obras da Belo
Sun Mining Corporation, uma mineradora canadense que tem o maior projeto de
extração de ouro do Brasil, com previsão de produzir uma média anual de 4,6
toneladas, na mesma região da Volta Grande, o que pode causar outros impactos
na pesca.
Durante
quatro dias com seu Raimundo, imerso no rio Xingu, percebem-se os impactos
causados na rotina do rio e de quem vive dele. Antes, seu Raimundo pescaria 130
quilos de peixe, mas, agora, não consegue mais que 10 quilos.
Raimundo,
de fala mansa, que gosta de um brega e vibra ao ouvir Roberto Carlos, está
descrente com o futuro da pesca em Altamira. O que alimenta sua esperança é a
indenização de sua casa, no bairro Invasão dos Padres, uma vila de palafitas
que ficará permanentemente alagada após a barragem definitiva do rio. Com a
indenização ele pretende ir embora para o estado do Amazonas, comprar um novo
barco, construir uma nova casa e recomeçar a vida, seguindo com a pesca. Por
enquanto, agora na época da desova e pela proibição do Ibama, seu Raimundo e
outros pescadores sobreviverão por quatro meses de um salário mínimo, uma
conquista adquirida há alguns anos por lutas dos pescadores.
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