Com a presença de 120 missionários e missionárias, além de lideranças indígenas e convidados, o Cimi realizou sua XX Assembleia Geral, no Centro de Formação Vicente Cañas, em Luziânia (GO), entre os dias 5 a 8 de novembro. O evento tem como tema ‘40 anos do Cimi: desafios e perspectivas na construção do Bem Viver’.
“O encontro acontece num contexto de grande ofensiva aos
direitos dos povos indígenas pelo governo federal e pela bancada ruralista no
Congresso Nacional. Este ano tem sido de resistência do movimento indígena e
das organizações que os apoiam. Precisamos, então, olhar para o passado, agir
no presente e nos preparar para o que virá”, declarou o secretário executivo do
Cimi, Cleber Buzatto.
“O indigenismo do Cimi é libertador, em oposição ao
indigenismo de tutela do Estado. Em âmbito nacional existem 32 conselhos e duas
comissões nacionais: a de Desenvolvimento Sustentável dos Povos e Comunidades
Tradicionais (CNPCT) e a de Política Indigenista (CNPI). Por que apenas estas
duas não obtiveram o status de conselho?”, questiona o missionário Saulo
Feitosa, secretário adjunto do Cimi.
O tema da XX Assembleia aponta para a finalidade do Cimi:
ajudar manter ou voltar ao Bem Viver dos povos indígenas. Esse bem viver passa
pela defesa de seus territórios e pelo respeita às suas culturas.
Em entrevista a Unisinos, o assessor teológico caracterizou alguns
aspectos desse Bem Viver:
Quais são os aspectos centrais da concepção indígena do Bem Viver?
Os aspectos centrais da concepção indígena do Bem Viver
podemos resumir com cinco palavras-chave: utopia, comunidade, harmonia,
simplicidade e ruptura. O Bem Viver (sumak kawsay) é uma utopia, muito próxima
à utopia do Reino de Deus que em sua plenitude é escatológica. A utopia é
crítica face à situação atual, com suas ideologias, falsas promessas e
alienações e, como tal, não é um retrato de uma sociedade ao alcance de todos e
todas aqui e agora, mas um dispositivo no imaginário da humanidade que faz as
pessoas caminhar rumo a um futuro almejado e possível para todos e todas. Em
doses homeopáticas e na simplicidade da vida cotidiana em comunidade, esse
futuro já se revela na energia e na harmonia comunitárias, no viver como
conviver e na ruptura (Patchakutik) com as patologias sistêmicas.
Como foi a origem dessa longa caminhada?
Iniciamos essa caminhada com “Consultas Latino-Americanas de
Pastoral Indígena”. Percebemos que Brasil precisa caminhar em sua pastoral
indigenista junto com os países, nos quais os povos indígenas representam um peso
populacional maior. Tomamos contatos com as pastorais indígenas dos outros
países e, em 1983, em Brasília, realizamos a Primeira Consulta Latino-Americana
de Pastoral Indígena, com a participação de 15 países. Seguiram outras
consultas e realizamos cursos do Norte ao Sul do Continente que mais tarde
cederam lugar aos encontros de Teologia Índia. Percebemos que o protagonismo da
Pastoral Indígena deve ser cada vez mais dos próprios povos indígenas e estes
transformaram “nossa” pastoral indígena em “sua” teologia índia.
O primeiro Encontro Continental de Teologia Índia se
realizou no México (1990) e trabalhou: “A metodologia da Teologia Índia”; o
segundo aconteceu no Panamá (1993) e refletiu sobre “A experiência de Deus nos
projetos de vida de nossos povos”; o terceiro, na Bolívia (1997), teve como
tema: “Sabedoria indígena, fonte de esperança”; o quarto, no Paraguai, (2002),
se colocou “Na busca da terra sem males”; o quinto, realizado no Brasil (Manaus
2006), dialogou sobre “A força dos pequenos, vida para o mundo”; o sexto, se
celebrou em El Salvador (2009) e discutiu a “Mobilidade humana, desafio e
esperança para nossos povos indígenas” e o sétimo encontro foi realizado, com a
participação de 250 líderes indígenas, no Equador (2013), onde se aprofundou o
tema “Sumak kawsay e vida plena”. O VIII Encontro Continental de Teologia
Índia, provavelmente, vai ser celebrado na Argentina.
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